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“O que conta na vida não é o simples fato de termos vivido. É o de termos feito diferença para a vida dos outros o que irá determinar o significado da vida que levamos”. Nelson Mandela
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Com os olhos abertos
José Pagola
Instituto
Humanitas Unisinos (IHU)
As primeiras comunidades cristãs viveram anos muito
difíceis. Perdidos no vasto Império de Roma, no meio de conflitos e
perseguições, aqueles cristãos procuravam força e alento esperando a pronta
vinda de Jesus e recordando as suas palavras: Vigiai. Vivei despertos. Tende os
olhos abertos. Estai alerta.
Significam, no entanto, algo para nós as chamadas de Jesus a viver
despertos? Que é hoje para os cristãos colocar a nossa esperança em Deus
vivendo com os olhos abertos? Deixaremos que se esgote definitivamente no nosso
mundo secular a esperança numa última justiça de Deus para essa imensa maioria
de vítimas inocentes que sofrem sem culpa alguma?
Precisamente, a forma mais fácil de falsear a esperança cristã é esperar
de Deus a nossa salvação eterna, enquanto viramos as costas ao sofrimento que
há agora mesmo no mundo. Um dia teremos que reconhecer a nossa cegueira ante
Cristo Juiz: Quando te vimos faminto ou sedento, estrangeiro ou nu, doente ou
na prisão, e não te assistimos? Este será o nosso diálogo final com Ele se
vivemos com os olhos fechados.
Temos de despertar e abrir bem os olhos. Viver vigilantes para ver para
lá dos nossos pequenos interesses e preocupações. A esperança do cristão não é
uma atitude cega, pois não esquece nunca os que sofrem. A espiritualidade
cristã não consiste só num olhar para o interior, pois o Seu coração está
atento a quem vive abandonado à sua sorte.
Nas comunidades cristãs temos de cuidar cada vez mais que o nosso modo
de viver a esperança não nos leve à indiferença ou ao esquecimento dos pobres.
Não podemos isolar-nos na religião para não ouvir o clamor dos que morrem
diariamente de fome. Não nos está permitido alimentar a nossa ilusão de inocência
para defender a nossa tranquilidade.
Uma esperança em Deus, que se esquece dos que vivem nesta terra sem
poder esperar nada, não pode ser considerada como uma versão religiosa de certo
otimismo a todo custo, vivido sem lucidez nem responsabilidade? Uma busca da
própria salvação eterna de costas aos que sofrem, não pode ser acusada de ser
um sutil "egoísmo profundo estendido para o além"?
Provavelmente, a pouca sensibilidade ao sofrimento imenso que há no
mundo é um dos sintomas mais graves do envelhecimento do cristianismo atual.
Quando o Papa Francisco reclama "uma Igreja mais pobre e dos pobres",
está a gritar a sua mensagem mais importante aos cristãos dos países do
bem-estar.
Nota: O texto Com os olhos abertos não representa necessariamente a opinião das
igrejas do Movimento da Ciência Cristã. Foi publicado para refletirmos
sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas
dimensões política, social, cultural e econômica. Conforme recentes
descobertas sobre fatos nela registrados e opinião de estudiosos do
texto bíblico. Com o objetivo de alcançarmos o significado espiritual
das escrituras, capaz de gerar idéias e ações que possam melhorar o mundo.
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