terça-feira, 21 de agosto de 2012

A CIÊNCIA CRISTÃ NA RÚSSIA

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São Petersburgo

 

A Ciência Cristã na Rússia

A cura espiritual na era stalinista

 

1901 - Leo Tolstoy acusa o recebimento do exemplar de Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy.

 1906 -  O marido de Lille  Wallich (Inglaterra) é contratado para trabalhar na Rússia.  

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1907 - Lille Wallich chega a São Petersburgo.

Saída do requinte da Inglaterra, Lillie Wallich, praticista da Ciência Cristã, foi ter a um país agitado por problemas políticos e sociais que desembocariam, por fim, na destituição do czar e na instauração da era comunista.

  Algumas semanas após sua chegada, a Sra. Wallich estava curando pessoas de tuberculose, convulsões, e problemas de negócios. Esse trabalho de cura atraiu um grupo dedicados de estudantes.

Alguns, a princípio, estavam tão inseguros e temerosos, pela total novidade da Ciência Cristã, e só assistiam aos cultos da soleira da porta do apartamento dela.  Entre eles havia pessoas que acabariam presas nos gulags, por fidelidade à nova religião.

1910  - Bicknell Young profere uma conferência da Ciência Cristã na sala do apartamento  da Sra. Wallich.

Bicknell Young com sua esposa, à direita, e uma mulher que pode ter sido sua secretária.

 

1911 - A Sala de Leitura da Ciência Cristã fica aberta das 16 às 18 horas.

25 de 0utubro de 1917 - Revolução bolchevique

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 Lenin

 

1918 - Em meio as mudanças que varriam a Rússia  Olga Alexandrovna Barteneva começa a estudar a Ciência Cristã, que lhe seria uma rocha e um esteio para enfrentar o ateísmo estatal e o terror stalinista.

29 de 0utubro de 1917O  grupo de estudantes de Ciência Cristã passa a ser reconhecido como Sociedade de Ciência Cristã.

A máquina de repressão  do governo soviético ainda não estava completamente   aparelhada, por isso mesmo em um clima de crescente opressão religiosa, o grupo de Cientistas Cristãos conseguiu se registrar junto às autoridades, em 1921, e manter legalmente cultos públicos até 1928.

Neste período, apesar das dificuldades para obter passaporte  Olga Alexandrovna Barteneva  conseguiu ir a Londres para obter instrução em Classe Primária (curso básico) de Ciência Cristã.

Berteneva, enfermeira diplomada e professora de línguas, exerceu diversos cargos na Sociedade de Ciência Cristã,  através dos anos: secretária, membro da diretoria, superintendente da Escola Dominical e Leitora.

31 de 0utubro de 1917 - A Sociedade de Ciência Cristã se dissolve.

Abril de 1923 - Nova lei exige que os grupos religiosos tenham 50 membros para serem reconhecidos.

1924 - Falecimento de Lenin. Stalin assume o Poder.

 

A cura espiritual na era stalinista    

“Quero que o mundo conheça Olga Barteneva” 

 

1924 -  A Igreja Mãe novamente reconhece a Sociedade de Ciência Cristã de  Leningrado (São Petersburgo).

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5 de abril de 1925 - A Sociedade abre uma Escola Dominical.

20 de novembro de 1925 -  Uma Cientista Cristã cede seu apartamento para que nele se realize cultos.

24 de julho de 1926 - As autoridades informam a Sociedade de que religião só se pode ensinar em casa.

1927 - Pequenos grupos estudam a Ciência Cristã em Moscou, Kiev e Vladivostock.

26 de março de 1928 - As autoridades fecham a Sociedade de Ciência Cristã, mas muitos continuam a reunir-se informalmente.

1º de novembro de 1928 - O governo confisca o apartamento onde a  Sociedade de Ciência Cristã realizava os cultos.

2 de novembro de 1928 - A Sociedade entra com recurso contra o confisco, através de Olga Alexandrovna Barteneva. 

13 de fevereiro de 1929 - A Sociedade de Ciência Cristã ainda existe e busca um local para se reunir. Documentos de seu próprio punho de Barteneva  mostram como foi  intrépido este grupo de Cientistas Cristãos.

Os Cientistas Cristãos obedeciam conscienciosamente às exigências das autoridades ao notificarem a realização de cada culto e todas as decisões tomadas nas reuniões de diretoria.

Neste período Barteneva também  negociou com os burocratas a permissão para receber, através da alfândega russa, um exemplar de cada periódico da Ciência Cristã.

Com isso, a Sociedade de Ciência Cristã na Rússia, forneceu as autoridades documentos, mantidos na KGB no “Arquivo Secreto” Nº   384”, que foram usados posteriormente para acusar de “espionagem” tanto Barteneva como os outros membros, por serem filiados a uma religião que tinha bases no exterior.

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Olga Alexandrovna Barteneva – foto de Tatyana Sokolava

 

“Olga Alexandrovna Barteneva

 não tinha medo de absolutamente nada”.

 

28 de março de 1929 - A Sociedade de Ciência de Ciência Cristã é forçada a fechar.

O grupo de Cientistas Cristãos é obrigado a se esconder e Barteneva enviada pelas autoridades para trabalhar em Moscou.  

30 de outubro de 1930 – Em Moscou, Olga Alexandrovna Barteneva é  capturada, acusada de espionagem,  depois de realizar um culto dominical com um punhado de Cientistas Cristãos. Foi sentenciada a dez anos no campo de concentração de Ukhta, no extremo norte da Rússia. 

20 de dezembro de 1940 - Olga Alexandrovna Barteneva  é mandada ao exílio dentro do território nacional na Bashkiria, na região dos Monte Urais, onde trabalhou como governanta na casa de um ministro do governo regional. Ali, através de uma cura, trouxe para a Ciência Cristã a esposa do ministro.

1943 - Como exilada, Barteneva não tinha permissão de viajar. Porém, muitas vezes ia secretamente a Moscou, onde conseguia literatura da Ciência Cristã contrabandeada.

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Numa dessas viagens conheceu Tatyana Sokolova, uma editora de música que sofria de tuberculose. Sokolova, que ficou impressionada pela atitude amorosa e destemida de Barteneva, foi mais tarde curada da tuberculose, através da Ciência Cristã.  

Acredita-se que Barteneva tenha sido a única Cientista Cristã, entre os que foram presos por “espionagem” no início dos anos 30, a sobreviver no gulag soviético.

 

15 de dezembro de 1956 -  Olga Alexandrovna Barteneva é reabilitada e regressa a Leningrado, onde designaram um quarto em um apartamento onde moravam mais oito famílias.

Depois disso, buscou estabelecer contato com a comunidade de Cientista Cristã do passado. Foi até o endereço onde, antes da revolução, funcionava a Sociedade de Ciência Cristã de Tallin, na Estônia. O zelador do prédio disse que uma Cientista Cristã de Vilnius, na Lituânia, também estivera lá com a mesma intenção e deixara seu endereço.

O contato de Vilnius, cidade mais próxima e mais aberta ao ocidente, ajudou Barteneva a receber mais literatura da Ciência Cristã.

Em Moscou, Barteneva se encontrava com Tatyana Sokolava e muitas vezes ia ao apartamento de Lina Prokofiev, esposa do falecido compositor Serguei Prokofiev. A Sra. Prokofiev era estudante da Ciência Cristã e aproveitava sua posição para a distribuição da literatura da Ciência Cristã contrabandeada.

LINA                                                Serguei e Lina Prokofiev

 

1961 - Publica-se a tradução russa de Ciência e Saúde com Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy.

1963 - O concertista americano Malcolm Fraser  por ocasião de sua turnê de concertos pela União Soviética, juntamente com sua esposa  Morag Fraser encontram-se secretamente com Barteneva. Sobre este encontro, a senhora Fraser faz o seguinte comentário a respeito de Barteneva: “É preciso um senso de amor profundo, para se libertar de uma injustiça como essa, que sua cura extraordinária me impressiona até agora”.  

                 Malcolm Frager

Malcolm  e  Morag Frager

 

           1º de Maio, Praça Vermelha, Moscou, 1969

 

1974 - Em entrevista realizada em julho de 1997 Tatyana Sokolova com o rosto que se abria num sorriso, misto de humor e grato apreço,  conta que  as visitas secretas de Barteneva eram ocasiões de grande energia espiritual, nas quais as conversas   sobe teologia perigavam explodir em debates, ainda em meia voz. Coisas perigosas na era stalinista, em que as paredes tinham ouvidos e o ateísmo era a religião do estado.

O que mais impressionou aqueles que a conheceram antes de falecer, em 1974, foi o fato de que não guardava nenhum rancor por tudo o que havia passado.

Fragmentos da história de Barteneva, constantes dos arquivos d’A Igreja Mãe, ou colhidos de documentos recentemente obtidos dos arquivos da KGB, a polícia da época, bem como de conversas com aqueles que a conheceram, trazem detalhes  interessantes de sua odisseia espiritual.  

Os que conheceram Olga Alexandrovna Barteneva  em seus últimos anos, ficaram impressionados por seu notável  espírito de liberdade. Apesar de sua vista falhar e não obstante os entraves a prática da religião, ela viajava sozinha, literalmente atravessando o país até Moscou, numa missão da qual não se desviava.

As fichas da polícia secreta, relativa aos Cientistas Cristãos, dizem que ela era membro da antiga “nobreza”, filha de um general do exército czarista.

Por isso, ela havia recebido uma instrução (falava quatro idiomas) que lhe proporcionavam aquela confiança necessária para forçar e esticar os limites da burocracia do novo estado soviético, em benefício  dos direitos do grupo de Ciência Cristã.

Sokolova falou do amor profundo que Barteneva tinha pela Ciência Cristã  declarando com firmeza: Quero que o mundo conheça Olga Barteneva”.  

 

1990 - Inicia-se a irradiação do O Arauto da Ciência Cristã em russo, por ondas curtas. 

1996 - A Igreja Mãe reconhece a Sociedade de Ciência Cristã de São Petersburgo.

 

A  linha do tempo  sobre a Ciência Cristã na Rússia foi organizada a partir dos artigos  escritos por Clara Germani: “A primeira pioneira” “A cura espiritual na era stalinista”. Editados na revista  O Arauto da Ciência Cristã de novembro de 1998, volume 48, número 11 -  The Christian Science Publishing Society. Todos os direitos reservados.

 

Clara Germani foi correspondente do jornal Baltimore Sun de 1995 a 1997. Em 1998 era redatora de uma página do Christian Science Monitor, sendo correspondente desse jornal na América do Sul e em Washington, D.C.

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Gulag

Gulag (em russo: ГУЛаг de Главное управление исправительно-трудовых лагерей и колоний, translit: Glavnoye upravleniye ispravitelno-trudovykh lagerey i kolonij; em português: Administração Geral dos Campos de Trabalho Correcional e Colônias) era um sistema de campos de trabalho forçados para criminoso, presos políticos e qualquer cidadão em geral que se opusesse ao regime da União Soviética, sendo porém que a grande maioria era de preso político, no campo Gulag de Kengir, em junho de 1954, existiam 650 presos comuns e 5200 presos políticos.

Este sistema funcionou de 25 de abril de 1930 até 1960 foram aprisionadas milhões de pessoas, muitas delas vítimas das perseguições de Stalin, as consideradas "pessoas infames", para a chamada "Pátria Mãe" (a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), e que deveriam passar por "trabalhos forçados educacionais" e merecerem viver na chamada "Pátria Mãe".

O Gulag tornou-se um símbolo da repressão da ditadura de Stalin. Na verdade, as condições de trabalho nos campos eram bastante penosas e incluíam fome, frio, trabalho intensivo de características próprias da escravatura (por exemplo, horário de trabalho excessivo) e guardiões desumanos. Floresceram durante o regime chamados pelos historiadores de stalinistas da URSS, estendendo-se a regiões como a Sibéria e a Ucrânia, por exemplo, e destinavam-se, na verdade, a silenciar e torturar opositores ao regime.

Embora muitas vezes comparado aos campos de concentração nazistas, os motivos que presidiram à construção de ambos são bastante diferentes: para os gulags, as motivações eram tanto a punição por crimes comuns e não de guerra, como ideologias contrárias ao comunismo, delitos de opinião, roubo, estrupo, imoralidade, vadiagem, etc., como também aos adversários políticos do comunismo, enquanto para os campos de concentração a motivação era predominantemente racial (bastante controvertido entre os historiadores, pois o "racial" tinha conotação de ideologia.

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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image                            O Arauto da Ciência Cristã – edição russa.

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terça-feira, 7 de agosto de 2012

A CURA CRISTÃ E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO.


A cura cristã e a
teologia da libertação

THOMAS JOHNSEN

A teologia cristã, cujo conteúdo é mais do que um exame de conhecidas premissas humanas, começa com as palavras e as obras de Cristo Jesus. Tem necessariamente de incluir a cura, a cura do pecado e da doença, que estão subjacentes aos maiores problemas do mundo atual.
Muitíssimas vezes, a teologia é encarada como assunto a ser debatido em seminários eclesiásticos, algo que os especialistas têm a capacidade de compreender.
Na Ciência Cristã, porém, em que todos são membros leigos e todos são iguais, encara-se a teologia de maneira diversa. Espera-se que todos os membros compreendam e pratiquem a teologia da Ciência Cristã. Aliás, é indispensável compreender essa teologia, a fim de pôr em prática a Ciência Cristã.
Deitado na calçada estava um homem coberto por um velho casaco bem grosso. Quando levantei o casaco, ele ergueu o rosto, antes apoiado numa revista, cujo tema principal era a guerra nuclear. Indaguei-lhe: "Você precisa de ajuda?" Ele me perguntou: "Será que vão mandar o mundo pelos ares?"
Naquela tarde gélida e garoenta, nada parecia muito útil, nem havia esperança. O jovem debaixo daquele casacão estava desempregado, não tinha casa para morar, vivia na rua, com a ajuda da assistência social. Sua história pessoal era negra: família destroçada, pobreza, drogas, prisão por furto, etc., etc.
Criado dentro da floresta urbana, isso lhe custara um preço psicológico, deixando-o ressentido e revoltado, sob uma camada exterior endurecida. Ao falar com outras pessoas, tinha por hábito desviar os olhos.
Esse encontro foi do tipo que não se pode esquecer facilmente. Foi uma dessas situações que nos fazem continuar a orar, durante muito tempo. Essa experiência, de um modo que as estatísticas sobre pobreza ou crime ou desemprego raramente o fazem, trouxe à baila a pergunta: "O que significa mesmo ser bom samaritano?" 1
Essa pergunta é de todo premente, num mundo em que milhões de pessoas são deixadas com "muitos ferimentos" à beira do caminho, despojadas de seus valores pelas forças econômicas e sociais que podem ser bem mais impiedosas do que o fora o bando de assaltantes na estrada de Jericó.
Não nos é possível passar "de largo:, tal como o fizeram o sacerdote e o levita na parábola de Cristo Jesus, sem negar nossos instintos cristãos mais profundos. De igual modo, é óbvia, porém, a necessidade de algo mais do que a mera simpatia ou boas intenções, se levamos a sério a questão de ajudar a humanidade.

O QUE É QUE DEVEMOS FAZER?
A questão de como ajudar, como atender de maneira prática a necessidades humanas de tal magnitude, ocupou lugar de destaque na agenda cristã do século passado.
Houve muitos esforços nobres e necessários, como as obras de caridade tradicionais, o Exército da Salvação e o influente movimento Social Evangelista, que pôs em destaque a função mais ampla das igrejas, no esforço de corrigir os males sociais.
Em anos recentes, o surgimento da "teologia da libertação" cristã levou esse esforço ainda mais adiante. Atendendo originalmente às condições da pobreza desesperadora e da opressão na América Latina, os teólogos da libertação deram enfoque à missão de reestruturar a sociedade econômica e politicamente.
 Argumentam, às vezes de maneira persuasiva, que a caridade tradicional não tem suficiente "alcance" para desfazer a injustiça endêmica.
"Cristo nasceu pobre para anunciar, em nome dos pobres, o fim da tirania," consta de um artigo sobre esse assunto, publicado numa revista, dizendo que a tarefa principal, colocada insistentemente sobre os ombros dos seguidores de Jesus, é a de trabalhar com os pobres por um mundo mais justo. 2
Seja o que for que pensemos a respeito da política de tais esforços, algumas vezes a dedicação com que são feitos, nos faz sentir pequenos. Conhecendo os sacrifícios pessoais de algumas pessoas que optaram por trabalhar entre os pobres, é natural que nos venha a seguinte pergunta:
"Estou eu fazendo realmente o bastante, fazendo tudo o que posso?" Talvez até mesmo nos perguntemos se, como Igreja, nossa dedicação ao trabalho de cura é deveras suficiente, se fazendo outra coisa não atenderíamos em sentido mais amplo às necessidades do mundo, de forma mais direta, ou se não haveria maior impacto ou se não seríamos mais úteis a um número maior de pessoas.
Não resta dúvida de que muitos de nós, na condição de indivíduos, pensamos que poderíamos e deveríamos fazer muito mais. O anseio por fazer mais é, em si mesmo, uma forma de oração e abre o caminho (geralmente ao estender e abrir de par em par o nosso próprio pensamento) para que todos, individualmente, encontremos oportunidades de servir que sejam cada vez maiores e de maior significado.
Se, no entanto, achamos que o trabalho da cura cristã, propriamente dito, é demasiado individual, tem orientação demasiadamente "espiritual", é demasiado "classe média", ou simplesmente por demais limitado quanto ao número de pessoas beneficiadas e cause efeito pouco visível diante das vastas necessidades da humanidade, quer dizer que permitimos que nosso conceito de ministério da Ciência Cristã tenha se reduzido ao extremo.
Precisaremos recuperar o conceito muito mais compulsivo da cura cristã, como o que foi expressado pela mulher que fundou esta revista e este movimento, Mary Baker Eddy, quando disse num sermão sobre esse assunto: "Estamos em meio a uma revolução.. . ." 3

O EXEMPLO ESCLARECEDOR DO MESTRE
Cristo Jesus pertencia a um povo oprimido e viveu num mundo que não estava, de modo algum, livre da injustiça econômica estrutural. Jesus surgiu para um povo que, do ponto de vista cultural, esperava um Messias. E havia a expectativa de que este fosse, entre outras coisas, um salvador político em torno de quem os judeus se reuniriam. Jesus rejeitou esse modelo convencional de qual deveria ser a sua função.
Recusou-se a se tornar o líder de um movimento de libertação política. A forma de seu advento contradisse sobremaneira a expectativa humana. Contudo, sua vida foi infinitamente mais revolucionária do que o modelo convencional e teve efeito muito mais libertador, não só para as pessoas individualmente, mas também para a sociedade como um todo.
Ao ser tentado no deserto, antes do início de seu ministério, o Mestre defrontou-se explicitamente com a pergunta de qual seria a sua função e que espécie de "reino" haveria de proclamar. As narrativas evangélicas dão breve esboço da experiência e, no entanto, incitam-nos a pensar, relatando que a Jesus se revelaram "todos os reinos do mundo" e lhe foi oferecido tornar-se autoridade temporal a governar todos eles.4
Talvez, em virtude de seu caráter e de sua pureza, a verdadeira tentação contida nessa sugestão não fosse pessoal (isto é, "pense quanto poder eu poderia ter"), mas humanitária (isto é, "pense quanto bem eu poderia fazer se ocupasse tal posição de poder").
Quantas vezes somos nós que nos vemos diante da sugestão diabólica de que primeiro precisamos atingir poder temporal, poder mundano, a fim de fazer o bem de uma forma realmente significativa ou, até mesmo, a sugestão mais sutil de que poderíamos fazer mais, por maior número de pessoas, se apenas nos curvássemos e servíssemos algo menos do que Deus.
O propósito da vida revolucionária de Cristo Jesus não era meramente proporcionar condições mortais melhoradas. Era libertar da própria mortalidade. Sua vida arrasou o mito de que a mortalidade é o estado verdadeiro do homem.
Jesus atendeu às necessidades das multidões por meio de suas obras de cura, mas perde-se o significado pleno dessas obras, se as consideramos intervenções especiais ou correções parciais num mundo decaído.
De igual modo, perde-se o significado pleno de sua ressurreição, se a encaramos como um triunfo singular, uma exceção milagrosa a uma ordem em que a morte é o produto normal, final, da vida.
Sua vitória contra a mortalidade destronou todo o sentido carnal de vida separada de Deus e ressaltou uma ordem inteiramente diversa, uma base espiritual para entender a Deus, entender o ser e o homem.
Essa ordem divina é o reino que Jesus descreveu como estando "próximo" 5 . Não é um estado futuro, mas o universo presente da criação de Deus, a emanação espiritual do Amor, da Vida infinita, a extravasar-se em bondade e harmonia infinitas.
Essa santa realidade é o grande fato do ser agora. É o grande fato de nosso ser. Apesar das aparências, não somos personalidades mortais dolorosamente inadequadas, moldadas pelas circunstâncias econômicas e sociais (assim como não somos moldados pela biologia).
Nem estamos aparentados uns com os outros como, em essência, os dotados e os despojados, ora objetos da inveja, ora da comiseração. Em Cristo não existem nem ricos nem pobres,6 parafraseando Paulo.
Existe apenas o homem, a imagem espiritual ou expressão de Deus, livre e jamais despojado, possuidor de tudo o que Deus sempre dá e, em última análise, incapaz de ter coisa alguma que não lhe tenha sido dada por Deus. Essa não é a perspectiva idealizada e interessante do homem, é a verdade que dá base à cura cristã e transpassa o mesmerismo aprisionador, tanto da pobreza, como da riqueza.

MINISTRAR COM COMPAIXÃO NO MUNDO DE HOJE
Jesus de Nazaré não seria lembrado até hoje, se no seu ministério ele se tivesse confinado a fazer humanamente o que já se podia fazer, humanamente, para ajudar outros. Ele é lembrado e honrado porque foi com compaixão que ele ministrou mediante o poder do Amor divino, porque não só ajudou, mas curou.
Pelo fato de ver Deus como a fonte de todo o poder e de toda a saúde, ele não encarava o poder de curar como se fora algo pessoal. Portanto, naturalmente esperava que seus seguidores também curassem em escala cada vez maior.7
O ministério da cura-pelo-Cristo foi ampliado notavelmente no século passado, em grande parte devido à devoção que os Cientistas Cristãos lhe dedicam. Esse ministério, porém, não deixa lugar à complacência para com injustiças sociais e políticas de longa duração.
 No passado, demasiadas vezes, a religião organizada realmente perpetuou essas injustiças, por ter enfocado com demasiada exclusividade a salvação pessoal ou por separar artificialmente as preocupações espirituais dos fatos supostamente seculares que moldam a vida das pessoas.
Se os Cientistas Cristãos são tentados nesse rumo, a portentosa visão cristã subjacente ao estabelecimento pela Sra. Eddy do jornal The Christian Science Monitor, deveria despertá-los prontamente!
Os males sociais constituem uma imposição sobre o "corpo político", assim como os males físicos o são sobre os corpos dos indivíduos. No sentido mais profundo, são manifestações do pecado, da negação cândida da mente mortal, sobre a existência de Deus.
Se aquiescemos passivamente na injustiça praticada para com os outros, aceitamos a injustiça como poder também existente em nossa própria vida. O Amor divino impele-nos sempre para além das estreitas preocupações restritas a nós mesmos.
A Ciência Cristã insiste em que nossa maneira humana comum de encarar as coisas e de presumir sobre o que é a realidade, não passa disso mesmo, é uma maneira de ver e de presumir da mente humana.
São produtos de uma consciência mortal limitada. Trazemos cura e redenção a todas as fases da experiência humana, apenas à medida que nos despojamos dessa consciência enganadora, quer individual quer coletivamente, e vimos a conhecer, em sua maior plenitude, o reino de Deus, sua dimensão e glória.
O processo todo começa por uma espiritualidade cada vez mais profunda de nossa própria parte. É óbvio que é muito mais fácil falar em termos teóricos sobre esse aprofundamento, do que persistir trabalhando arduamente para demonstrá-lo em nossa vida.
Contudo, a Ciência mostra a falsidade do argumento comum, aceito até mesmo por alguns cristãos, de que a espiritualidade é algo "muito íntimo" e basicamente irrelevante à tarefa de promover a justiça no mundo.
A verdade é que a sociedade não pode ser libertada verdadeiramente, a não ser que o pensamento humano seja levedado e purificado. Como o ressalta outro dos sermões da Sra. Eddy, The People's Idea of God, a justiça das nações, bem como a individual, reflete inevitavelmente o que entendem ser Deus.8
Sob essa luz, o problema da teologia convencional da libertação não é que ela seja "por demais radical", mas sim que não chega a ser suficientemente radical.
Não toca o desafio fundamental da escravidão, a premissa dos sentidos físicos de que o homem vive na matéria, sujeito a leis materiais que trazem consigo, inevitavelmente, tragédias, privações, limitações e desequilíbrios.
Se essa estrutura for real e definitiva, então o amor de Deus não existe. Tudo se resume nesse simples fato. O máximo que se pode esperar, num mundo definido pelos sentidos materiais, é a divisão mais equitativa possível do conjunto finito dos recursos terrenos.
Ora, os esforços humanos, até aqueles que só chegarem a esse ponto, se veem frustrados pelos moldes entranhados do egoísmo e da dominação. A Sra. Eddy escreveu, com seu realismo típico: "As tendências despóticas inerentes à mente mortal e que sempre germinam em novas formas de tirania, têm de ser desarraigadas pela ação da Mente divina." 9
A tragédia da maioria das revoluções políticas deste século é que alteraram a estrutura do poder na sociedade, sem que houvesse a correspondente elevação do caráter.
Disso resultou que, demasiadas vezes, as mudanças políticas apenas se limitaram a reorganizar a injustiça, ao invés de removê-la, deixando para trás, em sua passagem, uma desilusão mais profunda e um alheamento ainda maior.
Se quisermos romper esse ciclo, é preciso haver, na sociedade, um reconhecimento mais honesto de que a reforma genuína está arraigada ao despertar espiritual e moral.
Não é impulsionada pela luta de classes nem pelos interesses de grupos, mas pelo reconhecimento elevado da verdadeira natureza imortal do homem, da nobreza do homem.
Essa espécie de "elevação da consciência", ao invés de ser por demais idealista para um mundo selvagem, é exatamente o que deu tremendo ímpeto à liderança de personagens recentes tais como Mohandas Gandhi e Martin Luther King, Jr. Por mais que esteja calejada pelas imperfeições humanas, até mesmo um vislumbre da natureza mais elevada do homem tem poder para agitar os corações (e mover montanhas de injustiças), como nada mais o tem.

UM AMOR MAIS REVOLUCIONÁRIO
Referindo-se ao movimento de libertação política mais significativo de seu tempo, a luta pela abolição da escravatura, a Sra. Eddy escreveu:
 "A voz de Deus em favor do escravo africano ainda ecoava nos Estados Unidos, quando a voz do arauto dessa nova cruzada fez soar a nota tônica da liberdade universal, reclamando reconhecimento mais completo dos direitos do homem como Filho de Deus, exigindo que as cadeias do pecado, da doença e da morte fossem arrancadas da mente humana e que sua liberdade fosse conquistada, não pela guerra entre os homens, não pela baioneta e pelo sangue, mas pela Ciência divina do Cristo." 10
Um século mais tarde, ao ler essas palavras, é difícil deixar de sentir que ainda estamos bem no início da revolução universal que a Sra. Eddy descreve e que essa revolução pede ainda muito mais dos Cientistas Cristãos, mais trabalho, mais sacrifício, mais demonstração do que talvez nos apercebamos hoje.
Alguém descreveu a palavra cura como sendo a que usamos para descrever a forma como chegamos a conhecer a Deus. É também a palavra que descreve a queda de tudo o que se opõe a Deus, ou o bem, na experiência humana. Isso já é, por si só, revolucionário, mas convém recordar que a revolução é feita pelo Amor divino, não por nós.
Não estamos limitados pela estimativa presente que fazemos de nós mesmos. Podemos corresponder ao que o Amor nos está revelando, não só sobre quem somos, como também sobre onde estamos.
Conhecer a grande realidade desse Amor, consentir que sejamos revolucionados pelo Amor, não resulta em maiores fardos para nós, mas liberta-nos para trabalhar livres das ilusões pessoais e sem temer que qualquer forma de injustiça possa impedir o cumprimento do propósito todo-inclusivo que o Amor estabeleceu para o homem.
Ironicamente, talvez nosso progresso seja mais rápido quando nos vemos diante de condições opressivas, do que quando vivemos em relativo bem-estar.
Uma Cientista Cristã que foi detida por engano, constatou de repente que sua vida tão cheia de segurança tinha sido virada de cabeça para baixo. Teve de enfrentar a condenação pública e gastar todas as suas economias para que o processo contra ela fosse arquivado para sempre.
Contudo, apercebeu-se de que a experiência lhe ensinou "um conceito mais correto de compaixão por todos os povos oprimidos. Sempre tive uma preocupação muito profunda pelo meu próximo, mas agora compreendo que eu desfrutava dessa compaixão de uma perspectiva muito 'segura e confortável'. Isso mudou. Minha maneira de encarar a humanidade não mais está distante. É real!"
O amor que se faz necessário com a máxima urgência no mundo atual, não é "seguro" nem "confortável". A benemerência humana, por mais essencial que seja, não libertará a humanidade das profundezas da opressão.
Somente o Cristo, o poder do Amor divino a reinar realmente em nossa vida, é que a libertará. A Ciência do Amor mostra que é possível, para cada um de nós, seguir o exemplo do Mestre em ministrar compassivamente às necessidades do mundo, mas nós também precisamos ser capazes de dizer com convicção:
"Nosso amor é real! Não é distante. Estamos trabalhando e orando como nunca antes, dando todo o nosso coração a Deus e ao homem, aprendendo a realizar as curas que sabemos possíveis de realizar."


1 Ver Lucas 10:30-35.  2 Jane Kramer, "Letter from the Elysian Fields", The New Yorker, 2 de março de 1 987, p. 4 1. 3 Christian Healing, p. 11. O trecho completo citado diz: "Estamos no meio de uma revolução; a física está cedendo lentamente à metafísica; a mente mortal rebela-se contra suas próprias fronteiras; desgostosa com a matéria, ela quer captar o significado do Espírito." 4 Ver Mateus 4:8 -10; Lucas 4:5-8.  5 Ver Mateus 4:17.  6 Ver Gálatas 3:26-28. 7 Ver João 5:19; 14:12. 8 Ver Peo. 1:2-7; 2:14—3:5; 6:28—7:5.  9 Ciência e Saúde, p. 225.10 Ibid., p. 226. 




Fonte: O Arauto da Ciência Cristã, fevereiro de 1990, volume 40, número 2, pág: 20-26  - The Christian Science Publishing Society. Todos os direitos reservados.
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