terça-feira, 27 de janeiro de 2015

BREVE HISTÓRICO SOBRE AS LIÇÕES BÍBLICAS DA CIÊNCIA CRISTÃ

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Pousada Monte Crista em Garuva, SC, Brasil em Janeiro de 2011

 

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Breve histórico sobre as Lições Bíblicas

da Ciência Cristã

 

 

 

UMA FORMA REVOLUCIONÁRIA  DE SERMÃO

Não satisfeita com a forma de sermão, veiculado nas igrejas de sua época, onde a Palavra era interpretada a partir do entendimento de cada pregador. Depois de muitos anos de observação e oração, Mary Baker Eddy foi conduzida para estabelecer a Bíblia e Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras como o  único pastor de sua igreja.

 

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De dezembro 1906 a dezembro de 1907, a Revista “Human Life”, Boston - EUA., publicou uma série  de artigos sobre a vida de Mary Baker Eddy. Escrito pelo famoso jornalista Sibyl Wilbur, estes artigos formaram a base do  livro que escreveu: “A Vida de Mary Baker Eddy” (Longyear Museun).

 

Além disso, forneceu a Lição Bíblica – também chamada de  Lição-Sermão, com 26 temas cuidadosamente indicados, como estrutura para selecionar passagens da Bíblia e de Ciência e Saúde.

Esta forma de sermão revolucionário, ao ser estudado a cada dia durante a semana, e lido como sermão - ponto central dos serviços religiosos de domingo, incentiva o estudo da Bíblia e do livro texto diariamente, estimulando a participação ativa de seus estudantes nos culto de domingo.

Mary Baker Eddy afirma, no Manual da Igreja Mãe, que da Lição Bíblica depende grandemente a “prosperidade da Ciência Cristã” (p.31), possuindo valor inestimável para os que buscam a Verdade (Mis. 114:1).

amesbury_gallery_02_thumb102Residência de Mary Baker Eddy, entre 1862 e 1870, Amesbury, MA, EUA.

Longyear Museun

 

PRINCIPAIS FATOS HISTÓRICOS

1872: As primeiras Lições Bíblicas, que os Cientistas Cristãos estudavam, eram conhecidas como Lições Bíblicas da Escola Dominical Internacional (International Sunday School Bible Lessons), também chamada de Série International(International Series) publicado pela The Sunday School Society, organizada em 1791 na Filadélfia. Em 1872, na convenção da Sunday School Society, foi aprovado um plano para uniformizar as lições bíblicas para uso em estudos bíblicos das igrejas protestantes.

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Casa de Mary Baker Eddy entre 1875 a 1882 – Lynn, MA, EUA.

www.longyear.org

 

1879: entre 1879 e 1889 Mary Baker Eddy foi pastor da “Church of Christ, Scientist”. Durante este período vários alunos seus serviram como “pastores auxiliares”.

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Casa em Lynn,  restaurada pelo Longyear Museun.

 

1888: pela primeira vez o The Christian Science Journal inclui “notas”, sob o ponto de vista da Ciência Cristã, junto as Lições Bíblicas da Escola Dominical Internacional(International Series) – intitulada “Lições Bíblicas”, escrito por Frank E. Mason, CSB, pároco (pastor auxiliar) da Igreja de Cristo (Cientista), em Boston. No início desta edição, apenas duas destas “notas”(Lições Bíblicas) eram publicadas por mês.

1889: em julho, a “International Series” (Lições Bíblicas da Escola Dominical Internacional), publicada no Journal, vem acompanhada de algumas referências ao livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy. A lição desta edição foi dividida em quatro temas, um para cada domingo do mês.

O mesmo periódico (Journal), na forma de aviso, explica que a The Christian Science Publishing Society (Sociedade Editora da Ciência Cristã) estava se preparando para emitir uma série de sermões sobre temas da Ciência Cristã, para uso nas reuniões de domingo.

Para isso, a Sra. Eddy nomeia uma comissão, de quatro pessoas (Julia Bartlett, Ira O. Knapp, William Johnson, Rev. Lanson Norcross), para prepararem comentários e notas, na forma de folheto, apresentando o ponto da Ciência Cristã em relação às Lições Bíblicas da Escola Dominical Internacional.

Esta iniciativa vai atender  igrejas onde não existiam pastor. Pela primeira vez, em dezembro, a Lição Bíblica da Ciência Cristã aparece impressa separa do Journal. O objetivo deste material foi dar mais espaço para a publicação de artigos neste periódico.

 

1890: na edição de fevereiro, do Journal, o emblema - “a cruz e a coroa”, aparecem estampadas no folheto das “Lições Bíblicas” (“notas e comentários” relativos às Lições Bíblicas da Escola Dominical Internacional).

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No Journal, do mês de março, um comunicado fala que na edição de abril as “notas e comentários” relativos às Lições Bíblicas da Escola Dominical Internacional serão publicados na forma de livrete trimestral.

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Pleasante View – Concord, New Hampshire, 1890 -  www.longyear.org

 

Desta forma, é instituído o primeiro Livrete Trimestral da Ciência Cristã - The Christian Science Quarterly, Volume 1, Número 1, abril-maio-junho de 1890, com copiosas referências da Bíblia e passagens correlativas do livro Ciência e Saúde. Selecionadas por uma comissão de quatro pessoas, onde o nome de Frank E. Mason, CSB não aparece na publicação.

Somente mais tarde é que a Sra. Eddy introduz seus próprios temas. Um artigo do Journal, mês de maio, descreve uma experiência bem sucedida de seleções da Bíblia e de Ciência e Saúde usadas no lugar de um sermão proferido por um pastor.

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Pleasante View,  a partir de  Pleasante Street, 1903.

www.longyear.org

 

1891: A prática da leitura das "Lições Bíblicas" nos cultos de domingo tornou-se tão generalizada que, numa reunião da Associação de Cientistas Cristãos, em outubro, o tema entrou em pauta, havendo longa discussão, com registro a favor desta prática no lugar de sermões proferido por pessoas.

Neste ano, para tornar uniforme os serviços religiosos das igrejas da Ciência Cristã, a Sra. Eddy introduz uma “Ordem do Serviço”, que incluía leituras da Bíblia e de Ciência e Saúde, na forma de sermão.

1894: A Sra. Eddy ordena, no dia 14 de dezembro, a Bíblia e Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras pastor d’A Igreja Mãe, A Primeira Igreja de Cristo Cientista, em Boston:

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“Eu, Mary Baker Eddy, ordeno a BÍBLIA e CIÊNCIA E SAÚDE COM A CHAVE DAS ESCRITURAS  Pastor de A Igreja Mãe, A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, em Boston, Ma., e eles continuarão a pregar para esta Igreja e para o mundo” (Manual da Igreja, p.58).

1895: Daisette McKenzie recorda-nos que a Sra. Eddy, antes de ordenar a BÍBLIA e CIÊNCIA E SAÚDE COM A CHAVE DAS ESCRITURAS Pastor d’A Igreja Mãe, vinha recebendo cópias de sermões, proferidos nas igrejas que Cristo, Cientista, onde não distinguia se o escritor destes textos era cientista cristão, espiritualista ou teosofista.

Por isso, retirou-se em oração para saber o que fazer no intuito de solucionar este impasse. No final de três semanas recebeu a resposta, resolvendo o problema ao ordenar (Conhecemos Mary Baker Eddy, 1ª Edição, p.47-48): “a Bíblia e Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras pastor de todas os filiais d’A Igreja Mãe” (publicado no Journal de abril).

 

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  10 mil pessoas vistaram Mary Baker Eddy, em Pleasante View - 1903.

www.longyear.org

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As Lições Bíblicas da Ciência Cristã constituem uma fonte diária de consolo, apoio e inspiração. Cada Lição consiste de versículos bíblicos, ampliados e explanados pelas passagens correlativas deCiência e Saúde com a Chave das Escrituras.

As ideias inspiradas das Lições Bíblicas podem ser aplicadas no trabalho, no lar, na escola, onde quer que você vá. Esse esboço prático de estudo espiritual autodidata analisa tópicos pertinentes à vida diária. As passagens são selecionadas com o objetivo de oferecer um fundamento para o estudo independente de um tema semanal.

O Livrete Trimestral com citações consiste de uma página e das referências para a lição, permitindo que você leia e estude nos livros cada seção, dentro do contexto.

Esse recurso diário pode ajudá-lo a encontrar inspiração e coragem para fazer escolhas inteligentes, resolver situações desafiadoras e ser uma fonte de consolo para outras pessoas. (O ARAUTO DA CIÊNCIA CRISTÃ)

 

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Sobre o tema acesse:

SUGESTÃO PARA ESTUDAR AS LIÇÕES BÍBLICAS DA CIÊNCIA CRISTÃ.

"OFICINA BÍBLICA DE FÉRIAS - 2011: NOTÍCIAS - Relatório das atividades

Filhos de Israel.

Terra Prometida: Canaã.

MEMÓRIA - 1ª Oficina Bíblica de Férias: "Como estudo a Lição Sermão".

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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

PIONEIRO DA CIÊNCIA CRISTÃ NO ESTADO DE SANTA CATARINA: Otto Schaefer

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HISTÓRIA:

 

1ª Igreja CC Blumenau_14.01.2013_ Foto Edésio Ferreira Filho.

1ª Igreja de Cristo, Cientista Blumenau, SC, Brasil. 

 

 

Pioneiro da Ciência Cristã

no estado de Santa Catarina: Otto Schaefer 

 

 

Otto Schaefer, marceneiro, conheceu a Ciência Cristã, na Suíça, instalou-se em Hansa-Hammonia, hoje Ibirama. Difundiu a Ciência Cristã, através das curas que realizou.

Muita gente vinha até Hammonia a procura de cura. Eram de Porto União, Mafra, Canoinhas, Florianópolis, Blumenau, Joinville, entre outras cidades [temos registros de curas realizadas por ele – relatos das senhoras Dolores, Mita e Marta, que foram membros da  Sociedade de Ciência Cristã de Curitiba].

1_Hammonia 04 - Cópia 

Foto: autor desconhecido

 

O Sr. Otto possuía uma grande casa, que foi usada como hotel, onde  era servido alimentação,   para hospedar os doente, além de realizar cultos da Ciência Cristã.

Em 1921, diversas famílias interessadas nos ensinamentos desta Ciência, iam de trem de Blumenau para Hamonia com a finalidade de assistirem ao culto dominical da Ciência Cristâ, na casa do Sr. Otto Schaefer.

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Estação Ferroviária de Hamonia - Fotos: autor desconhecido

 

Quando o número de estudantes de Ciência Cristã cresceu, em Blumenau, a família Bonemassou ofereceu uma sala de sua casa para que realizassem os cultos. Então, o Sr. Schaefer ia até esta cidade, de vez em quando, para celebrar cultos dominicais.

Fonte: Arquivos da 1ª Igreja de Cristo Cientista, do Rio de Janeiro e memórias de Robert Duenki e Irma Mueller Machado da Luz. Organização: Edésio Ferreira Filho, MSc.

4_ Hammonia - Cópia           Hamonia -  Foto: autor desconhecido

 

 

Sobre Ibirama, Santa Catarina - Brasil 

Ibirama localiza-se a uma latitude 27º03'25" sul e a uma longitude 49º31'04" oeste, estando a uma altitude de 150 metros, acima do nível do mar, apresenta clima Subtropical. Com  área de 246,705 km², faz divisa com  Apiúna, Ascurra, Benedito Novo, José Boiteux, Lontras, Presidente Getúlio e Rio do Sul. Distante de Florianópolis, 200 Km. Sua população,  estimada em 2011,  era de 17 447 habitantes. 

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Até o século XVI, a região onde se localiza a cidade situava-se na fronteira entre o território tradicional dos índios carijós, no litoral e o território tradicional dos índios caingangues, no interior. A partir desse século, com a chegada dos exploradores europeus, as populações indígenas nativas passaram a ser perseguidas por estes para servirem de mão de obra escrava.  "Ibirama" é uma palavra tupi que significa "terra da fartura", através da junção dos termos yby ("terra") e ram ("promissor", "que será").

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Foto: autor desconhecido

 

Em 30 de março de 1897, foi organizada em Hamburgo, Alemanha, a Sociedade Colonizadora Hanseática, com o objetivode colonizar as terras devolutas dos vales dos rios Hercílio e Itapocu, concedidas pelo Governo de Santa Catarina.

No dia 7 de novembro de 1897, saíram, da Subida (em Apiúna, em Santa Catarina), o presidente da Sociedade Colonizadora Hanseática, A. W. Sellin; o engenheiro Emil Odebrecht; seis operários brasileiros e um cozinheiro alemão, em canoas subindo o Rio Itajaí-Açu até chegarem à confluêcia com o Rio Itajaí do Norte, onde pernoitaram.  

No dia seguinte, 8 de novembro, chegaram à Barra do Ribeirão Taquaras, onde foi oficializada a fundação da colônia. Foram feitas explorações, achou-se o lugar ideal para a sede da nova cidade, Hansa-Hammonia.  Seus colonizadores foram basicamente alemães e italianos.

Em julho de 1899, veio residir no lugar, com muito ânimo, o primeiro colono, o Sr.Willy Luderwald e sua esposa e, no final do mesmo ano, chegaram as famílias de: Karl Engelhardt, Ludau Kitzenger, Ochmanne e Conrado Wagner, este último, solteiro. Novos colonizadores foram chegando e se dedicando à agricultura e pecuária e, em pouco tempo, foram surgindo incipientes, mas promissoras atividades industriais, especialmente nos ramos de laticínios, madeiras, féculas e produtos derivados de suínos.

Hansa-Hammonia subordinado a Blumenau, foi elevado à categoria de Distrito deste município  pela lei municipal nº 60, de 02-03-1912. Com a denominação de Dalbérgia, pelo decreto estadual nº 498, de 17-02-1934, desmembrado de Blunemau, sede no povoado de Nova Breslau e Nova Bremem. Constituído de 4 distritos: Dalbérgia, Harmônia, Gustavo Richard e José Boiteux. Foi  instalado município em 02-031934.

Finalmente, em 1943, a lei que fixava o Quadro Territorial do Estado de Santa Catarina, alegando tratar-se de um nome estrangeiro, passou a denomina-lo Ibirama. Fonte:  Wikipédia - a enciclopédia livre.

 

 Nota: em janeiro de 2012, Edésio Ferreira Filho,  Meire e Maisa Alves, MSc. iniciaram a coleta de dados históricos  sobre a criação do Cemitério Confessional da Ciência Cristã, em Blumenau. Este material será publicado oportunamente.

 

logo_RAIO DE SOL no Paraná I

 

A coleta de dados sobre o Cemitério Confessional da Ciência Cristã, em Blumenau,  e a publicação desta página  são desdobramentos do evento RAIO DE SOL PARANÁ, realizado em Mandirituba/Curitiba - em janeiro de 2007. Organizado por Edésio Ferreira Filho e Ramona Esther Nunez.

Organização desta página: Edésio Ferreira Filho, MSc. 

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Sobre o Raio de Sol no Paraná acesse:

 

   peabirucamp.contato@gmail.com

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domingo, 11 de janeiro de 2015

TAREFAS DO CRISTIANISMO DE LIBERTAÇÃO (III): CRÍTICA DA LÓGICA SACRIFICIAL

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Se o capitalismo de fato funciona como uma religião ou se tomou o lugar das religiões tradicionais, para criticá-lo é preciso entender os meandros da religião e dos "segredos" dos conceitos teológicos como "sacrifício", "dívida/culpa" e "promessa" que apresentam dominação e exploração como caminho de "salvação". Não levar em consideração os aspectos religiosos e teológicos do sistema capitalista é fazer uma crítica ao capitalismo dentro da compreensão da modernidade que o próprio capitalismo criou como parte da sua ideologia. Em outras palavras, a crítica teológica tem um papel fundamental não somente para os crentes, mas para toda a sociedade e o futuro da humanidade.  J. Rieger e N. Míguez, de "Para além do Espírito do Império", Paulinas, 2012.

 

Ferenczy,_Károly_-_Sermon_on_the_Mountain_(1896) (1) - Cópia    Sermão da Montanha (1896) de  Károly Ferenczy

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Tarefas do Cristianismo de Libertação (III):
crítica da lógica sacrificial
 
Jung Mo Sung

 

"Infelizmente a cristandade - o cristianismo que se alia ao império - retomou a teologia sacrificial e assim reforçou a lógica sacrificial dominante nos impérios. Quando a sociedade crê que deus não pode salvar sem exigir sacrifícios, até mesmo do seu próprio filho amado, é claro que vai aceitar como "natural" o discurso do sistema de mercado capitalista quando fala dos sacrifícios necessários exigidos pelo mercado. Assim como aceitou a escravidão e exploração colonial como sacrifícios necessários para o progresso e, também, para a salvação da alma desses sacrificados.

 

No primeiro artigo desta série (I) eu afirmei que o Império global hoje domina por sedução e que os sacrifícios religiosos continuam sendo oferecidos aos deuses, só que o deus de hoje é uma força impessoal (o sistema de mercado global) que domina as nossas vidas cotidianas e impõe sacrifícios de vidas dos mais pobres. No segundo (II), eu expus a tese de que é preciso superar a imagem da modernidade pintada pelo próprio mundo ocidental moderno e repensá-la, não como centrada na razão e emancipação, mas como racionalidade a serviço da irracionalidade da acumulação de capital à custa de escravidão, colonização e genocídios; emancipação construída sobre exploração de outros povos.

Neste terceiro, eu quero aprofundar o tema da lógica sacrificial. Para entender a importância deste tema, precisamos nos lembrar que nós vemos, analisamos e julgamos a vida pessoal, social e a dinâmica da sociedade através do que Hinkelammert chama de "marco categorial", isto é, um conjunto de categorias articuladas por uma determinada lógica. E um das categorias fundamentais do Ocidente tem sido a de "sacrifício".

Sacrifício (ato sagrado), no sentido mais primitivo, é uma oferenda - geralmente a vida de uma pessoa ou animal - que um sacerdote (pessoa sagrada) oferece a Deus, cumprindo com a exigência divina em troca de um benefício ou da suspensão de algum castigo. Nas teologias sacrificiais, Deus ou deuses são sempre exigentes, não dão nada de graça e nem perdoam. O não cumprimento das suas leis produz uma grande desgraça, por isso o contínuo oferecimento de sacrifícios para evitar a ira divina.

O segredo é a aceitação de um pequeno mal - como sacrificar a vida de alguém ou aceitar algum sofrimento na vida pessoal - para conseguir um bem maior. Assim, na lógica sacrificial, a imposição de sofrimento ou morte sobre alguns se transformam no bem. Isto é, a lógica sacrificial inverte o mal em um bem! É uma completa inversão de valores humanos-éticos em nome de deus, ou, segundo a crítica bíblica, em nome do ídolo.

Esta é a razão pela qual Jesus, retomando uma afirmação de Oséias, acusa o sistema social e religioso do seu tempo de não ter entendido que Deus quer misericórdia e não o sacrifício!

Infelizmente a cristandade - o cristianismo que se alia ao império - retomou a teologia sacrificial e assim reforçou a lógica sacrificial dominante nos impérios. Quando a sociedade crê que deus não pode salvar sem exigir sacrifícios, até mesmo do seu próprio filho amado, é claro que vai aceitar como "natural" o discurso do sistema de mercado capitalista quando fala dos sacrifícios necessários exigidos pelo mercado. Assim como aceitou a escravidão e exploração colonial como sacrifícios necessários para o progresso e, também, para a salvação da alma desses sacrificados.

Sem uma crítica radical à lógica sacrificial presente no inconsciente coletivo ou no fundo das nossas culturas, a crítica radical ao sistema de mercado global não será eficaz. Para isso, é preciso começar com uma afirmação teológica básica: Deus não quer sacrifícios, mas sim misericórdia e justiça para os pobres e oprimidos! Esta é uma tarefa que a teologia e o cristianismo de libertação precisam assumir.

E a morte de Jesus na cruz? Jesus e os evangelhos não interpretaram a cruz como uma exigência sacrificial de Deus que deveria ser aceita. Pelo contrário, Jesus afirmou que ele dava a sua vida livremente, não como obediência uma exigência da lei divina. Isto é "dom de si", doar a sua vida na luta pela vida dos mais fracos. Pedro, no primeiro discurso após pentecoste diz claramente que o Templo matou Jesus e Deus ressuscitou. A ação de Deus não está presente na crucificação, pois não era sua vontade, mas só na ressurreição para mostrar o erro da lógica sacrificial.

Os sacrifícios exigidos e aceitos só se justificam através do cumprimento das promessas da recompensa. Quando isto não ocorre, foi um sacrifício em vão e os sacrificadores não são mais vistos como sacerdotes, mas como assassinos. É por isso que os "sacerdotes" do Império dizem que a razão do não cumprimento das promessas do mercado para o mundo todo é que ainda faltam mais sacrifícios. Se reconhecessem que estão impondo sacrifícios em vão, eles se perceberiam como assassinos.

Por outro lado, quem doa sua vida pela vida do seu próximo, não faz por obediência a uma lei divina, mas livremente, deixando-se levar pela força interna da compaixão e do amor-solidário. Por isso, quem luta livremente por amor ao próximo, mesmo que não logre o objetivo político-social, não sente como se tivesse feito um sacrifício em vão. Sabe que a luta valeu por ela mesma, porque foi expressão da sua liberdade e solidariedade e assim se tornou mais livre e mais humano.

 

Autor: Jung Mo Sung é autor de "Sujeitos e sociedades complexas", Vozes.

Fonte: CEBI - Centro de Estudos Bíblicos.

Nota: Tarefas do Cristianismo de Libertação (III): crítica da lógica sacrificial  não representa o pensamento do  Movimento da Ciência Cristã - A Igreja Mãe em Boston ou qualquer de suas filiais, sociedades ou grupos informais de estudos, existentes em diferentes países do mundo,  foi publicado para refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia no contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica em que seus relatos foram escritos. Conforme recentes descobertas sobre fatos nela registrados e a opinião de estudiosos do texto bíblico. Com o objetivo de alcançarmos o significado espiritual das Escrituras e compreendermos o verdadeiro papel do cristão nos dias de hoje.

Sobre o tema leia: Tarefas do Cristianismo de Libertação (II): modernidade e a idolatria - FETICHISMO DO DINHEIRO E A GRAÇA DE DEUS: A NOVIDADE NA ALEGRIA DO EVANGELHOJESUS VAI AO McDONALD’S  -  A CURA CRISTÃ E TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO.

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domingo, 4 de janeiro de 2015

REIS MAGOS ONTEM E HOJE

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Reis Magos ontem e hoje

Leonardo Boff

 

No Segundo Testamento1  há duas versões do nascimento de Jesus. Uma do evangelho de Lucas que culmina com a adoração dos pastores. A outra, do evangelho de Mateus, que se concentra na adoração dos três reis magos. A lição é: judeus e pagãos, cada um a seu modo, encontram Jesus.

As Escrituras judaico-cristãs deixam claro que Deus não se revelou apenas aos judeus. Antes de surgir o povo de Israel com Abraão, revelou-se a Enoque, a Noé, a Melquisedeque, depois a Balaão e ao rei Ciro. Os reis magos pertencem a este grupo. Quem eram eles?

Eram astrólogos vindos provavelmente da Babilônia. Naquele tempo astronomia e astrologia caminhavam juntas. Certo dia, estes sábios descobriram uma estranha conjunção de Júpiter com Saturno que os aproximou de tal forma que pareciam uma única grande estrela, na constelação de Peixes.

Desde o tempo de Kepler (+1630) os cálculos astronômicos mostraram efetivamente que no ano 6 antes de Cristo (data do nascimento de Cristo pelo calendário corrigido) ocorreu tal conjunção. Para os sábios, este fato possuía grande significação. Júpiter, na leitura astronômica da época, era o símbolo do Senhor do mundo.

Saturno era a estrela do povo judeu. E a constelação de Peixes era o sinal do fim dos tempos. Os sábios babilônicos assim interpretaram: no povo judeu (Saturno) nascerá o Senhor do mundo (Júpiter) sinalizando o fim dos tempos (Peixes).

Então se puseram a caminho para prestar-lhe homenagem. Sempre houve na história dos povos, pessoas simples ou sábios que se puseram a caminho em busca de salvação, quer dizer, de uma totalidade integradora. Deus foi a seu encontro nos seus modos de ser e de pensar.

Mas por que foram encontrar Jesus? Porque, segundo a compreensão dos cristãos, Jesus é um princípio de ordem e de criação de uma grande síntese humana, divina e cósmica. Quando dão o título de Cristo a Jesus querem expressar esta convicção.

Esta síntese se encontra também em outras religiões sob outros nomes: Sabedoria, Logos, Iluminação, Buda, Tao. Estes são os "ungidos e consagrados" (significado de Cristo) para serem um centro a trator e unificador de tudo o que há no céu e na terra. Mudam os nomes, mas o sentido é sempre o mesmo.

Nossa realidade, entretanto, é contraditória. É feita de elementos sim-bólicos e dia-bólicos, de verdade e de falsidade, de bondade e de maldade. Como podemos distinguir um do outro? Como criar uma ordem superior que ultrapasse essas contradições? Precisamos de um Centro ordenador e animador de uma síntese pessoal, social e também cósmica.

Os evangelistas usaram o fenômeno astronômico para apresentar Jesus como aquele Senhor do Universo que vem sob a forma de uma criança para unificar tudo. Essa Energia é divina mas não exclusiva. Ela se expressa sob muitas formas históricas. Em Jesus, o Cristo, ganhou uma concretização que mobilizou outras culturas com seus sábios vindos do Oriente.

Todos os caminhos levam a Deus e Deus visita os seus em suas próprias histórias. Todos estão em busca daquela Energia que se esconde no significado da palavra Cristo.

Esse encontro com a Estrela produz hoje, como produziu ontem, alegria e sentimento de integração. Haverá sempre uma Estrela no caminho de quem busca. Importa, pois, buscar com a mente sempre desperta aos sinais como os reis magos.

 

1 Alguns usam o termo "O Segundo Testamento" no lugar de "O Novo Testamento" principalmente por respeito aos nossos irmãos que abraçam a religião judaica.

 

Nota: “Reis Magos ontem e hoje” foi publicado para refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica em que seus relatos foram escritos. Conforme recentes descobertas sobre fatos nela registrados e a opinião de estudiosos do texto bíblico. Com o objetivo de alcançarmos o significado espiritual das Escrituras.

O texto não representa necessariamente a opinião deste blog ou do Movimento da Ciência Cristã – A Primeira Igreja de Cristo Cientista, em Boston, ou qualquer de suas filiais, sociedades ou grupos informais de estudos, existentes em diferentes países do mundo.

 
Sobre o tema: A ESTRELA QUE GUIOU OS MAGOS, publicado em 24 de dezembro de 2012.

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Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras   de Mary Baker Eddy

PERGUNTAS E RESPOSTAS:

Pergunta. - O que é Deus?

Resposta. - Deus é a Mente, o Espírito, a Alma, o Princípio, a Vida, a Verdade, o Amor; é incorpóreo, divino, supremo, infinito.

GLOSSÁRIO:

Cristo. A divina manifestação de Deus, que vem à carne para destruir o erro encarnado.

 

 

“A estrela de Belém é a estrela de todas as épocas, a luz do Amor [...].”

Mary Baker Eddy

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