segunda-feira, 24 de setembro de 2012

SURA AL-FATIHA: oração diária dos mulçumanos.

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  Mapparium ®

 

Um só Deus infinito, o bem, unifica homens e nações; constitui a fraternidade dos homens; põe fim às guerras; cumpre o preceito das Escrituras: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”[…].

Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de   Mary Baker Eddy

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Sura Al-Fatiha:

oração diária dos mulçumanos

 

Um traço essencial de qualquer religião é o que se pode chamar de “divino”, ou, em outras palavras, uma realidade que é maior do que  o humano. A forma como esta realidade é definida no islamismo e a maneira como Deus é concebido e como seus devotos se aproximam dele nos dão um compreensão mais clara desta tradição.

De acordo com o islamismo, Deus, numa expressão de sua infinita misericórdia e preocupação com a humanidade, revelou no Alcorão (Quram) sua vontade e sua orientação sobre como viver no mundo – é neste texto sagrado que é tornada explícita sua aterradora presença: “Deus é aquele que erigiu os céus sem apoio, como se pode ver, e depois sentou-se em seu trono e sujeitou o sol e a lua à sua vontade. […] Ele regula todos os assuntos” (Sura 13: 2).

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    A primeira Sura do Alcorão

 

O islamismo  concebe Deus como aquela realidade da qual emanam todas as coisas. O termo para designar Deus no Alcorão é Alá (Allah), que significa, simplesmente, “o [único] deus” (al-ilah): “Deus atesta que não há deus senão ele, como o atestam os anjos e os que possuem conhecimento. Ele só age com justiça. Não há deus senão ele, o Todo-poderoso, o Todo sábio” (Sura 3:18).

A relação entre mulçumanos e Deus é animada por três princípios que derivam diretamente do Alcorão. O primeiro princípio, tawhid,   poderia ser traduzido simplesmente como “unidade de Deus”.

Segundo esta ideia islâmica central,   ele é absoluta e inevitavelmente Um, uma unidade perfeita, único em si mesmo. Mas uma tradução mais exata seria “afirmação da unidade divina”, o que engloba a responsabilidade crucial dos mulçumanos de impregnar sua fé (iman) e sua prática (islam) com sua crença na terrível justiça e unidade do divino. Assim, a tawhid (“unidade divina”) torna-se um chamamento a uma vida solícita e piedosa.  […]

Fonte: Conhecendo o Islamismo: origens, crenças, práticas, textos sagrados, lugares sagrados de Matthew Gordon, Editora Vozes, 2009.

 

A primeira Sura do Alcorão

A Sura Al-Fatiha "A Abertura" (em árabe: الفاتحة), é o primeiro capítulo do livro sagrado dos muçulmanos, o Alcorão. Seus sete versos são uma oração por orientação divina e um louvor ao senhorio e a misericórdia de Deus. Este capítulo tem um papel especial nas tradicionais orações diárias, por ser recitado no início de cada unidade de oração, ou rak'ah.  

 

Sura Al-Fatiha em Alfabeto Árabe

بسم الله الرحمن الرحيم
الحمد لله رب العالمين
الرحمن الرحيم
ملك يوم الدين
اياك نعبد واياك نستعين
اهدنا الصرط المستقيم
صراط الذين انعمت عليهم غير المغضوب عليهم ولا الضالين

 

Só o texto árabe original,  revelado ao profeta  Maomé, é chamado de Alcorão (Corão). As traduções em outros idiomas são tratadas pelos muçulmanos apenas como interpretações, porque não há certeza se o tradutor entendeu direito a Palavra de Deus.

 

Transliteração

Bismillāhi r-rahmāni r-rahīm
Al-hamdu li-llāhi rabbi l-ʿālamīn
Ar-rahmāni r-rahīm
Māliki yawmi d-dīn
Iyyāka naʿbudu wa iyyāka nastaʿīn
Ihdinās ṣirāṭ al-mustaqīm
Ṣirāṭ al-laḏīna anʿamta ʿalayhim ġayril maġdūbi ʿalayhim walā ḍ-ḍāllīn.
 
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

 

Dargah Dastageer Sahab, antiga mesquita de Caxemira - subcontinente indiano hoje dividida entre a Índia e o Paquistão.

 

A Sura Al-Fatiha em português

 

Em nome de Deus, o Misericordioso, o Compassivo,

Louvado seja Deus, o Senhor de todo o ser.

O Misericordioso, o Compassivo.

Soberano do dia do Juízo.

Somente a ti servimos,

Somente a ti imploramos ajuda.

Guia-nos no caminho reto.

O caminho daqueles que abeçoaste.

Não daqueles que desaprovas,

Nem daqueles que se extraviam.

 

Comentário

Declaração sucinta, a sura de abertura do Alcorão comunica ideias da tradição islâmica ”Senhor de todo ser (ou ‘dos mundos’)”, está acima do mundo e é totalmente distinto dele. Neste sentido, os atributos a Ele conferidos só podem dar uma ideia aproximada de suas qualidades de misericórdia, compaixão e poder criador. No entanto, por mais que esteja distante, Ele está sempre presente e atento, e assim a única resposta apropriada é o louvor e e adoração.

A sura deixa claro também que os seres humanos devem assumir a responsabilidade pelas opções a eles apresentadas. Podem optar por adorar a Deus ou, como diz a sura, permanecer “no caminho” e assim receber orientação divina, ou então podem aventurar-se para longe, seja por descuido ou por deliberada recusa a aceitar essa orientação.

Inúmeros versículos do Alcorão associam Deus à orientação que Ele proporciona e muitos insistem na imagem do caminho reto. Assim, essa imagem aparece em toda a literatura islâmica, tanto exegética como de outro tipo. Nas palavras do próprio Alcorão, o Caminho é a senda das trevas para a luz. Em outras passagens é descrito como o caminho pelo qual andarão todos os seres no dia da ressureição.

Neste caso, é descrito como uma ponte estreita como um fio de navalha, estendida sobre as chamas do inferno, que somente os justos podem ter esperança de atravessar sem cair nas profundezas.

A Surat al-Fatiha é comparada muitas vezes, tanto por seu conteúdo quanto pelo uso diário, com a Oração do Senhor (Pai-nosso) na tradição cristã. Texto curto, é facilmente memorizado na infância e depois recitado pelos mulçumanos em todas as fases da vida.      

Neste sentido, é uma das diversas fórmulas verbais e expressões – curtas ou longas – que pontuam a fala dos mulçumanos. Uma expressão comum é al-salamuallaykum ou “paz a ti”, saudação típica usada  apenas entre mulçumanos.

 

Fonte: Conhecendo o Islamismo: origens, crenças, práticas, textos sagrados, lugares sagrados de Matthew Gordon, Editora Vozes, 2009.

Matthew Gordon  é professor associado no Departamento de História da Miami University em Oxford, Ohio.

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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

AS TRÊS GERAÇÕES DO CRISTIANISMO PRIMITIVO

 

 

As três gerações

do Cristianismo primitivo

 

As três gerações cristãs primitivas, referem-se  às primeiras comunidades desde sua origem após a paixão, morte e ressureição de Jesus até a redação do último escrito do Segundo Testamento, em torno do ano 140. Todo esse tempo pode ser dividido em três etapas.

 

A primeira é conhecida como época apostólica. É a primeira geração de seguidoras e seguidores de Jesus de Nazaré. São aqueles que conheceram Jesus ou que aderiram a ele ainda nos primeiros anos do movimento cristão. A época apostólica vai  desde o ano 30 até em torno de 67, quando provavelmente os primeiros seguidores de Jesus já haviam morrido ou haviam sido mortos.

Esse período apostólico(entre 30 e 67) pode ser dividido em dois momentos claramente distintos. O primeiro é anterior à assembleia de Jerusalém em 49, também  conhecida por concílio de Jerusalém. Tal como do tempo de Jesus, não temos nenhum escrito bíblico desse período. O que sabemos, além das informações do historiador judeu Flávio Josefo, vem de escritos posteriores.

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O lavatório – Tintoretto

 

O segundo momento da época apostólica vai desde o concílio de Jerusalém até em torno de 67. É o tempo áureo da missão de Paulo e sua equipe pastoral.

O segundo período das comunidades primitivas é a chamada época subapostólica. É o tempo da segunda geração de cristãos. Esse tempo corresponde aos anos que vão desde, mais ou menos, 67 até por volta de 97, quando então inicia o período pós-apostólico, isto é, a terceira geração de comunidades cristãs.

A primeira geração de cristãos pertencentes às comunidades    que mais tarde deram origem ao Evangelho de Mateus certamente viveram inicialmente na Judéia. Entre os apóstolos, Pedro é seu grande protagonista.

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Anthonis van Dyck - Die Ausgießung des Heiligen Geistes

 

Entre os evangelhos, é  Mateus quem mais importância dá à figura de Pedro (Mt 16:17-19).  Ao copiar de Marcos a profissão de fé de Pedro (Mc 8:27-30), Mateus acrescentou os versículos 17-19. De fato, Mateus é o  Evangelho das comunidades de herança dos apóstolos e familiares de Jesus.

Chamados de comunidades de Tiago aquelas que foram fundadas pelos apóstolos como Pedro, ou que atribuem sua origem a eles. Um dos líderes importantes dessas igrejas foi Tiago, irmão de Jesus (Gl 1:18-19; 2:9; At 15:6-21). Quando ele foi martirizado em 62, seu irmão Judas o substituiu na direção das igrejas de Jerusalém.

Diferentemente das comunidades de herança paulina, eram igrejas em que as pessoas vindas do Judaísmo eram a grande maioria. A tradição judaica ainda ocupava um lugar central. Estavam ainda muito ligadas à observância da Lei.

Podemos classificar como herança das igrejas dos apóstolos e de Tiago o Evangelho segundo Mateus, a Carta de Tiago e a Carta de Judas. Tanto Tiago como Judas além de  familiares de Jesus(Mc 6:3) dirigiam as comunidades de Jerusalém.

 

O Evangelho Segundo Mateus

Cada  evangelho teve sua   redação a partir da compreensão sobre a pessoa de Jesus de quem o escreveu. Mateus vê Jesus como Emanuel, o Deus-conosco no mundo e na história para nos ensinar o caminho da justiça. É, junto com o mestre da justiça, que podemos construir um mundo melhor.

 

Data, local e destinatários

O Evangelho de Mateus foi escrito no final dos anos 80 d.C. Certamente, as comunidades que o editaram viviam na Palestina, talvez na Galileia, numa região em que predominavam igrejas formadas por pessoas de origem judaica.

Com a guerra judaico romana, muitos membros  dessas comunidades da Judéia mudaram-se para a direção da Galileia, Síria ou outros lugares. Essa imigração se intensificou com a perseguição sofrida por parte de lideranças das sinagogas nos anos 80 e 90.  Nessa época, os judeus-cristãos foram expulsos das sinagogas pelos rabinos fariseus que passaram a liderar o Judaísmo a partir de 70. Muitos cristãos da Judéia devem ter se estabelecido na Galileia e na Síria.

Observa-se também  no Evangelho de Mateus, além do conflito com a sinagoga, tensão com cristãos vindo de outras  culturas. Como no caso das comunidades paulinas que defendiam uma nova justiça divina, dada gratuitamente por Deus a quem crê em Jesus.

Confira ainda algumas das seguintes citações e perceba como as comunidades destinatárias de Mateus são formadas por pessoas sem terra (5:1-5), desempregadas(20:1-16), migrantes(2:13-23; 4:13-16 , 24-25; 19:1), perseguidas(5:10-12; 23:13-32) e pobres(11:25-26; 6:25-34; 15:32; 25:31-46).

 

Autores e fontes

Seus autores devem ser escribas judeus-cristãos, convertidos ao cristianismo (Mt3:52).  Em meados do segundo século, os pais da Igreja homenagearam Mateus(Mt 9:9; 10:3), atribuindo a ele este evangelho. Ao agirem desta forma, queriam colocar a obra sob a autoria de um discípulo de Jesus.

Os autores deste Evangelho, isto é, a escola dos rabinos cristãos, naturalmente eram profundos conhecedores das Escrituras judaicas. O texto que usaram para fazer transcrições para seu escrito é da versão grega das Escrituras, a Septuaginta. Além  do Evangelho de Lucas e Marcos, como texto-base. Bem como a fonte “Q”, inserindo 230 versículos desta obra.

 

Fonte “Q”

Na pesquisa bíblica, existe uma hipótese de que houve na Galiléia uma corrente cristã que apresentava Jesus como um Messias sábio e mestre. Essa tendência valorizava seus ditos, suas palavras e seu ensino. Não davam tanto valor à sua paixão, morte e ressureição. Seria um movimento ligado a círculos sapienciais que, apesar de seu radicalismo em seguir de perto o mestre, apresentam um Jesus que não incomoda as instituições opressivas da época. 

Segundo a hopótese, e há evidencias literárias para isso, essa corrente cristã teria produzido o documento “Q”. É assim chamado, porque esta é a primeira letra da palavra alemã Quelle (fonte).

Até hoje, pelo menos, nada a respeito foi encontrado. Se existiu, está perdido. Essa fonte seria o segundo documento usado por Mateus e Lucas  ao escreverem nos anos 80  d.C. O primeiro foi o Evangelho de Marcos cujo material já era conhecido há uns 15 anos antes. O conteúdo da fonte “Q” seriam os textos comuns a Mateus e Lucas, porém ausentes em Marcos.

 

Comentário final

Convém destacar, que um dos objetivos de Mateus é deixar claro que o Evangelho é para todos os povos na medida em que o centro dessa universalidade seja o Judaísmo. Os demais povos devem “vir do oriente e do ocidente e se assentar à mesa do Reino dos Céus com Abraão, Isaac e Jacó” (Mt 8:11).

As igrejas mateanas estão abertas as pessoas de outras culturas, apresentando Jesus como Emanuel - “Deus  conosco” (Mt1:23).

 

Fonte:

1. BOCCACCINI, Gagriele. Além da hipótese essênica: a separação dos caminhos entre Qumran e o judaísmo enóquico. São Paulus, 2010.

2. STORNIOLO, Ivo. Como ler o Evangelho de Mateus. São Paulo: Paulus. (Série “Como ler a Bíblia”).

3. GASS, Ildo Bohn. As comunidades da segunda geração cristã. São Leopoldo: CBEI (Curso Bíblico por Correspondência: Módulo 12).

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terça-feira, 11 de setembro de 2012

MARY BAKER EDDY: SUA LIDERANÇA CONTÍNUA.

 

 

Sem título - Cópia

 

MARY BAKER EDDY: sua liderança contínua

Allison W. Phinney

 

Algumas vezes com apreço, outras de maneira incisivamente crítica, jornalistas, estudiosos, e outros observadores têm frequentemente analisado a forte liderança e inteligência de Mary Baker Eddy.

Em um processo judicial movido contra Mary Baker Eddy, quando já estava com oitenta e sete anos, um respeitável promotor público foi levado a constatar, meio a contra gosto: “A Sra. Eddy estava mais afiada do que uma armadilha de aço” (Reminiscência de Minnie A. Scott, The Mary Baker Eddy Collection,  The Mary Baker Eddy Library [Biblioteca Mary Baker Eddy]).

Os Cientistas Cristãos podem certamente compreender o que esse promotor estava falando! Entretanto, eles não estão propensos a se identificar com esse ponto de vista.

A razão não se deve apenas ao fato de que ele representava a parte oposta, mas também devido ao fato de que os Cientistas Cristãos não tendem a analisar a inteligência de Mary Baker Eddy sob aspectos pessoais.

As curas que vivenciamos pouco têm a ver com a mente humana. Referem-se a uma crescente compreensão de que tudo é Mente divina, não matéria. Fomos apresentados a esse Espírito ou Mente, não como uma doutrina ou ideal abstrato, mas como uma presença maravilhosamente amorosa.

Mary Baker Eddy [1821-1910]: Líder religiosa. Descobridora e fundadora da Ciência Cristã (Christian Science). Autora do Livro Texto da Ciência Cristã: “Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras”. Pastora Emérita de A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, em Boston  Massachusetts, A Igreja Mãe. Presidente do Massachusetts Metaphysical College.   Autora do Manual da Primeira Igreja de Cristo, Cientista - A Igreja Mãe, em Boston Massachusetts. Fundadora do Jornal The Christian Science Monitor e da revista O Arauto da Ciência Cristã.

 

De fato, o que é percebido como o terno cuidado de Deus, quando alguém é curado pela Ciência Cristã, está relacionado com a suprema realidade de Deus, que é o próprio Amor, como nos ensina o Novo Testamento.

Reconhecidamente, ainda estamos aprendendo sobre tudo isso, mas a Ciência do Cristianismo nos guia continuamente para uma compreensão mais profunda. […]

 

Allison W. Phinney é Praticista e Professor de Ciência Cristã, domiciliado em Boston, Massachusetts, EUA. Ele foi Presidente de A Igreja Mãe de junho de 2009 a maio de 2010.

O artigo completo MARY BAKER EDDY: sua liderança contínua, da série O segundo século da Ciência Cristã  pode ser lido na revista O Arauto da Ciência Cristã: fevereiro de 2011, ano 61, nº 02, páginas 24-27. Publicada pela The Christian Science Publishing Society©, edição em português - impressa e PDF.

 

                                                        O Arauto da Ciência Cristã: Ano 61, nº 02

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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

JOÁS O REI DE JUDÁ: uma contextualização histórica e geográfica

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Joás rei de Judá:

uma contextualização histórica e geográfica

 

Poder descentralizado

Você certamente já leu Ex 18:1-27 e percebeu como a proposta de exercer o poder de forma mais democrática e participativa faz parte do projeto das tribos, cuja memória  foi cultivada com muito  mais vigor pelos grupos de resistência no Norte. Não foi por acaso que em Israel, diferentemente de Judá, houve muito mais alternância no poder e forte mobilização popular liderada pela profecia.

 

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Tabela 01       Serviço de Animação Bíblica – Editora Paulinas

 

A artificial unidade Norte/Sul do povo de Israel ruiu após a morte de Salomão. As pessoas indignaram-se muito com a pesada carga tributária de Salomão, e queriam que o sucessor ao trono se ocupasse em amenizar a carga que tinham aos ombros. O povo reclama de  Roboão contra o pesado jugo posto anteriormente por Salomão, mas o sucessor de Salomão não está disposto a ouvir as reclamações do povo, e resolve dificultar ainda mais as coisas.

Tabela 02    Serviço de Animação Bíblica – Editora Paulinas

 

Tudo indica que o novo rei sulista teve um problema de assessoria. Seus conselheiros lhe recomendaram ser duro com o povo para impor respeito, mas o tiro saiu pela culatra. O Norte decide aclamar Jeroboão  como rei, e a unidade do povo de Israel foi irremediavelmente rompida.

O Reino do Norte criará uma tradição de golpes e dinastias que pouco duram, enquanto o Reino do Sul encontrará um pouco mais de estabilidade na dinastia davínica.

O Reino do Norte sucumbirá sob o poderio assírio no século VIII a.C., e o Reino do Sul durará até o século VI a.C., por ocasião dos babilônicos.

A história  dos Reinos do Norte(Israel) e do Sul(Judá)  pode ser dividida nos seguintes períodos

1. Desintegração do Reino de Davi (975-884 a.C.)

2. Período Sírio (884-839 a.C.)

3. Restauração de Israel (839-772 a.C.)

4. Queda de Israel (772-721 a.C.) 

5. Queda de Judá (721-586 a.C.)

Obs:: comentaremos nesta postagem somente o 1º e 2º períodos.

 

1. Período de desintegração

O período de desintegração se caracterizava principalmente pela luta entre os três reinos da Síria, Israel e Judá, pela supremacia, e compreendia os reinados de Jeroboão a Jeú, em Israel, e de Roboão até Joás, em Judá.

Durante a primeira parte deste período, Judá e Israel estavam constantemente em conflito, porém o crescente poderio da Síria obrigou esses povos rivais a se tornarem aliados contra o inimigo comum.

2. Período Sírio

Esse período começou com três revoluções no mesmo ano, isto é, em Damasco, Samaria e Jerusalém, nas quais Hazael se apoderou da Síria, Jeú de Israel e Atalia, a rainha-mãe, de Judá.

Pouco depois de haver iniciado seu reinado, Hazael voltou sua atenção para o sul com olhares de conquista. Conseguiu subjugar as tribos transjordânicas e depois reduziu Israel a vassalo, tomou Gade, e só a entrega de um forte tributo impediu o cerco a Jerusalém (1Rs 12:17-18 e 2Cr 24:23-24). 

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 Reino de Israel (Norte): 

A dinastia de Jeú (841-753 a.C.)

Em 841 a.C., Jeú, chefe dos carros de gerra, promoveu sangrenta revolta, apoiado pelo movimento profético de Eliseu. Para garantir o poder do novo grupo, tomou algumas medidas políticas e religiosas.

É curioso notar que o profetismo aparece justamente com a monarquia, quando há troca do Sistema Tribal pelo Sistema Tributário: ao lado do rei temos o profeta. Com Samuel ao lado de Saul e Davi (Reino do Sul – Judá) no séc. XI a.C., temos início uma longa corrente de personagens que se sucedem até o exílio na Babilônia, no séc. VI a.C.

Contudo, foi no Reino do Norte, Israel, que a corrente profética tornou-se primeiramente expressiva, a partir do séc. IX, progressivamente se alastrando depois para o reino do Sul, ou Judá.    

Tabela 03        Serviço de Animação Bíblica – Editora Paulinas

 

- Primeiras políticas religiosas de Jeú:

Jeú eliminou todos os parentes de Jorão, inclusive a família do rei do Sul, parente das dinastias do Norte (2Rs 9:16-10, 14).

Fez aliança com os recabistas. Os descendentes de Recab levavam uma vida nômade e se recusaram a morar em casas e praticar a agricultura. Era uma forma de protesto contras os males introduzidos em Israel com o sistema tributário durante a monarquia. Eram fiéis adoradores de YWHH. Daí o seu apoio a Jeú na luta contra Baal e contra a dinastia de Amri. Leia 2Rs 10:15-18! Em Jr 35 você pode ler mais relatos sobre os recabitas. O estilo de vida do profeta Elias tinha muita proximidade com o dos recabitas.

Além disso, Jeú eliminou o culto de Baal na capital de Israel, dessacralizando o templo  construído por Amri. Confira 2Rs 10:18-27! Contudo, devido à sua identificação com a chuva, tão necessária para a agricultura, Baal era um deus cultuado por muitos camponeses. Seu culto clandestino entre o campesinato certamente continuava existindo.

Imagem de folha de Baal

Imagem do deus cananeu Baal coberta por folhas de ouro e prata

 

Jeú devolveu  novamente a importância aos santuários de YHWH. Veja 2Rs 10:29! O texto critica Jeú. Mas o enfoque dessa crítica vem do Sul, cujo interesse era de que os nortistas voltassem a frequentar o templo de Jerusalém.

 

- Baalização da religião de YHWH

Num primeiro momento, Jeú fez da religião de YHWH a legitimação de sua conspiração contra os amridas. Com as medidas acima, parece que houve um triunfo total de YHWH sobre Baal.  Mas não demorou muito tempo e Jeú fez o mesmo que Davi e Salomão haviam feito com a religião de YHWH. Transformou a força libertadora do Deus do êxodo em sustentação de seu estado. Na verdade, a dinastia de Jeú promoveu a baalização de YHWH, como haviam feito os monarcas de Jerusalém. Leia Am 7: 10-13!

Embora Jeú tenha proclamado o culto a YHWH como religião oficial do estado, o culto a outras divindades continuou sendo celebrado pelo povo, como você pode conferir em 2Rs 13:6.

Eliseu e seu grupo passaram a exercer uma função importante na corte, tornando-se conselheiros do rei (2Rs13:14-9). A profecia de Eliseu se institucionalizou, perdendo sua força de contestação. Foi cooptada pela nova dinastia.

Talvez, seja essa a explicação para o fato de não haver, na dinastia de Jeú, um movimento profético vigoroso de resistência, tal como também não houve nos primeiros anos do Reino de Judá. A fé em YHWH, como o promotor da liberdade e da vida, fora apagada (Os 4:6).

Somente no final do reinado de Jeroboão II, quarto rei jeuída, é que Amós, um profeta do Sul, chegou ao santuário de Betel, vestiu o manto de Elias e acordou a memória libertadora adormecida.

 

-  Dificuldades da dinastia de Jeú na política externa:

Jorão, muito doente, morreu depois de curto reinado. Seu filho, Ocozias, também descendente de Amri, sofreu as consequências da revolta de Jeú no Norte, e foi assassinado.

Atalia, filha de Amri e mulher de Jorão, assumiu o poder no sul. Por cinco anos Judá deixou de ter no trono  alguém  da dinastia de Davi. Atalia massacrou todos os descendentes de Davi que poderiam fazer-lhe frente, menos um: o menino Joás,  salvo pela tia, que o escondeu no templo. Atalia era considerada intrusa, e não tinha apoio popular.

Jeú perdeu a Transjordânia para Hazael, rei de Damasco (2Rs 8:12; 10:32-33; Am 1:3-5).Também teve que pagar tributos a Salmanasar III, rei da Assíria, conforme consta em documentos assírios. Talvez tenha pedido socorro aos a assírios contra Hazael.

Seu Filho Joacaz, nos 16 anos de seu reinado, continuou sob as ameaças de Hazael e de Ben-Adad, rei de Damasco (2Rs 13:3). Com o enfraquecimento de Israel, houve ataques dos amonitas e moabitas.

Quando Joás completou sete anos, o sacerdote Joiada o coroou rei, Atalia foi executada (2 Rs 11).

No inicio de  seu reinado, Joás conseguiu eliminar o culto de Baal e repara o templo (2 Rs 12; 2Cr 23, 24).  Teve mais êxito que os antecessores.

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2 Crônicas 23:16

16 – Joaida fez aliança entre si mesmo, o povo e o rei, para serem eles o povo do Senhor.

2 Crônicas 24:4,7 (até Deus), 8, 10-13

4 – Depois disto, resolveu Joás restaurar a Casa do Deus.

7 – Porque a perversa Atalia e seus filhos arruinaram a Casa de Deus;

8 – Deu o rei ordem e fizeram um cofre e o puseram do lado de fora, à porta da Casa do Deus.

10 – Então, todos os príncipes e todo o povo se alegraram, e trouxeram o imposto, e o lançaram no cofre, até acabar a obra.

11 – Quando o cofre era levado por intermédio dos levitas a uma comissão real, vendo-se que havia muito dinheiro, vinham o escrivão do rei e o comissário do sumo sacerdote, esvaziavam-no, tomavam-no e o levavam de novo ao seu lugar; assim faziam dia após dia e ajuntaram dinheiro em abundância,

12 – o qual o rei e Joiada davam aos que dirigiam a obra e tinham a seu cargo a Casa de Deus; contratavam pedreiros e carpinteiros, para restaurarem a Casa do Senhor, como também os que trabalhavam em ferro e em bronze, para repararem a Casa de Deus.

13 – Os que tinham o encargo da obra trabalhavam, e a reparação tinha bom êxito com eles; restauraram a Casa de Deus no próprio estado e a consolidaram.

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O rei assírio Adadnirari III venceu Damasco em 803 a.C.. Com isso, Joás recuperou o território perdido para Hazael (2Rs 13:22-25). Contudo, teve que pagar tributo a   Adadnirari III. Seu exército foi atacado por Amasias, rei de Judá. Mas Joás foi vitorioso, impondo-lhe pesadas derrotas (2Rs 13:12; 14:8-14).  No entanto, seus fracassos militares e indecisão o levaram a ser odiado e assassinado.

 

Cronologia dos reis de Israel (Reino do Norte) e respectivas referências bíblicas

  Rei

Ano

Referência bíblica

Jereboão I

931 - 910

 1Rs 12:1-14,20

Nadab

910 - 909

 1Rs 15:25-31

Baasa

909 - 886

 1Rs 15:33-34; 16:1-7

Ela

886 - 885

 1Rs 16:8-14

Zambri

885 (7 dias)

 1Rs 16:15-22

Amri

885 - 874

 1Rs16:23-28

Acab

874 - 853

 1Rs 16:29-17, 1; 18: 1-22, 40

Ocozias

853 - 852

 1Rs 22:52-54; 2Rs 1:1-18

Jorão (irmão de Ocozias)

852 - 841

 2Rs 3:1-27

Jeú

841 - 814

  2Rs 9:1-10, 36

Joacaz

814 - 798

 2Rs 13:1-9

Joás 

798 - 783

2Rs 13:10-25

Jeroboão II

783 - 743

2Rs 14:23-29

Zacarias

743 (6 semanas)

2Rs 15:8-12

Selum

743 (1mês)

2Rs 15:13-16

Manaém

743 - 738

2Rs 15:17-22

Facéias (= Pecaía)

738 - 737

2Rs 15:23-26

Facéias (= Peca)

737 - 732

2Rs 15:27-31

Oséias

732 - 724

2Rs 17:1-6

Queda de Samaria

722 - 721

2Rs 17:5-41

No Reino do Norte (Israel) houve muito mais alternância do poder e forte mobilização popular, liderada pela profecia,  do que no Reino do Sul (Judá).

 

Reis bons e reis maus

O critério dos escritores do livro de Crônicas para avaliar a atuação dos reis do Sul é a fidelidade deles a Javé. O seu compromisso com o templo e as atividades religiosas era uma das formas de avaliar a fidelidade de um rei a Javé. Os demais reis da dinastia deveriam agir como Davi e Salomão, reis que viveram segundo a vontade de Deus.

De modo geral, os reis de Judá serão avaliados de forma negativa, com exceção de dois reis, que serão exemplos de homens segundo o coração de Deus: Ezequias no século VIII e Josias no século VII a.C., justamente os reis que  procuraram empreender importantes transformações religiosas no culto de Judá.

O Estado de Judá era monarquista tributarista. No sistema tributarista, o Estado arrecada os impostos da população trabalhadora, que permanece organizada na forma de clã. Essa tributação terá implicações sociais em Judá, à medida que um Estado se forma e se tem a formação de um grupo social dominante e outro grupo social dominado.

Há, evidentemente, uma formação econômica em que o Estado se apropria de parte do trabalho produzido pela população. Isso gerará, por partes de muitos, uma compreensível antipatia ao Estado. Se a tributação do Estado já pesava sobre os tralhadores, imaginem também com a tributação assíria.  

Com seu trabalho, o camponês não vai somente sustentar o Estado de Judá, mas vai fazer parte, também, daqueles que financiam os empreendimentos assírios. 

 

 Crônicas: livros escritos em tempos de transição

Os  livros de Crônicas  foram gerados em tempos de transição. Foram escritos num período de declínio da literatura profética e da ascensão  da apocalíptica. O tom de confronto e denúncia dos livros proféticos vai dando lugar ao tom de conforto e esperança da literatura  apocalíptica. Deste modo, podemos compreender a ênfase do Cronista na dinastia de Davi.

O Davi do Cronista tem um pé na história e outro na imaginação sonhadora de um povo que não vê alternativas políticas para seu tempo. Está em construção a figura apocalíptica de um libertador para Israel de todas as opressões promovidas pelos impérios.

 

Fontes:  1. Como ler os  livros das Crônicas: quem conta um conto aumenta um ponto. Alfredo dos Santos Oliva, Editora Paulus, 2002.   2. Guia de Leitura aos Mapas da Bíblia. Euclides Martins Balancin, Ivo Storniolo e José Bortolini, Editora Paulus, 2002.   3. Em busca de vida, o povo muda a história. Paulo Sérgio Soares, Paulinas, 2002.   4. Uma introdução à Bíblia: Reino dividido. Ildo Bohn Gass, Editora Paulus, 2007, 4º Edição.  5. Geografia histórica do mundo bíblico: com um estudo especial da palestina. Netta Kemp de Money, Editora Vida, 1994.

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 PARA REFLETIR:

 IGREJAA estrutura da Verdade e do Amor; tudo o que assenta no Princípio divino e dele procede.

A Igreja é aquela instituição que dá provas de sua utilidade e que vem elevando a raça, despertando de suas crenças materiais a compreensão adormecida, para que perceba as ideias espirituais e demonstre a Ciência divina, expulsando assim os demônios, ou o erro, e curando os doentes. CS 583:14-20.

SANTUÁRIO. [TEMPLE.]  O corpo; a ideia da Vida, de substância e de inteligência; a superestrutura da Verdade; o santuário do Amor; CS 595: 6-8.

CS = Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras – Mary Baker Eddy

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