terça-feira, 24 de dezembro de 2013

REIS MAGOS ONTEM E HOJE


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Chegada a Belém, original pintado com a boca por Francis Camilleri


“A estrela de Belém é a estrela de todas as épocas, a luz do Amor [...].”

Mary Baker Eddy

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Reis Magos ontem e hoje

Leonardo Boff


No Segundo Testamento1 há duas versões do nascimento de Jesus. Uma do evangelho de Lucas que culmina com a adoração dos pastores. A outra, do evangelho de Mateus, que se concentra na adoração dos três reis magos. A lição é: judeus e pagãos, cada um a seu modo, encontram Jesus.


                                  A estrela-guia, original pintado com a boca 
                                                                                 por Michael Vassalo


As Escrituras judaico-cristãs deixam claro que Deus não se revelou apenas aos judeus. Antes de surgir o povo de Israel com Abraão, revelou-se a Enoque, a Noé, a Melquisedeque, depois a Balaão e ao rei Ciro. Os reis magos pertencem a este grupo. Quem eram eles?

Eram astrólogos vindos provavelmente da Babilônia. Naquele tempo astronomia e astrologia caminhavam juntas. Certo dia, estes sábios descobriram uma estranha conjunção de Júpiter com Saturno que os aproximou de tal forma que pareciam uma única grande estrela, na constelação de Peixes.

Desde o tempo de Kepler (+1630) os cálculos astronômicos mostraram efetivamente que no ano 6 antes de Cristo (data do nascimento de Cristo pelo calendário corrigido) ocorreu tal conjunção. Para os sábios, este fato possuía grande significação. Júpiter, na leitura astronômica da época, era o símbolo do Senhor do mundo.

Saturno era a estrela do povo judeu. E a constelação de Peixes era o sinal do fim dos tempos. Os sábios babilônicos assim interpretaram: no povo judeu (Saturno) nascerá o Senhor do mundo (Júpiter) sinalizando o fim dos tempos (Peixes).

Então se puseram a caminho para prestar-lhe homenagem. Sempre houve na história dos povos, pessoas simples ou sábios que se puseram a caminho em busca de salvação, quer dizer, de uma totalidade integradora. Deus foi a seu encontro nos seus modos de ser e de pensar.

Mas por que foram encontrar Jesus? Porque, segundo a compreensão dos cristãos, Jesus é um princípio de ordem e de criação de uma grande síntese humana, divina e cósmica. Quando dão o título de Cristo a Jesus querem expressar esta convicção.

Esta síntese se encontra também em outras religiões sob outros nomes: Sabedoria, Logos, Iluminação, Buda, Tao. Estes são os "ungidos e consagrados" (significado de Cristo) para serem um centro  atrator  e unificador de tudo o que há no céu e na terra. Mudam os nomes, mas o sentido é sempre o mesmo.

Nossa realidade, entretanto, é contraditória. É feita de elementos sim-bólicos e dia-bólicos, de verdade e de falsidade, de bondade e de maldade. Como podemos distinguir um do outro? Como criar uma ordem superior que ultrapasse essas contradições? Precisamos de um Centro ordenador e animador de uma síntese pessoal, social e também cósmica.

Os evangelistas usaram o fenômeno astronômico para apresentar Jesus como aquele Senhor do Universo que vem sob a forma de uma criança para unificar tudo. Essa Energia é divina mas não exclusiva. Ela se expressa sob muitas formas históricas. Em Jesus, o Cristo, ganhou uma concretização que mobilizou outras culturas com seus sábios vindos do Oriente.

Todos os caminhos levam a Deus e Deus visita os seus em suas próprias histórias. Todos estão em busca daquela Energia que se esconde no significado da palavra Cristo.

Esse encontro com a Estrela produz hoje, como produziu ontem, alegria e sentimento de integração. Haverá sempre uma Estrela no caminho de quem busca. Importa, pois, buscar com a mente sempre desperta aos sinais como os reis magos.

1 Alguns usam o termo "O Segundo Testamento" no lugar de "O Novo Testamento" principalmente por respeito aos nossos irmãos que abraçam a religião judaica.
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Reis Magos ontem e hoje” foi publicado para refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica em que seus relatos foram escritos. Conforme recentes descobertas sobre fatos nela registrados e a opinião de estudiosos do texto bíblico. Com o objetivo de alcançarmos o significado espiritual das Escrituras.

O texto não representa necessariamente a opinião deste blog ou do Movimento da Ciência Cristã – A Primeira Igreja de Cristo Cientista, em Boston, ou qualquer de suas filiais, sociedades ou grupos informais de estudos, existentes em diferentes países do mundo.

 


LEIA:  A ESTRELA QUE GUIOU OS MAGOS, publicado em 24 de dezembro de 2012.

 

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domingo, 8 de dezembro de 2013

COM OS OLHOS ABERTOS


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  Celebrando a vida:



                                        
“O que conta na vida não é o simples fato de  termos vivido. É o de termos feito diferença para a vida dos outros o  que  irá determinar o significado da vida que levamos”. Nelson Mandela 

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Com os olhos abertos

José Pagola

Instituto Humanitas Unisinos (IHU)


As primeiras comunidades cristãs viveram anos muito difíceis. Perdidos no vasto Império de Roma, no meio de conflitos e perseguições, aqueles cristãos procuravam força e alento esperando a pronta vinda de Jesus e recordando as suas palavras: Vigiai. Vivei despertos. Tende os olhos abertos. Estai alerta.

Significam, no entanto, algo para nós as chamadas de Jesus a viver despertos? Que é hoje para os cristãos colocar a nossa esperança em Deus vivendo com os olhos abertos? Deixaremos que se esgote definitivamente no nosso mundo secular a esperança numa última justiça de Deus para essa imensa maioria de vítimas inocentes que sofrem sem culpa alguma?
Precisamente, a forma mais fácil de falsear a esperança cristã é esperar de Deus a nossa salvação eterna, enquanto viramos as costas ao sofrimento que há agora mesmo no mundo. Um dia teremos que reconhecer a nossa cegueira ante Cristo Juiz: Quando te vimos faminto ou sedento, estrangeiro ou nu, doente ou na prisão, e não te assistimos? Este será o nosso diálogo final com Ele se vivemos com os olhos fechados.
Temos de despertar e abrir bem os olhos. Viver vigilantes para ver para lá dos nossos pequenos interesses e preocupações. A esperança do cristão não é uma atitude cega, pois não esquece nunca os que sofrem. A espiritualidade cristã não consiste só num olhar para o interior, pois o Seu coração está atento a quem vive abandonado à sua sorte.
Nas comunidades cristãs temos de cuidar cada vez mais que o nosso modo de viver a esperança não nos leve à indiferença ou ao esquecimento dos pobres. Não podemos isolar-nos na religião para não ouvir o clamor dos que morrem diariamente de fome. Não nos está permitido alimentar a nossa ilusão de inocência para defender a nossa tranquilidade.
Uma esperança em Deus, que se esquece dos que vivem nesta terra sem poder esperar nada, não pode ser considerada como uma versão religiosa de certo otimismo a todo custo, vivido sem lucidez nem responsabilidade? Uma busca da própria salvação eterna de costas aos que sofrem, não pode ser acusada de ser um sutil "egoísmo profundo estendido para o além"?
Provavelmente, a pouca sensibilidade ao sofrimento imenso que há no mundo é um dos sintomas mais graves do envelhecimento do cristianismo atual. Quando o Papa Francisco reclama "uma Igreja mais pobre e dos pobres", está a gritar a sua mensagem mais importante aos cristãos dos países do bem-estar.

Nota: O texto Com os olhos abertos não representa necessariamente a opinião das igrejas do Movimento da Ciência Cristã. Foi publicado para  refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica. Conforme recentes  descobertas sobre fatos nela registrados e opinião de estudiosos do texto bíblico.  Com o objetivo de alcançarmos o significado espiritual das escrituras, capaz de gerar idéias e ações  que possam  melhorar o mundo.


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domingo, 1 de dezembro de 2013

A BÊNÇÃO DAS LIÇÕES BÍBLICAS


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A Bênção das Lições Bíblicas

HANS LIESEGANG
Original em alemão


 No Manual de A Igreja Mãe, a Sr.a Eddy deixa clara a importância das Lições-Sermão. Diz: "Os Leitores de A Igreja Mãe e de todas as igrejas filiais deverão dedicar parte adequada do seu tempo à preparação da leitura da lição dominical — lição da qual grandemente depende a prosperidade da Ciência Cristã" 1
A prosperidade do movimento da Ciência Cristã é de interesse para seus adeptos. Tudo o que é bom para o movimento, deve ser bom para seus membros. Por isso o estudo profundo da Lição-Sermão promove o progresso dos membros, individualmente, e do movimento, como um todo.
Ler, por si só, não basta. O significado espiritual das citações precisa ser captado. Isso requer tempo. Quem quer que julgue não dispor de tempo suficiente, poderá contentar-se com o estudo cuidadoso de uma ou duas das seis seções que constituem cada lição. A lição inteira, contudo, forma um todo coerente. Por isso, muitos se habituaram a ler toda a lição diariamente.
Esta também era minha primeira atividade cada manhã. Mas depois da primeira ou segunda seção meus pensamentos repetidamente vagueavam pelas coisas materiais e afazeres do dia. Daí não era mais um estudo a fundo da letra ou um embeber-se do espírito, como deveria ser. A Sr.a Eddy escreve: "Pergunta. — Como posso progredir mais rapidamente na compreensão da Ciência Cristã?
"Resposta. — Estuda a fundo a letra e embebe-te do espírito." 2 Progredir rapidamente era o que eu queria.
Certa manhã, percebi como eu estava agindo irracionalmente. Ora, eu afirmava que Deus é Tudo e o único poder, e no entanto, eu Lhe vinha dedicando apenas uma pequena porção de tempo de leitura atenta. É certo que eu não O estava esquecendo, porém estava atribuindo às coisas materiais uma importância indevida.

Enquanto ponderava sobre isso, foi como se uma nova luz despontasse sobre mim. Era uma espécie de iluminação que as palavras não podem descrever. Era o Cristo, a ideia verdadeira e espiritual de Deus, que vinha à consciência humana. Depois disso, as coisas materiais tornaram-se menos importantes. Deus assumira o primeiro lugar. A totalidade de Deus passara a ocupar o meu pensamento e me concedera descanso, paz, alegria, liberdade e segurança.
A leitura da lição deixou de ser um ato de obediência simbólica, às vezes empreendido voluntariosamente visando a melhorar o status, ou tomar posse de algo. Passou a ser um grato reconhecimento do poder da compreensão espiritual para produzir a harmonia e o bem em nossas vidas.
Por meio do Cristo, a Verdade, o estudo diário passou a ser um anseio prazeroso de fazer uso das possibilidades presentes, de experimentar agora o céu que me fora revelado. Só a revelação divina é capaz de convencer a razão, mostrando-lhe a nulidade da matéria.
Cada visão da realidade espiritual, cada percepção da verdade, liberta a consciência humana livrando-a de uma sugestão mesmérica. Tais sugestões são a mente mortal ou a crença errônea na vida material. Quando confrontada com uma verdade que foi reconhecida, a mente mortal começa a perder o aparente controle do pensamento, e a compreensão espiritual toma conta.
O anseio de salvar-se do pecado, da doença e da morte — de todas as limitações impostas pelo sentido mortal — está em todos os homens. É o desejo de elevar-se mais. A Sr.a Eddy escreve: "Devemos esforçar-nos para alcançar as alturas de Horebe, onde Deus é revelado." 3 
As alturas do Horebe da Ciência Cristã sempre se encontram acima da neblina das crenças materiais. A vista de lá é uma contemplação do que Deus cria — o universo espiritual. Em tal contemplação há cura. As Lições-Sermão do Livrete Trimestral da Ciência Cristã indicam o caminho às alturas desse Horebe. Vale a pena estudá-las a fundo.
Foi o que fiz naquela manhã pela primeira vez, durante três horas, com perfeita atenção e uma alegria até então desconhecida. A aparente perda de tempo foi duplamente recompensada. A agenda total programada para aquele dia foi atendida harmoniosa e rapidamente.
Senti a certeza e a promessa expressas em Isaías: "Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra e a fecundem e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a designei." 4 

Por meio de nossa compreensão dessa promessa, Deus, a Verdade, dá ao homem domínio sobre as circunstâncias humanas. Cristo Jesus tinha essa compreensão e domínio. Curou os doentes e os pecadores e ressuscitou os mortos. Habilitou aqueles que careciam de certas coisas a serem supridos abundantemente do que necessitavam.
Mandou Pedro buscar o dinheiro para os impostos na boca de um peixe. Alimentou milhares de pessoas quando, à percepção humana, havia disponível apenas uns poucos pães e peixes. Passou imperturbado por entre a multidão que queria causar-lhe dano. Deu muitas outras provas de que a Verdade, quando percebida, faz maravilhas pelos mortais. Seus discípulos também deram provas do poder do Cristo. E ele ainda hoje está evidente nas curas.
Para mim, passou a ser bem mais fácil e harmonioso o desempenho de minhas atividades comerciais. Havia menos dificuldades. Assim, desde aquela manhã, sempre houve tempo suficiente, todos os dias, para um estudo atento de toda a lição.

Aplicada corretamente, a Ciência Cristã educa o pensamento levando-o a afastar-se das digressões e crenças materiais e a adentrar-se na observação e percepção espirituais.
 Seus adeptos vêm aos serviços da igreja não só para receber algo, mas também trazem consigo o conhecimento do significado espiritual das passagens que são lidas. Vêm na consciência da presença do Cristo incorpóreo, que livra de grilhões materiais os seus próprios pensamentos e os dos visitantes, eleva-os, torna-os receptivos à cura e cura-os. Recebem e aproveitam a bênção que a compreensão do significado espiritual das Lições Bíblicas traz consigo.
1Manual, Art.3º,§1º; 2 Ciência e Saúde, p. 495;  3ibid., p. 241;  4Isaías 55:10, 11. 
Fonte:  O Arauto da Ciência Cristã, dezembro de 1974. The Christian Science Publishing Society, todos os direitos reservados. 

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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A riqueza não é dividida, a riqueza divide! (Lucas 12: 13-21)

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Dia Nacional de Ação de Graças

28 de novembro de 2013


Conheça a história sobre o Dia de Ação de Graças.
 clique na imagem.
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A riqueza não é dividida, a riqueza divide!
Lucas 12: 13-21


Maria Soave



A riqueza não é dividida, a riqueza divide!

Um homem pede a Jesus para intervir a respeito de uma briga entre ele e seu irmão sobre a herança. De novo no evangelho tem alguém que chama Jesus para resolver um conflito. Este alguém não tem nome próprio no texto. Provavelmente porque cada um, cada uma de nós é chamado a identificar-se com esta personagem. 
Na pergunta sobre a divisão da herança aparece uma grande ilusão. A pergunta ilusória é sobre a divisão da riqueza. Este texto nos diz que a riqueza não é dividida, a riqueza divide!

Jesus recusa, neste texto, o papel de mediador do conflito. Na perspectiva da grande ilusão da qual estes dois irmãos são vítimas, a de pensar que a riqueza que divide e violenta possa ser dividida, Jesus não quer ser considerado o juiz conciliador, mas o companheiro de caminhada que quer ajudar a entender e indicar os motivos que determinam o empobrecimento e os conflitos entre as pessoas. Estes motivos se juntam concretamente ao redor do egoísmo e da ganância.
São estes os dois sentimentos que habitam os irmãos deste texto do evangelho e Jesus fala deste sentimento de desejo sem entender o que é necessário desejar. A ilusão, de quem não conhece o que é verdadeiramente necessário e por isto pensa de encontrar no possuir a sua segurança.
Qual é nossa necessária necessidade? Esta é uma pergunta de fundo para a nossa vida. 
Desde os tempos antigos da caminhada de libertação no Êxodo, nossos pais e nossas mães na fé tiveram que responder a esta pergunta. No tempo do deserto, no tempo da divisão do poder e da profunda defesa da Vida, seguindo o Deus Libertador, o Povo das tribos no caminho de libertação teve que aprender como dividir algo que não sabiam nomear e por isto chamaram "maná". Tiveram que aprender a partilhar "segundo a necessidade".
Lembramos também que, no Primeiro Testamento, uma tribo, a de Levi, a tribo dos homens e mulheres errantes e mendicantes de tenda em tenda, esta tribo não recebia nenhuma herança, nenhuma terra, exatamente para poder testemunhar, na transparência do corpo e das relações, que única herança é Javé libertador.
Também no Segundo Testamento o contrário da ganância é a plenitude em Deus. Por isto Paulo, na carta aos Colossenses 3,5, nos diz que a ganância é idolatria!
A ganância faz o nosso coração se dividir entre diferentes desejos, e um coração dividido é um coração idólatra, uma alma, transparência de corpo que perdeu o necessário, o testemunhar em todo o respiro da Vida que única herança é Javé Libertador!

Os bens não nos livram da morte

Neste texto do evangelho de Lucas Jesus faz uma afirmação muito séria: "sua vida não depende de seus bens". Como para dizer que uma pessoa não é dependendo do que possui. Uma pessoa não é humana por causa de seus bens! A dignidade das pessoas não tem nada a ver com os bens que possuem! Para Jesus e seu movimento existe uma condição profundamente humana que é "outra" em relação ao possuir.
Viver do necessário, a capacidade de dividir para poder multiplicar, ser transparência comunitária e ecumênica que nossa única herança é Javé libertador de todos os pequenos e empobrecidos, é o nosso caminhar no seguimento de Jesus!
Para mostrar como a prática da ganância seja negativa, Jesus nos conta uma parábola. De um rico sem sabedoria, isto é sem a capacidade de olhar com os olhos do essencial que são os olhos de Deus no meio da História da Humanidade.
Este rico sem sabedoria acredita de estar no seguro por muitos anos tendo acumulado muitos bens e ao qual na mesma noite é pedida de volta a própria vida. Nesta parábola a abundância é muito presente. O homem é rico e a colheita é abundante. O homem rico pensa entre si sobre o que irá fazer da colheita abundante. Mas só pensar entre si e não partilhar o pensamento leva a uma decisão egoísta e insensata que faz da bênção da abundancia na colheita uma maldição. A bênção não pode ser de uso individual!
Uma reflexão individual que não é partilhada em comunidade pode nos levar, como no caso da parábola, a um programa de vida esvaziado de amor. Os bens não nos livram da morte e da nossa finitude. Aliás, podem nos impedir de viver na partilha e na condivisão, de aprender a viver do necessário para que ninguém passe necessidade.
Os bens podem não permitir que sejamos o que é nossa profunda vocação, desde os mitos bíblicos de criação da Humanidade... gente nua e sem vergonha deste "estado" primordial... a nudez... o que nos faz reconhecer o que gaguejamos com o nome de Deus(...)! Nossa única e verdadeira riqueza... Amém e amem... isto é: continuemos amando!
Para continuar a oração: Tome em sua Bíblia o salmo 89 (90) 


Nota: O comentário  bíblico A riqueza não é dividida, a riqueza divide!  não representa necessariamente a opinião deste blog nem das igrejas do Movimento da Ciência Cristã. Foi publicado para  refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica. Conforme recentes  descobertas sobre fatos nela registrados e opinião de estudiosos do texto bíblico,  como objetivo de alcançarmos  o significado espiritual das escrituras.

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domingo, 6 de outubro de 2013

PAULO E PEDRO: DOIS PILARES DO CRISTIANISMO


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Comentário sobre relato bíblico



Paulo e Pedro: 
dois pilares do cristianismo

 Gilvander Moreira

Instituto Humanitas Unisinos (IHU)


1. Para início de reflexão.

Dia 29 de junho é festa dos apóstolos Paulo e Pedro, dois grandes pilares do cristianismo. Tempo propício para refletir sobre o legado espiritual-profético de Pedro e Paulo. Os dois se identificaram com o projeto do evangelho de Jesus Cristo e se doaram no seu seguimento, orientados pela boa notícia aos pobres.
Terminaram martirizados, segundo a tradição da igreja. No livro de Atos dos Apóstolos é possível descobrirmos uma paulinização de Pedro e uma petrinização de Paulo. Ou seja, para Lucas não é bom que aconteça um cisma entre as várias tendências de evangelização. A diversidade enriquece a unidade e não a anula.
Segundo Atos dos Apóstolos, o apóstolo Pedro foi quem fez o primeiro discurso após o primeiro Pentecostes (At 2,1-13), um discurso profético e corajoso (Cf. At 2,14-36), no qual Pedro denuncia de forma altaneira: "Vocês autoridades mataram Jesus, mas Deus o ressuscitou!"



                                       As viagens de Paulo

Pedro teve a grandeza de sair de Jerusalém - a igreja mãe - e ir conviver com comunidades consideradas impuras, heréticas, no meio dos excluídos (Cf. At 9,32-43). A convivência com os pobres se tornou a base do processo de conversão de Pedro, que o habilitou a experimentar o Espírito do Deus da vida atuando no meio dos gentios, tal como acontecia entre os cristãos (Cf. At 10,1-11,18).

Memorável também foi a participação do apóstolo Pedro no Concílio de Jerusalém, por volta dos anos 49/50, onde, ao lado de Barnabé e Paulo, lutou pela abolição da lei da circuncisão, que tinha se transformado em um insuportável fardo para os cristãos oriundos do meio dos estrangeiros.

Para não ficar muito longo esse texto, deixaremos a reflexão sobre o Ensinamento e Práxis do apóstolo Pedro, em Atos dos Apóstolos, para outro artigo. Convido o/a leitor/a a acompanhar comigo o Discurso do Apóstolo Paulo aos presbíteros, narrado em At 20,17-38. 
 Não é um discurso teórico, abstrato, moralista e nem desligado dos problemas principais da vida. O discurso de Paulo está grávido da realidade da vida das primeiras comunidades cristãs; está em profunda conexão com os desafios de ser cristão em tempos de Tribulação; quer gerar luz e força para as comunidades.
É o único discurso de Paulo no livro dos Atos dirigido aos cristãos, especificamente aos presbíteros, ou seja, aos anciãos (= coordenadores das comunidades). Todos os demais discursos de Paulo em Atos possuem como destinatário pessoas e grupos que estão fora da comunidade cristã. No entanto, as cartas paulinas são dirigidas aos cristãos, mas este discurso se dirige somente aos presbíteros.

O Gênero literário é o de TESTAMENTO-DESPEDIDA, um gênero muito conhecido na Bíblia. Lucas faz nesse discurso uma síntese do livro de Atos, principalmente dos capítulos 15-28. O discurso revela não tanto a morte de Paulo, mas como Lucas entendia Paulo no contexto de suas Igrejas, algumas décadas depois, nos anos 80 do século I. Assim esse discurso nos oferece chaves de interpretação
 do livro “Ato dos Apóstolos”.


2. Esquema do discurso de Paulo.

O discurso de Paulo é formado por várias partes com diversas etapas do pensamento. Os biblistas não chegaram a um acordo quanto ao plano e esquema do discurso de Paulo aos presbíteros de Éfeso, descrito em At 20,17-38. Pensamos que o texto pode ser dividido em quatro partes:

a) memória do ministério de Paulo na Ásia (At 20,18 - 21).
b) Presente ameaçador e perigoso (At 20,22-24).
c) Exortação aos presbíteros (At 20,25-31).
d) Testamento - Paulo deixa a Palavra e seu testemunho - (At 20,32-35).

3. Pontos fundamentais do discurso de Despedida de Paulo.

3.1. Trabalhar manualmente é problema?  "Estas minhas  mãos..." (At 20,34)

O apóstolo Paulo dá uma enorme importância ao trabalho manual. Assim ele se expressa: 

"Vocês mesmos sabem que estas minhas mãos providenciaram o que era necessário para mim e para os que estavam comigo. Em tudo mostrei a vocês que é trabalhando assim que devemos ajudar os fracos, recordando as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: 'há mais felicidade em dar do que em receber'." (At 20,34-35)

Lucas, o autor de Atos dos Apóstolos, sabe que Paulo foi atacado porque trabalhava com as mãos. Alguns achavam no trabalho manual um sinal de que Paulo era um apóstolo de segunda categoria. Lucas quer justificar Paulo como um autêntico apóstolo e por isso afirma a nobreza do "trabalhar com as mãos": assegurar a própria subsistência e poder ser solidário com os empobrecidos.
O trabalhar manualmente foi uma postura tremendamente revolucionária e inovadora no ambiente helenista. Segundo a cultura helenista o trabalho nobre era o trabalho intelectual. Trabalhar manualmente era "coisa de escravo". Paulo questiona na prática esta concepção discriminatória da sociedade e aponta para a igualdade real entre as pessoas.
No fundo, ao "trabalhar com as mãos" para se auto-sustentar, Paulo estava colocando o dedo em uma das feridas da sociedade que sustentava a hierarquia de pessoas. E mais: Paulo estava inoculando nas comunidades cristãs um modo diferente de se relacionar com o mundo do trabalho. A postura de Paulo corroía como cupim o edifício da sociedade escravocrata greco-romana.
As comunidades paulinas estavam passando a acreditar progressivamente em uma Economia Popular Solidária, onde todos trabalhavam, de modo coletivo, partilhando os frutos do trabalho e da generosidade da Mãe natureza, atendendo às necessidades de todos a partir dos mais enfraquecidos.
Paulo sugeria, trabalhando manualmente, que o trabalho não devia ser para acumulação, mas para satisfazer as necessidades básicas da pessoa e da comunidade. As primeiras comunidades cristãs colocavam em prática o sonho de uma economia para satisfazer as necessidades básicas do povo e não para acumulação de capital.
Devemos recordar que a defesa do trabalho manual de Paulo dirige-se particularmente aos presbíteros. Naquele tempo de Lucas, década de 80 do século I, os presbíteros teriam deixado de trabalhar e seriam sustentados pela comunidade?

O exemplo de Paulo já apareceria estranho aos presbíteros a ponto de Lucas ter que enfatizá-lo? Recordar Paulo trabalhando para o auto-sustento deveria incomodar muitos presbíteros. Era mais cômodo ser sustentado pela comunidade. Mas Lucas percebe que isto não reflete a experiência original de Paulo.

Hoje é normal um padre ou pastor receber um salário pelo serviço prestado à comunidade. É justo alguém receber um salário sem ser cobrado pela qualidade do serviço e sem ter que "bater cartão de ponto"? Se padre ou pastor deve ganhar um salário, quem será o patrão deles? A quem eles devem prestar contas do serviço prestado?

3.1.1. E o trabalho manual nos nossos dias?

Em tempos de extinção de tantas espécies animais e vegetais, emprego é um "animal em extinção" no mundo globocolonizado, pois cada vez mais aumenta o exército de desempregados. Além da intensificação e a precarização do trabalho, a máquina que demite trabalhadores está funcionando a pleno vapor em todas as áreas do mundo do trabalho.

Infelizmente, continuam vivas em nossa sociedade as distinções entre os diversos tipos de trabalho. Muitos trabalhos intelectualizados são muito bem remunerados e reconhecidos, enquanto os trabalhos manuais são "reservados" para os pobres, pessoas consideradas "incompetentes".
Por exemplo, se compararmos os salários de um jogador de futebol, de uma apresentadora de TV, de um executivo de uma transnacional, de um médico, de um gari, de um ajudante de pedreiro, de um bóia fria, o que virá à tona?
Na sociedade capitalista, o lugar para as pessoas que sobrevivem do trabalho manual é reduzido cada vez mais. Basta olhar a maneira como setores empresariais e poder público vêm tratando os artesãos de rua, de cultura hippie, que sobrevivem da arte manual com arames, linhas e pedras. São expulsos da cidade e tratados com violência e descaso.

Também impressiona o desrespeito com os catadores de material reciclável. A catação é uma profissão antiga no Brasil e no mundo. Nos últimos tempos, o mercado descobriu que o lixo pode dar lucro e o trabalho manual dos catadores que retiram da reciclagem o seu sustento e de sua família tem sido ameaçado a cada dia pelas grandes empresas e pelos gestores públicos.


3.2. Lobos, não; Solidariedade aos pobres, sim!

Paulo apóstolo enfatiza no seu discurso a importância de vigiar contra os "lobos" e  de ser solidário com os enfraquecidos. Ele alerta: 

"Eu sei: depois da minha partida, aparecerão lobos vorazes no meio de vocês, e não terão pena do rebanho. E do meio de vocês mesmos surgirão alguns falando coisas pervertidas, para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, fiquem vigiando e se lembrem de que durante três anos, dia e noite, não parei de admoestar com lágrimas a cada um de vocês... Em tudo mostrei a vocês que é trabalhando assim que devemos ajudar os fracos." (At 20,29-31.35a).

Paulo prevê e exorta os cristãos a enfrentarem dois problemas que certamente fazem parte das preocupações das comunidades de Lucas:
1) "Lobos vorazes aparecerão..." (At 20,29). Estes lobos, muitos com pele de ovelhas, procedem de fora das comunidades, de pessoas estranhas, mas também de dentro delas, de pessoas que foram expulsas e que procuram manter uma certa liderança. De fora, lobos aparecem a partir de falsos pastores, judeus ou gregos, defensores do "fermento dos fariseus": um tipo de religião que exclui, de mãos dadas com o modelo político-econômico-cultural que gera opressão e exclusão. Estes lobos defendem a "Lei da pureza e da impureza", celebrações pomposas, rituais e formais.

2) "Cuidem dos enfraquecidos..." (At 20,35). É provável que nas comunidades de Lucas, no fim do primeiro século, um desejo grande de fidelidade ao passado estivesse gerando esquecimento dos pobres. Estes quase sempre não podem respeitar as regras e os regulamentos da comunidade. Na mente e no coração de Lucas, Paulo dava uma atenção especial aos empobrecidos. Para Paulo o sinal por excelência da autenticidade do ministério era o amor desinteressado e gratuito aos pobres.

Esta opção pelos pobres aparece de modo muito eloquente quando Paulo faz questão de dizer às comunidades de Antioquia que a única coisa que o concílio ecumênico de Jerusalém fez questão de alertar às comunidades foi: "Não esqueçam os pobres. Lembrem-se sempre deles." (cf. Gálatas 2,10).

No discurso aos presbíteros, Lucas alerta para o cuidado com os pobres, porque provavelmente os presbíteros estavam se preocupando menos com os pobres, como "os falsos pastores que apascentam a si mesmos e devoram as ovelhas" (cf. Ex 34,8-10). Estariam eles gastando mais energias com as obras do que com a promoção humana dos excluídos?


4. Por que um discurso aos presbíteros e não às comunidades?

As cartas paulinas eram sempre endereçadas a toda a comunidade. Mas os bons tempos do fervor missionário passaram. Lucas sente no ar sinais de clericalização, de hierarquização, de institucionalização. Neste novo contexto eclesial, os presbíteros terão a missão de transmitir a herança paulina e de defendê-la contra os perigos de corrupção.
É interessante que Paulo se despede das comunidades sem deixar estruturas; somente os recomenda "a Deus e à Palavra de sua graça que tem poder para construir o edifício" (At 20,32). O único poder da comunidade é a Palavra de Deus. Paulo, como um apaixonado missionário, se preocupa em deixar-se guiar pelo Espírito, em costurar relações e propostas geradoras de vida; ele não está preocupado em criar estruturas que podem, com o tempo, matar o vigor e o ímpeto do primeiro amor.

5. "Presbíteros": apóstolos, profetas, mestres, ...

Sendo o discurso de Paulo dirigido diretamente aos presbíteros, torna-se imprescindível entender bem quem são estes presbíteros e qual a função deles nas comunidades. Isto nos remete a discutir a diversidade de dons nas primeiras comunidades cristãs.
Em At 20,28 os presbíteros de Éfeso são chamados de "epíscopos", cuja função pastoral é a de vigiar e conduzir a comunidade. Epíscopo é um título grego que significa "supervisor"; aquele que tem a responsabilidade de acompanhar o desenvolvimento da comunidade para cuidar da sua continuidade com o espírito original e da sua sintonia com os critérios de continuidade.
Ainda não há aqui a noção de sucessão apostólica, pois Paulo não os apresenta como os seus sucessores, mas como pessoas encarregadas pelo Espírito Santo de manter as comunidades no bom caminho.
No tempo de Paulo não existia a diferença entre clero e leigos. Havia, sim, uma variedade, não orgânica de carismas, como apóstolos, profetas e mestres (At 13,1), evangelistas (Filipe: At 21,8), profetisas (as filhas de Filipe: At 21,9) etc. Os presbíteros são simplesmente os animadores de comunidades; nunca são chamados de "sacerdotes" no Segundo Testamento.
Nas cartas paulinas constatamos que no seio das comunidades há uma diversidade de dons que deve ser articulada pelo cimento que é a solidariedade. Isso é ótimo, pois o Espírito não se deixa encurralar e não aceita ser engaiolado; Sopra aonde quer, para onde quer, é livre, liberta e tem sede de liberdade. Paulo reitera diversas vezes: "Não percam a liberdade cristã!" (cf. 2 Cor 3,17). "Não entristeçam o Espírito Santo!" (Efésios 4,30).

O apóstolo Paulo percebeu que existia nas comunidades uma dificuldade de conviver de modo sadio com a diversidade de dons. Paulo pontua bem a diversidade de dons recordando que existe uma ordem de importância. A comunidade cristã não pode cair no subjetivismo e nem no relativismo de "tudo é igual a tudo", ou no "devemos respeitar tudo".
Para Paulo, em primeiro lugar estão os apóstolos, entendido no seu sentido original e etimológico: apóstolo/a é aquele/a que é enviado/a por Deus, é um/a missionário/a, um porta voz de uma mensagem do Deus solidário e libertador.
Na época descrita por Atos, das primeiras igrejas, antes do processo de institucionalização (hierarquização) o termo "apóstolo" não significa um título que dá status. O termo "apóstolo" passa a ser considerado um título mais tarde, depois do processo de hierarquização das igrejas, o que acorrentou a vitalidade do dinamismo inicial.
Em segundo lugar estão os profetas. A palavra "profeta" vem do verbo pro-ferir, que significa falar por antecipação. Etimologicamente a palavra "profeta" significa "aquele que profere uma mensagem em nome de Deus". O profeta escuta o Oráculo de Deus.
A palavra "oráculo", em hebraico, significa "sussurro, cochicho, de Deus no ouvido do profeta ou da profetisa". Para entender um cochicho, um sussurro, é preciso fazer silêncio, prestar muita atenção, estar em sintonia, ter proximidade, ser amigo etc. Portanto Deus não falava claramente aos profetas, como nós, muitas vezes pensamos que falava.
Do mesmo modo que falava aos profetas e profetisas Deus fala hoje a nós. Deus cochicha (sussurra) em nossos ouvidos a partir da realidade dos empobrecidos e excluídos. Precisamos colocar nossos ouvidos e nosso coração pertinho do coração dos excluídos para que possamos escutar Deus.
Mais do que fazer cursos de oratória, precisamos de cursos de escutatória . Para ouvir os clamores mais profundos dos excluídos é necessário conviver com eles.
Em terceiro lugar vêm os mestres, aqueles que devem ensinar a verdadeira mensagem de Jesus. Ensinar pelo testemunho e de preferência, através da pedagogia da maiêutica: conversando, dialogando e assim ajudando os outros a parir ideias e práxis libertadoras. Lá no final da escala vem o dom das línguas (cf. I Cor 12,28).
Em I Cor 13,1-13 Paulo faz um elogio do amor para nos mostrar que relações de amor é que deve ser a coluna mestra da vida das comunidades e Igrejas. Paulo nos alerta:

"Desejem os dons do Espírito, principalmente a profecia, pois quem profetiza fala às pessoas, é entendido, edifica, exorta e consola a comunidade.  Aquele que profetiza é maior do que aquele que fala em línguas. Quem fala em línguas edifica somente a si mesmo, fala só a Deus (cf. I Cor 14,1-6)." 

Em I Cor 14,19 o apóstolo Paulo afirmara: "Numa assembleia, prefiro dizer cinco palavras com a minha inteligência para instruir também os outros, a dizer dez mil palavras em línguas".

Paulo e seus companheiros fundam e desenvolvem comunidades proféticas a partir da ação do Espírito. Quase todas as vezes que na Bíblia fala que "desceu o Espírito de Deus sobre..." diz também que os atingidos pelo Espírito de Deus começam a profetizar (cf. Nm 11,29; At 19,4-6).

A profecia é uma consequência direta da ação do Espírito. Logo, um bom critério para saber se estamos vivendo uma verdadeira experiência no Espírito de Deus é nos perguntar: Estamos nos tornando mais profetas ou profetizas? Se a maioria das pessoas que diz falar em línguas fossem também profetizas, teríamos um maior número de mártires e talvez o Brasil já estaria transfigurado por causa de tanta profecia.


6. Solidariedade, sim; mas COMO?

"É afadigando-se que devemos ajudar os pobres" (At 20,35). O apóstolo Paulo, segundo Lucas, não somente exorta os presbíteros e nós à solidariedade com os pobres, mas pontua também como ele pensa e como testemunhou que deve ser esta solidariedade.

Paulo cita uma frase de Jesus para defender a solidariedade com os pobres: "Há mais felicidade em dar que em receber " (At 20,35). O discurso revela que é impossível ser solidário aos empobrecidos e excluídos sem fatigar-se, sem cansar-se. Meter as mãos na massa, suando a camisa, em algum trabalho concreto e perseverante é condição sine qua non para o exercício da solidariedade gratuita e libertadora.

Solidariedade à distância, sem envolvimento pessoal, sem compromisso sério não passa de caricatura de solidariedade. Recai certamente em esmola, em paliativo, em assistencialismo, que gera dependência e subserviência em quem recebe a ajuda e tranquiliza a consciência de quem dá.

Paulo contestou as caricaturas de solidariedade trabalhando firme fazendo calos nas mãos para o seu sustento e para ajudar outros companheiros. Lucas quer retomar esta experiência original, da qual emana uma fidelidade genuína ao projeto do movimento de Jesus.

Por ironia da história, mudam-se os tempos, mas continua viva uma grande controvérsia sobre como ser solidário. É possível encontrar pessoas que trazem doações nas paróquias e dizem assim:

 "Levem para os favelados, pois eu não tenho coragem de ir à favela, senão não consigo dormir de noite". Ou: "Podemos dar esta sopa para os mendigos, mas não para os sem terra, pois estes são subversivos e agressivos".  Que estreiteza de visão!

7. Inconclusão.

Enfim, Paulo e Pedro, por terem feito opção pelos pobres, se inculturado e atuado de forma ecumênica, muito nos inspiram. Paulo e Pedro entraram para a História como dois grandes pilares do cristianismo.


Autor: frei e padre carmelita Gilvander Luís Moreira, mestre em Exegese Bíblica, professor do Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos, no Instituto Santo Tomás de Aquino - ISTA -, em Belo Horizonte, e assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina


Nota: O comentário  bíblico  Paulo e Pedro: dois pilares do cristianismo não representa necessariamente a opinião deste blog nem das igrejas do Movimento da Ciência Cristã. Foi publicado para  refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica. Conforme recentes  descobertas sobre fatos nela registrados e opinião de estudiosos do texto bíblico,  como objetivo de alcançarmos  o significado espiritual das escrituras. 

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PARA REFLETIR:

Espírito. A substância divina; Mente; o Princípio divino; tudo o que é bom; Deus; só aquilo que é perfeito, sempiterno, onipresente, onipotente, infinito. Glossário de Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy [p.594, linha 19 a 21].

Profeta.  Um vidente espiritual; desaparecimento do sentido material ante a consciência dos fatos da Verdade espiritual. Glossário de Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy [p.593, linha 4 a 6].

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Recomendação de leitura:  A CURA CRISTÃ E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO.


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