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Joás rei de Judá:
uma contextualização histórica e geográfica
♦ Poder descentralizado
Você certamente já leu Ex 18:1-27 e percebeu como a proposta de exercer o poder de forma mais democrática e participativa faz parte do projeto das tribos, cuja memória foi cultivada com muito mais vigor pelos grupos de resistência no Norte. Não foi por acaso que em Israel, diferentemente de Judá, houve muito mais alternância no poder e forte mobilização popular liderada pela profecia.
Serviço de Animação Bíblica – Editora Paulinas
A artificial unidade Norte/Sul do povo de Israel ruiu após a morte de Salomão. As pessoas indignaram-se muito com a pesada carga tributária de Salomão, e queriam que o sucessor ao trono se ocupasse em amenizar a carga que tinham aos ombros. O povo reclama de Roboão contra o pesado jugo posto anteriormente por Salomão, mas o sucessor de Salomão não está disposto a ouvir as reclamações do povo, e resolve dificultar ainda mais as coisas.
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Tudo indica que o novo rei sulista teve um problema de assessoria. Seus conselheiros lhe recomendaram ser duro com o povo para impor respeito, mas o tiro saiu pela culatra. O Norte decide aclamar Jeroboão como rei, e a unidade do povo de Israel foi irremediavelmente rompida.
O Reino do Norte criará uma tradição de golpes e dinastias que pouco duram, enquanto o Reino do Sul encontrará um pouco mais de estabilidade na dinastia davínica.
O Reino do Norte sucumbirá sob o poderio assírio no século VIII a.C., e o Reino do Sul durará até o século VI a.C., por ocasião dos babilônicos.
A história dos Reinos do Norte(Israel) e do Sul(Judá) pode ser dividida nos seguintes períodos:
1. Desintegração do Reino de Davi (975-884 a.C.)
2. Período Sírio (884-839 a.C.)
3. Restauração de Israel (839-772 a.C.)
4. Queda de Israel (772-721 a.C.)
5. Queda de Judá (721-586 a.C.)
Obs:: comentaremos nesta postagem somente o 1º e 2º períodos.
1. Período de desintegração
O período de desintegração se caracterizava principalmente pela luta entre os três reinos da Síria, Israel e Judá, pela supremacia, e compreendia os reinados de Jeroboão a Jeú, em Israel, e de Roboão até Joás, em Judá.
Durante a primeira parte deste período, Judá e Israel estavam constantemente em conflito, porém o crescente poderio da Síria obrigou esses povos rivais a se tornarem aliados contra o inimigo comum.
2. Período Sírio
Esse período começou com três revoluções no mesmo ano, isto é, em Damasco, Samaria e Jerusalém, nas quais Hazael se apoderou da Síria, Jeú de Israel e Atalia, a rainha-mãe, de Judá.
Pouco depois de haver iniciado seu reinado, Hazael voltou sua atenção para o sul com olhares de conquista. Conseguiu subjugar as tribos transjordânicas e depois reduziu Israel a vassalo, tomou Gade, e só a entrega de um forte tributo impediu o cerco a Jerusalém (1Rs 12:17-18 e 2Cr 24:23-24).
♦ Reino de Israel (Norte):
A dinastia de Jeú (841-753 a.C.)
Em 841 a.C., Jeú, chefe dos carros de gerra, promoveu sangrenta revolta, apoiado pelo movimento profético de Eliseu. Para garantir o poder do novo grupo, tomou algumas medidas políticas e religiosas.
É curioso notar que o profetismo aparece justamente com a monarquia, quando há troca do Sistema Tribal pelo Sistema Tributário: ao lado do rei temos o profeta. Com Samuel ao lado de Saul e Davi (Reino do Sul – Judá) no séc. XI a.C., temos início uma longa corrente de personagens que se sucedem até o exílio na Babilônia, no séc. VI a.C.
Contudo, foi no Reino do Norte, Israel, que a corrente profética tornou-se primeiramente expressiva, a partir do séc. IX, progressivamente se alastrando depois para o reino do Sul, ou Judá.
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- Primeiras políticas religiosas de Jeú:
● Jeú eliminou todos os parentes de Jorão, inclusive a família do rei do Sul, parente das dinastias do Norte (2Rs 9:16-10, 14).
● Fez aliança com os recabistas. Os descendentes de Recab levavam uma vida nômade e se recusaram a morar em casas e praticar a agricultura. Era uma forma de protesto contras os males introduzidos em Israel com o sistema tributário durante a monarquia. Eram fiéis adoradores de YWHH. Daí o seu apoio a Jeú na luta contra Baal e contra a dinastia de Amri. Leia 2Rs 10:15-18! Em Jr 35 você pode ler mais relatos sobre os recabitas. O estilo de vida do profeta Elias tinha muita proximidade com o dos recabitas.
● Além disso, Jeú eliminou o culto de Baal na capital de Israel, dessacralizando o templo construído por Amri. Confira 2Rs 10:18-27! Contudo, devido à sua identificação com a chuva, tão necessária para a agricultura, Baal era um deus cultuado por muitos camponeses. Seu culto clandestino entre o campesinato certamente continuava existindo.
Imagem do deus cananeu Baal coberta por folhas de ouro e prata
● Jeú devolveu novamente a importância aos santuários de YHWH. Veja 2Rs 10:29! O texto critica Jeú. Mas o enfoque dessa crítica vem do Sul, cujo interesse era de que os nortistas voltassem a frequentar o templo de Jerusalém.
- Baalização da religião de YHWH
Num primeiro momento, Jeú fez da religião de YHWH a legitimação de sua conspiração contra os amridas. Com as medidas acima, parece que houve um triunfo total de YHWH sobre Baal. Mas não demorou muito tempo e Jeú fez o mesmo que Davi e Salomão haviam feito com a religião de YHWH. Transformou a força libertadora do Deus do êxodo em sustentação de seu estado. Na verdade, a dinastia de Jeú promoveu a baalização de YHWH, como haviam feito os monarcas de Jerusalém. Leia Am 7: 10-13!
Embora Jeú tenha proclamado o culto a YHWH como religião oficial do estado, o culto a outras divindades continuou sendo celebrado pelo povo, como você pode conferir em 2Rs 13:6.
Eliseu e seu grupo passaram a exercer uma função importante na corte, tornando-se conselheiros do rei (2Rs13:14-9). A profecia de Eliseu se institucionalizou, perdendo sua força de contestação. Foi cooptada pela nova dinastia.
Talvez, seja essa a explicação para o fato de não haver, na dinastia de Jeú, um movimento profético vigoroso de resistência, tal como também não houve nos primeiros anos do Reino de Judá. A fé em YHWH, como o promotor da liberdade e da vida, fora apagada (Os 4:6).
Somente no final do reinado de Jeroboão II, quarto rei jeuída, é que Amós, um profeta do Sul, chegou ao santuário de Betel, vestiu o manto de Elias e acordou a memória libertadora adormecida.
- Dificuldades da dinastia de Jeú na política externa:
● Jorão, muito doente, morreu depois de curto reinado. Seu filho, Ocozias, também descendente de Amri, sofreu as consequências da revolta de Jeú no Norte, e foi assassinado.
● Atalia, filha de Amri e mulher de Jorão, assumiu o poder no sul. Por cinco anos Judá deixou de ter no trono alguém da dinastia de Davi. Atalia massacrou todos os descendentes de Davi que poderiam fazer-lhe frente, menos um: o menino Joás, salvo pela tia, que o escondeu no templo. Atalia era considerada intrusa, e não tinha apoio popular.
● Jeú perdeu a Transjordânia para Hazael, rei de Damasco (2Rs 8:12; 10:32-33; Am 1:3-5).Também teve que pagar tributos a Salmanasar III, rei da Assíria, conforme consta em documentos assírios. Talvez tenha pedido socorro aos a assírios contra Hazael.
● Seu Filho Joacaz, nos 16 anos de seu reinado, continuou sob as ameaças de Hazael e de Ben-Adad, rei de Damasco (2Rs 13:3). Com o enfraquecimento de Israel, houve ataques dos amonitas e moabitas.
● Quando Joás completou sete anos, o sacerdote Joiada o coroou rei, Atalia foi executada (2 Rs 11).
● No inicio de seu reinado, Joás conseguiu eliminar o culto de Baal e repara o templo (2 Rs 12; 2Cr 23, 24). Teve mais êxito que os antecessores.
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2 Crônicas 23:16
16 – Joaida fez aliança entre si mesmo, o povo e o rei, para serem eles o povo do Senhor.
2 Crônicas 24:4,7 (até Deus), 8, 10-13
4 – Depois disto, resolveu Joás restaurar a Casa do Deus.
7 – Porque a perversa Atalia e seus filhos arruinaram a Casa de Deus;
8 – Deu o rei ordem e fizeram um cofre e o puseram do lado de fora, à porta da Casa do Deus.
10 – Então, todos os príncipes e todo o povo se alegraram, e trouxeram o imposto, e o lançaram no cofre, até acabar a obra.
11 – Quando o cofre era levado por intermédio dos levitas a uma comissão real, vendo-se que havia muito dinheiro, vinham o escrivão do rei e o comissário do sumo sacerdote, esvaziavam-no, tomavam-no e o levavam de novo ao seu lugar; assim faziam dia após dia e ajuntaram dinheiro em abundância,
12 – o qual o rei e Joiada davam aos que dirigiam a obra e tinham a seu cargo a Casa de Deus; contratavam pedreiros e carpinteiros, para restaurarem a Casa do Senhor, como também os que trabalhavam em ferro e em bronze, para repararem a Casa de Deus.
13 – Os que tinham o encargo da obra trabalhavam, e a reparação tinha bom êxito com eles; restauraram a Casa de Deus no próprio estado e a consolidaram.
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● O rei assírio Adadnirari III venceu Damasco em 803 a.C.. Com isso, Joás recuperou o território perdido para Hazael (2Rs 13:22-25). Contudo, teve que pagar tributo a Adadnirari III. Seu exército foi atacado por Amasias, rei de Judá. Mas Joás foi vitorioso, impondo-lhe pesadas derrotas (2Rs 13:12; 14:8-14). No entanto, seus fracassos militares e indecisão o levaram a ser odiado e assassinado.
Cronologia dos reis de Israel (Reino do Norte) e respectivas referências bíblicas
Rei | Ano | Referência bíblica |
Jereboão I | 931 - 910 | 1Rs 12:1-14,20 |
Nadab | 910 - 909 | 1Rs 15:25-31 |
Baasa | 909 - 886 | 1Rs 15:33-34; 16:1-7 |
Ela | 886 - 885 | 1Rs 16:8-14 |
Zambri | 885 (7 dias) | 1Rs 16:15-22 |
Amri | 885 - 874 | 1Rs16:23-28 |
Acab | 874 - 853 | 1Rs 16:29-17, 1; 18: 1-22, 40 |
Ocozias | 853 - 852 | 1Rs 22:52-54; 2Rs 1:1-18 |
Jorão (irmão de Ocozias) | 852 - 841 | 2Rs 3:1-27 |
Jeú | 841 - 814 | 2Rs 9:1-10, 36 |
Joacaz | 814 - 798 | 2Rs 13:1-9 |
Joás | 798 - 783 | 2Rs 13:10-25 |
Jeroboão II | 783 - 743 | 2Rs 14:23-29 |
Zacarias | 743 (6 semanas) | 2Rs 15:8-12 |
Selum | 743 (1mês) | 2Rs 15:13-16 |
Manaém | 743 - 738 | 2Rs 15:17-22 |
Facéias (= Pecaía) | 738 - 737 | 2Rs 15:23-26 |
Facéias (= Peca) | 737 - 732 | 2Rs 15:27-31 |
Oséias | 732 - 724 | 2Rs 17:1-6 |
Queda de Samaria | 722 - 721 | 2Rs 17:5-41 |
No Reino do Norte (Israel) houve muito mais alternância do poder e forte mobilização popular, liderada pela profecia, do que no Reino do Sul (Judá).
♦ Reis bons e reis maus
O critério dos escritores do livro de Crônicas para avaliar a atuação dos reis do Sul é a fidelidade deles a Javé. O seu compromisso com o templo e as atividades religiosas era uma das formas de avaliar a fidelidade de um rei a Javé. Os demais reis da dinastia deveriam agir como Davi e Salomão, reis que viveram segundo a vontade de Deus.
De modo geral, os reis de Judá serão avaliados de forma negativa, com exceção de dois reis, que serão exemplos de homens segundo o coração de Deus: Ezequias no século VIII e Josias no século VII a.C., justamente os reis que procuraram empreender importantes transformações religiosas no culto de Judá.
O Estado de Judá era monarquista tributarista. No sistema tributarista, o Estado arrecada os impostos da população trabalhadora, que permanece organizada na forma de clã. Essa tributação terá implicações sociais em Judá, à medida que um Estado se forma e se tem a formação de um grupo social dominante e outro grupo social dominado.
Há, evidentemente, uma formação econômica em que o Estado se apropria de parte do trabalho produzido pela população. Isso gerará, por partes de muitos, uma compreensível antipatia ao Estado. Se a tributação do Estado já pesava sobre os tralhadores, imaginem também com a tributação assíria.
Com seu trabalho, o camponês não vai somente sustentar o Estado de Judá, mas vai fazer parte, também, daqueles que financiam os empreendimentos assírios.
♦ Crônicas: livros escritos em tempos de transição
Os livros de Crônicas foram gerados em tempos de transição. Foram escritos num período de declínio da literatura profética e da ascensão da apocalíptica. O tom de confronto e denúncia dos livros proféticos vai dando lugar ao tom de conforto e esperança da literatura apocalíptica. Deste modo, podemos compreender a ênfase do Cronista na dinastia de Davi.
O Davi do Cronista tem um pé na história e outro na imaginação sonhadora de um povo que não vê alternativas políticas para seu tempo. Está em construção a figura apocalíptica de um libertador para Israel de todas as opressões promovidas pelos impérios.
Fontes: 1. Como ler os livros das Crônicas: quem conta um conto aumenta um ponto. Alfredo dos Santos Oliva, Editora Paulus, 2002. 2. Guia de Leitura aos Mapas da Bíblia. Euclides Martins Balancin, Ivo Storniolo e José Bortolini, Editora Paulus, 2002. 3. Em busca de vida, o povo muda a história. Paulo Sérgio Soares, Paulinas, 2002. 4. Uma introdução à Bíblia: Reino dividido. Ildo Bohn Gass, Editora Paulus, 2007, 4º Edição. 5. Geografia histórica do mundo bíblico: com um estudo especial da palestina. Netta Kemp de Money, Editora Vida, 1994.
_________________________________________PARA REFLETIR:
IGREJA. A estrutura da Verdade e do Amor; tudo o que assenta no Princípio divino e dele procede.
A Igreja é aquela instituição que dá provas de sua utilidade e que vem elevando a raça, despertando de suas crenças materiais a compreensão adormecida, para que perceba as ideias espirituais e demonstre a Ciência divina, expulsando assim os demônios, ou o erro, e curando os doentes. CS 583:14-20.
SANTUÁRIO. [TEMPLE.] O corpo; a ideia da Vida, de substância e de inteligência; a superestrutura da Verdade; o santuário do Amor; CS 595: 6-8.
CS = Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras – Mary Baker Eddy
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