A histórica trilha indígena, empresta seu nome ao Acampamento Itinerante para Cientistas Cristão
e seus Amigos.
e seus Amigos.
Foto: topo do Monte Crista, Garuva, Santa Catarina, Brasil.
Trecho do Caminho Peabiru, pavimentado, na região do Monte Crista,
Roteiro do Caminho Peabiru
CAMINHO PEABIRU
Orides Maurer
Professor Bacharel Licenciado em História,
Especialista em História da Arte.
Os “peabiru” (na língua tupi, “pe” – caminho, “abiru” – gramado amassado) são antigos caminhos, utilizados pelos indígenas sul-americanos antes da chegada dos europeus, ligando o litoral ao interior do continente.
A designação “Caminho do Peabiru” foi empregada pela primeira vez pelo jesuíta Pedro Lozano em sua obra “História da Conquista do Paraguai, Rio da Prata e Tucumán”, no início do século XVIII.
As civilizações se fizeram pelas rotas. Por elas se aculturaram povos, se enriqueceram sociedades, se conquistaram mundos.
O “Caminho do Peabiru”, no Brasil, começava em São Vicente ou Cananéia, no litoral paulista, cruzava o Estado do Paraná de Leste a Oeste, penetrava no chaco paraguaio, atravessava a Bolívia, ultrapassava a Cordilheira dos Andes e alcançava, finalmente, o sul do Peru e a costa do Pacífico.
Este era o chamado tronco principal, mas havia outros ramais. Um deles cruzava o rio Paranapanema, na divisa entre São Paulo e Paraná, onde segundo Rosana Bond, baixava o sul quase em linha reta, passando pelas atuais cidades paranaenses de Peabiru e Campo Mourão. Outro ramal dava no litoral de Santa Catarina e outro, ainda, provavelmente, no Rio Grande do Sul; ao todo tinha aproximadamente 3 mil km de extensão, cerca de 1,40 de largura e 0,40 cm de profundidade. Para evitar o efeito erosivo da chuva, a trilha era forrada com vários tipos de grama, que também impediam que a via fosse tomada por ervas daninhas.
A verdadeira história do Peabiru ainda é um mistério. Uma das teorias mais aceitas é que o caminho é a menor e melhor rota entre os oceanos Atlântico e Pacífico, tendo um importante papel no intercâmbio cultural e na troca de produtos entres as nações indígenas. Dizem ainda que foi aberto pelos guaranis em busca constante de uma mitológica "Terra sem Mal", aconselhados pelos seus deuses - base da religião guarani.
Esse território mágico seria a morada dos ancestrais, descrito como o lugar onde as roças cresciam sem serem plantadas e onde a morte era desconhecida. Segundo o professor Samuel Guimarães da Costa, o Paraná seria esse "Nirvana" indígena e o Peabiru uma espécie de caminho santo que percorria o paraíso perdido - para os índios, o Paraná se chamava Guairá, que em tupi-guarani quer dizer "terra da eterna juventude”.
O historiador Luiz Galdino, em seu livro “Peabiru – Os Incas no Brasil” fundamenta que os Peabirus testemunham antigas incursões com o propósito de estender o domínio incaico até onde nasce o Sol - as margens do Atlântico.
Como via de mão dupla, o Peabiru permitiu a chegada dos Guaranis aos Andes. Mesmo sem relações duradouras, as idas e vindas de Guaranis e Incas pelo caminho deixaram vestígios de uma certa influência cultural na astronomia (leitura e uso de manchas da Via Láctea), estatística (semelhança do ainhé, cordão de cipó Guarani com o quipu dos Incas), música (flauta de pã), armamento (semelhança da macaná, borduna Guarani com a maqana incaica), denominação de fauna e flora : sara (espiga, em Guarani; milho em Quêchua); cui (animal roedor, nos dois idiomas); jaguar (felino, nos dois idiomas); mandioca e ioca; iuca, suri (ema, nos dois idiomas).
Uma terceira hipótese é que o Peabiru teria sido aberto por ninguém menos que São Tomé, o incrédulo apóstolo de Cristo. Sérgio Buarque de Holanda, um dos mais importantes historiadores brasileiros, diz que a comoção criada no século XVI pela descoberta de um Caminho de São Tomé por pouco não desbancou o célebre Caminho de Santiago de Compostela.
A passagem de Tomé pelo Novo Mundo foi mencionada por índios, padres, autoridades e colonos europeus no século XVI. A versão corrente é que um homem branco, barbudo, teria chegado ao litoral brasileiro “andando sobre as águas”. Os indígenas brasileiros o chamavam de Sumé.
Em sua peregrinação, teria ido ao Paraguai, abrindo o Caminho. Ali foi visto e chamado de Pay Sumé. Saindo do Paraguai, a misteriosa figura teria continuado até os Andes. Os povos pré-incaicos o chamaram de Kuniraya. Mais tarde, o personagem recebeu dos Incas o nome de Viracocha. Após um período no Peru, ele teria ido embora, também “andando sobre as águas”.
Segundo Rosana Bond, autora do livro “O Caminho de Peabiru”, o caminho possui grande importância histórica, pois entre outras coisas serviu para as andanças e até grandes migrações de povos indígenas e, mais tarde, para a descoberta de riquezas, criação de missões religiosas, comércio, fundação de povoados e cidades.
Segundo as crônicas coloniais, os relatos do Padre Montoya e os historiadores Sérgio Buarque de Hollanda, Jaime Cortesão e Eduardo Bueno, o Peabiru é o principal caminho para a penetração da região sul do Brasil e do Paraguai.
Pelo Peabiru transitaram além dos indígenas, São Tomé e/ou Pay Sumé, Incas, ou seja, os possíveis criadores da trilha, também outros desbravadores ainda que considerado somente o período pós-Cabralino: soldados, sacerdotes, aventureiros, sujeitos que construíram a história da região sul do Brasil.
Aleixo Garcia um português que utilizou o Peabiru, foi o primeiro europeu a fazer contato com os Incas, e a penetrar o interior do Brasil e do Paraguai em busca de um acesso às riquezas desse povo, no ano de 1524, a partir do litoral de Santa Catarina e, rumando para oeste, seguindo o caminho traçado pelos índios, chegou à região de Assunção, no Paraguai. Depois de diversas peripécias e confrontos com inúmeras tribos uma pequena parte de sua expedição retornou com peças de ouro e prata tomadas dos Incas.
Segundo Eduardo Bueno, depois da jornada de Aleixo Garcia, o Peabiru se tornou um caminho bastante conhecido e muito percorrido. Por ele seguiria, em 1531, a malfadada expedição de Pero Lobo, um dos capitães de Martim Afonso de Sousa.
Também pelo Peabiru passaram Cabeza de Vaca em 1541 e Ulrich Schmidel em 1553, jesuítas como Pedro Lozano e Ruiz de Montoya também o percorreram em suas missões de catequese aos guaranis. Um século mais tarde, seria também pela via do Peabiru que Raposo Tavares e outros bandeirantes paulistas seguiriam para realizar seus devastadores ataques às missões do Guairá, no atual estado do Paraná.
Segundo Jaime Cortesão, foi pelo Peabiru que a civilização européia adentrou a oeste e subiu aos Andes. E para expressar a velocidade da penetração, basta assinalar que o gado, introduzido em 1502 em Cananéia, aparecia já em 1513 na Corte Incaica. Esta rapidez na disseminação de um elemento cultural prova quanto eram rápidas e ativas as comunicações através do continente.
Ainda no século XVI, o Peabiru foi o caminho usado para a fundação de Assunção, no Paraguai, para a criação de três ou quatro cidades espanholas no atual Estado do Paraná, para a implantação de 15 reduções jesuítas e até para a descoberta da maior mina de prata do mundo em Potosi, Bolívia.
Cortesão relata que, se julgamos tal caminho merecedor de tantas referências, é porque não somente foi o mais importante da face atlântica da América Latina, mas também o maior varadouro cultural e civilizador.
Depois de 1630, quando os bandeirantes entraram no Paraná e destruíram as cidades espanholas e as missões dos jesuítas, o Peabiru foi praticamente abandonado. O caminho ainda conseguiu retomar vida no século XIX, quando serviu, mais uma vez, para entrada de uma nova leva de homens brancos, os colonizadores pioneiros do interior do Paraná.
É notória a importância que o Caminho de Peabiru possui seja pelo traçado que cortava o continente, seja pelas personagens que por ele transitavam, pois é através dele que a verdadeira história e cultura de nossos antepassados são transmitidas nos dias de hoje, apesar da colonização européia que, utilizando do Peabiru adentrou na nossa região a fim de explorar o povo e a grandiosa riqueza natural aqui encontrada. O Peabiru é um caminho de importância inquestionável e deve ser resgatado para que as raízes do nosso povo sejam mantidas vivas entre o maior número de cidadãos e não apenas na memória de poucos estudiosos.
Leia também Peabiru: caminhos ancestrais em
http://oridesmjr.blogspot.com/2012/02/peabiru-caminhos-ancestrais_06.html
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