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Comentário sobre relato bíblico
Paulo e Pedro:
dois pilares do cristianismo
Gilvander
Moreira
Instituto Humanitas Unisinos (IHU)
1. Para início de
reflexão.
Dia 29 de junho é festa dos apóstolos Paulo e Pedro, dois grandes
pilares do cristianismo. Tempo propício para refletir sobre o legado
espiritual-profético de Pedro e Paulo. Os dois se identificaram com o projeto
do evangelho de Jesus Cristo e se doaram no seu seguimento, orientados pela boa
notícia aos pobres.
Terminaram martirizados, segundo a tradição da igreja. No livro de Atos
dos Apóstolos é possível descobrirmos uma paulinização de Pedro e uma
petrinização de Paulo. Ou seja, para Lucas não é bom que aconteça um cisma
entre as várias tendências de evangelização. A diversidade enriquece a unidade
e não a anula.
Segundo Atos dos Apóstolos, o apóstolo
Pedro foi quem fez o primeiro discurso após o primeiro Pentecostes (At 2,1-13), um discurso profético e
corajoso (Cf. At 2,14-36), no qual Pedro denuncia de forma altaneira:
"Vocês autoridades mataram Jesus, mas Deus o ressuscitou!"
As viagens de Paulo
As viagens de Paulo
Pedro teve a grandeza de sair de
Jerusalém - a igreja mãe - e ir conviver com comunidades consideradas impuras,
heréticas, no meio dos excluídos (Cf. At 9,32-43). A convivência com os pobres
se tornou a base do processo de conversão de Pedro, que o habilitou a
experimentar o Espírito do Deus da vida atuando no meio dos gentios, tal como
acontecia entre os cristãos (Cf. At 10,1-11,18).
Memorável também foi a participação do
apóstolo Pedro no Concílio de Jerusalém, por volta dos anos 49/50, onde, ao
lado de Barnabé e Paulo, lutou pela abolição da lei da circuncisão, que tinha se transformado em um insuportável fardo para
os cristãos oriundos do meio dos estrangeiros.
Para não ficar muito longo esse texto, deixaremos a reflexão sobre o
Ensinamento e Práxis do apóstolo Pedro, em Atos dos Apóstolos, para outro
artigo. Convido o/a leitor/a a acompanhar comigo o Discurso do Apóstolo Paulo
aos presbíteros, narrado em At 20,17-38.
Não é um discurso teórico, abstrato,
moralista e nem desligado dos problemas principais da vida. O discurso de Paulo
está grávido da realidade da vida das primeiras comunidades cristãs; está em
profunda conexão com os desafios de ser cristão em tempos de Tribulação; quer
gerar luz e força para as comunidades.
É o único discurso de Paulo no livro
dos Atos dirigido aos cristãos, especificamente aos presbíteros, ou seja, aos
anciãos (= coordenadores das comunidades). Todos os demais discursos de Paulo
em Atos possuem como destinatário pessoas e grupos que estão fora da comunidade
cristã. No entanto, as cartas paulinas são dirigidas aos cristãos, mas este
discurso se dirige somente aos presbíteros.
O Gênero literário é o de
TESTAMENTO-DESPEDIDA, um gênero muito conhecido na Bíblia. Lucas faz nesse
discurso uma síntese do livro de Atos, principalmente dos capítulos 15-28. O
discurso revela não tanto a morte de Paulo, mas como Lucas entendia Paulo no
contexto de suas Igrejas, algumas décadas depois, nos anos 80 do século I.
Assim esse discurso nos oferece chaves de interpretação
do livro “Ato dos Apóstolos”.
2. Esquema do
discurso de Paulo.
O discurso de Paulo é formado por
várias partes com diversas etapas do pensamento. Os biblistas não chegaram a um
acordo quanto ao plano e esquema do discurso de Paulo aos presbíteros de Éfeso,
descrito em At 20,17-38. Pensamos que o texto pode ser dividido em quatro
partes:
a) memória do ministério de Paulo na Ásia (At 20,18 - 21).
b) Presente ameaçador e perigoso (At 20,22-24).
c) Exortação aos presbíteros (At 20,25-31).
d) Testamento - Paulo deixa a Palavra e seu testemunho - (At 20,32-35).
3. Pontos fundamentais do discurso de Despedida de Paulo.
3.1. Trabalhar manualmente é problema? "Estas minhas mãos..." (At 20,34)
b) Presente ameaçador e perigoso (At 20,22-24).
c) Exortação aos presbíteros (At 20,25-31).
d) Testamento - Paulo deixa a Palavra e seu testemunho - (At 20,32-35).
3. Pontos fundamentais do discurso de Despedida de Paulo.
3.1. Trabalhar manualmente é problema? "Estas minhas mãos..." (At 20,34)
O apóstolo Paulo dá uma enorme importância
ao trabalho manual. Assim ele se expressa:
"Vocês mesmos
sabem que estas minhas mãos providenciaram o que era necessário para mim e para
os que estavam comigo. Em tudo mostrei a vocês que é trabalhando assim que
devemos ajudar os fracos, recordando as palavras do próprio Senhor Jesus, que
disse: 'há mais felicidade em dar do que em receber'." (At 20,34-35)
Lucas, o autor de Atos dos Apóstolos, sabe que Paulo foi atacado porque
trabalhava com as mãos. Alguns achavam no trabalho manual um sinal de que Paulo
era um apóstolo de segunda categoria. Lucas quer justificar Paulo como um
autêntico apóstolo e por isso afirma a nobreza do "trabalhar com as
mãos": assegurar a própria subsistência e poder ser solidário com os
empobrecidos.
O trabalhar manualmente foi uma postura tremendamente revolucionária e
inovadora no ambiente helenista. Segundo a cultura helenista o trabalho nobre
era o trabalho intelectual. Trabalhar manualmente era "coisa de
escravo". Paulo questiona na prática esta concepção discriminatória da
sociedade e aponta para a igualdade real entre as pessoas.
No fundo, ao "trabalhar com as mãos" para se auto-sustentar,
Paulo estava colocando o dedo em uma das feridas da sociedade que sustentava a
hierarquia de pessoas. E mais: Paulo estava inoculando nas comunidades cristãs
um modo diferente de se relacionar com o mundo do trabalho. A postura de Paulo
corroía como cupim o edifício da sociedade escravocrata greco-romana.
As comunidades paulinas estavam passando a acreditar progressivamente em
uma Economia Popular Solidária, onde todos trabalhavam, de modo coletivo,
partilhando os frutos do trabalho e da generosidade da Mãe natureza, atendendo
às necessidades de todos a partir dos mais enfraquecidos.
Paulo sugeria, trabalhando manualmente, que o trabalho não devia ser
para acumulação, mas para satisfazer as necessidades básicas da pessoa e da
comunidade. As primeiras comunidades cristãs colocavam em prática o sonho de
uma economia para satisfazer as necessidades básicas do povo e não para
acumulação de capital.
Devemos recordar que a defesa do
trabalho manual de Paulo dirige-se particularmente aos presbíteros. Naquele
tempo de Lucas, década de 80 do século I, os presbíteros teriam deixado de
trabalhar e seriam sustentados pela comunidade?
O exemplo de Paulo já apareceria
estranho aos presbíteros a ponto de Lucas ter que enfatizá-lo? Recordar Paulo
trabalhando para o auto-sustento deveria incomodar muitos presbíteros. Era mais
cômodo ser sustentado pela comunidade. Mas Lucas percebe que isto não reflete a
experiência original de Paulo.
Hoje é normal um padre ou pastor
receber um salário pelo serviço prestado à comunidade. É justo alguém receber
um salário sem ser cobrado pela qualidade do serviço e sem ter que "bater
cartão de ponto"? Se padre ou pastor deve ganhar um salário, quem será o
patrão deles? A quem eles devem prestar contas do serviço prestado?
3.1.1. E o trabalho manual nos nossos dias?
3.1.1. E o trabalho manual nos nossos dias?
Em tempos de extinção de tantas
espécies animais e vegetais, emprego é um "animal em extinção" no
mundo globocolonizado, pois cada vez mais aumenta o exército de desempregados. Além da
intensificação e a precarização do trabalho, a máquina que demite trabalhadores
está funcionando a pleno vapor em todas as áreas do mundo do trabalho.
Infelizmente, continuam vivas em nossa sociedade as distinções entre os
diversos tipos de trabalho. Muitos trabalhos intelectualizados são muito bem
remunerados e reconhecidos, enquanto os trabalhos manuais são
"reservados" para os pobres, pessoas consideradas
"incompetentes".
Por exemplo, se compararmos os salários de um jogador de futebol, de uma
apresentadora de TV, de um executivo de uma transnacional, de um médico, de um
gari, de um ajudante de pedreiro, de um bóia fria, o que virá à tona?
Na sociedade capitalista, o lugar para
as pessoas que sobrevivem do trabalho manual é reduzido cada vez mais. Basta
olhar a maneira como setores empresariais e poder público vêm tratando os
artesãos de rua, de cultura hippie, que sobrevivem da arte manual com arames,
linhas e pedras. São expulsos da cidade e tratados com violência e descaso.
Também impressiona o desrespeito com os catadores
de material reciclável. A catação é uma profissão antiga no Brasil e no mundo. Nos últimos
tempos, o mercado descobriu que o lixo pode dar lucro e o trabalho manual dos
catadores que retiram da reciclagem o seu sustento e de sua família tem sido
ameaçado a cada dia pelas grandes empresas e pelos gestores públicos.
3.2. Lobos, não; Solidariedade aos pobres, sim!
3.2. Lobos, não; Solidariedade aos pobres, sim!
Paulo apóstolo enfatiza no seu discurso
a importância de vigiar contra os "lobos" e de ser solidário
com os enfraquecidos. Ele alerta:
"Eu sei: depois
da minha partida, aparecerão lobos vorazes no meio de vocês, e não terão pena
do rebanho. E do meio de vocês mesmos surgirão alguns falando coisas pervertidas,
para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, fiquem vigiando e se lembrem
de que durante três anos, dia e noite, não parei de admoestar com lágrimas a
cada um de vocês... Em tudo mostrei a vocês que é trabalhando assim que devemos
ajudar os fracos." (At 20,29-31.35a).
Paulo prevê e exorta os cristãos a enfrentarem dois problemas que
certamente fazem parte das preocupações das comunidades de Lucas:
1) "Lobos vorazes
aparecerão..." (At 20,29). Estes lobos, muitos com pele de ovelhas, procedem de fora
das comunidades, de pessoas estranhas, mas também de dentro delas, de pessoas
que foram expulsas e que procuram manter uma certa liderança. De fora, lobos
aparecem a partir de falsos pastores, judeus ou gregos, defensores do
"fermento dos fariseus": um tipo de religião que exclui, de mãos
dadas com o modelo político-econômico-cultural que gera opressão e exclusão.
Estes lobos defendem a "Lei da pureza e da impureza", celebrações
pomposas, rituais e formais.
2) "Cuidem dos
enfraquecidos..." (At 20,35). É provável que nas
comunidades de Lucas, no fim do primeiro século, um desejo grande de fidelidade
ao passado estivesse gerando esquecimento dos pobres. Estes quase sempre não
podem respeitar as regras e os regulamentos da comunidade. Na mente e no
coração de Lucas, Paulo dava uma atenção especial aos empobrecidos. Para Paulo
o sinal por excelência da autenticidade do ministério era o amor desinteressado
e gratuito aos pobres.
Esta opção pelos pobres aparece de modo
muito eloquente quando Paulo faz questão de dizer às comunidades de Antioquia
que a única coisa que o concílio ecumênico de Jerusalém fez questão de alertar
às comunidades foi: "Não esqueçam os pobres. Lembrem-se sempre
deles." (cf. Gálatas 2,10).
No discurso aos presbíteros, Lucas alerta
para o cuidado com os pobres, porque provavelmente os presbíteros estavam se
preocupando menos com os pobres, como "os falsos pastores que apascentam a
si mesmos e devoram as ovelhas" (cf. Ex 34,8-10). Estariam eles gastando
mais energias com as obras do que com a promoção humana dos excluídos?
4. Por que um
discurso aos presbíteros e não às comunidades?
As cartas paulinas eram sempre endereçadas a toda a comunidade. Mas os
bons tempos do fervor missionário passaram. Lucas sente no ar sinais de clericalização,
de hierarquização, de institucionalização. Neste novo contexto eclesial, os
presbíteros terão a missão de transmitir a herança paulina e de defendê-la
contra os perigos de corrupção.
É interessante que Paulo se despede das
comunidades sem deixar estruturas; somente os recomenda "a Deus e
à Palavra de sua graça que tem poder para construir o edifício" (At
20,32). O único poder da comunidade é a Palavra de Deus. Paulo, como um
apaixonado missionário, se preocupa em deixar-se guiar pelo Espírito, em
costurar relações e propostas geradoras de vida; ele não está preocupado em
criar estruturas que podem, com o tempo, matar o vigor e o ímpeto do primeiro
amor.
5. "Presbíteros": apóstolos, profetas, mestres, ...
5. "Presbíteros": apóstolos, profetas, mestres, ...
Sendo o discurso de Paulo dirigido diretamente aos presbíteros, torna-se
imprescindível entender bem quem são estes presbíteros e qual a função deles
nas comunidades. Isto nos remete a discutir a diversidade de dons nas primeiras
comunidades cristãs.
Em At 20,28 os presbíteros de Éfeso são chamados de
"epíscopos", cuja função pastoral é a de vigiar e conduzir a
comunidade. Epíscopo é um título grego que significa "supervisor";
aquele que tem a responsabilidade de acompanhar o desenvolvimento da comunidade
para cuidar da sua continuidade com o espírito original e da sua sintonia com
os critérios de continuidade.
Ainda não há aqui a noção de sucessão apostólica, pois Paulo não os
apresenta como os seus sucessores, mas como pessoas encarregadas pelo Espírito
Santo de manter as comunidades no bom caminho.
No tempo de Paulo não existia a diferença entre clero e leigos. Havia,
sim, uma variedade, não orgânica de carismas, como apóstolos, profetas e
mestres (At 13,1), evangelistas (Filipe: At 21,8), profetisas (as filhas de
Filipe: At 21,9) etc. Os presbíteros são simplesmente os animadores de
comunidades; nunca são chamados de "sacerdotes" no Segundo
Testamento.
Nas cartas paulinas constatamos que no
seio das comunidades há uma diversidade de dons que deve ser articulada pelo
cimento que é a solidariedade. Isso é ótimo, pois o Espírito não se deixa
encurralar e não aceita ser engaiolado; Sopra aonde quer, para onde quer, é
livre, liberta e tem sede de liberdade. Paulo reitera diversas vezes: "Não
percam a liberdade cristã!" (cf. 2 Cor 3,17). "Não
entristeçam o Espírito Santo!" (Efésios 4,30).
O apóstolo Paulo percebeu que existia nas comunidades uma dificuldade de
conviver de modo sadio com a diversidade de dons. Paulo pontua bem a
diversidade de dons recordando que existe uma ordem de importância. A
comunidade cristã não pode cair no subjetivismo e nem no relativismo de
"tudo é igual a tudo", ou no "devemos respeitar tudo".
Para Paulo, em primeiro lugar estão os apóstolos, entendido no seu
sentido original e etimológico: apóstolo/a é aquele/a que é enviado/a por Deus,
é um/a missionário/a, um porta voz de uma mensagem do Deus solidário e
libertador.
Na época descrita por Atos, das primeiras igrejas, antes do processo de
institucionalização (hierarquização) o termo "apóstolo" não significa
um título que dá status. O termo "apóstolo" passa a ser considerado
um título mais tarde, depois do processo de hierarquização das igrejas, o que
acorrentou a vitalidade do dinamismo inicial.
Em segundo lugar estão os profetas. A palavra "profeta" vem do
verbo pro-ferir, que significa falar por antecipação. Etimologicamente a
palavra "profeta" significa "aquele que profere uma mensagem em
nome de Deus". O profeta escuta o Oráculo de Deus.
A palavra "oráculo", em hebraico, significa "sussurro,
cochicho, de Deus no ouvido do profeta ou da profetisa". Para entender um
cochicho, um sussurro, é preciso fazer silêncio, prestar muita atenção, estar
em sintonia, ter proximidade, ser amigo etc. Portanto Deus não falava
claramente aos profetas, como nós, muitas vezes pensamos que falava.
Do mesmo modo que falava aos profetas e profetisas Deus fala hoje a nós.
Deus cochicha (sussurra) em nossos ouvidos a partir da realidade dos
empobrecidos e excluídos. Precisamos colocar nossos ouvidos e nosso coração
pertinho do coração dos excluídos para que possamos escutar Deus.
Mais do que fazer cursos de oratória, precisamos de cursos de
escutatória . Para ouvir os clamores mais profundos dos excluídos é necessário
conviver com eles.
Em terceiro lugar vêm os mestres, aqueles que devem ensinar a verdadeira
mensagem de Jesus. Ensinar pelo testemunho e de preferência, através da
pedagogia da maiêutica: conversando, dialogando e assim ajudando os outros a
parir ideias e práxis libertadoras. Lá no final da escala vem o dom das línguas
(cf. I Cor 12,28).
Em I Cor 13,1-13 Paulo faz um elogio do
amor para nos mostrar que relações de amor é que deve ser a coluna mestra da
vida das comunidades e Igrejas. Paulo nos alerta:
"Desejem os dons
do Espírito, principalmente a profecia, pois quem profetiza fala às pessoas, é
entendido, edifica, exorta e consola a comunidade. Aquele que profetiza é maior do que aquele que
fala em línguas. Quem fala em línguas edifica somente a si mesmo, fala só a
Deus (cf. I Cor 14,1-6)."
Em I Cor 14,19 o apóstolo Paulo
afirmara: "Numa assembleia, prefiro dizer cinco palavras com a
minha inteligência para instruir também os outros, a dizer dez mil palavras em
línguas".
Paulo e seus companheiros fundam e
desenvolvem comunidades proféticas a partir da ação do Espírito. Quase todas as
vezes que na Bíblia fala que "desceu o Espírito de Deus sobre..." diz
também que os atingidos pelo Espírito de Deus começam a profetizar (cf. Nm
11,29; At 19,4-6).
A profecia é uma consequência direta da ação do Espírito. Logo, um bom
critério para saber se estamos vivendo uma verdadeira experiência no Espírito
de Deus é nos perguntar: Estamos nos tornando mais profetas ou profetizas? Se a
maioria das pessoas que diz falar em línguas fossem também profetizas, teríamos
um maior número de mártires e talvez o Brasil já estaria transfigurado por
causa de tanta profecia.
6. Solidariedade,
sim; mas COMO?
"É afadigando-se
que devemos ajudar os pobres" (At 20,35). O apóstolo Paulo, segundo Lucas, não
somente exorta os presbíteros e nós à solidariedade com os pobres, mas pontua
também como ele pensa e como testemunhou que deve ser esta solidariedade.
Paulo cita uma frase de Jesus para
defender a solidariedade com os pobres: "Há mais felicidade em dar
que em receber " (At 20,35). O discurso revela que é impossível ser
solidário aos empobrecidos e excluídos sem fatigar-se, sem cansar-se. Meter as
mãos na massa, suando a camisa, em algum trabalho concreto e perseverante é
condição sine qua non para o exercício da solidariedade
gratuita e libertadora.
Solidariedade à distância, sem
envolvimento pessoal, sem compromisso sério não passa de caricatura de
solidariedade. Recai certamente em esmola, em paliativo, em assistencialismo,
que gera dependência e subserviência em quem recebe a ajuda e tranquiliza a
consciência de quem dá.
Paulo contestou as caricaturas de
solidariedade trabalhando firme fazendo calos nas mãos para o seu sustento e
para ajudar outros companheiros. Lucas quer retomar esta experiência original,
da qual emana uma fidelidade genuína ao projeto do movimento de Jesus.
Por ironia da história, mudam-se os tempos,
mas continua viva uma grande controvérsia sobre como ser solidário. É possível
encontrar pessoas que trazem doações nas paróquias e dizem assim:
"Levem para os favelados, pois eu não
tenho coragem de ir à favela, senão não consigo dormir de noite". Ou:
"Podemos dar esta sopa para os mendigos, mas não para os sem terra, pois
estes são subversivos e agressivos". Que estreiteza de visão!
7. Inconclusão.
Enfim, Paulo e Pedro, por terem feito
opção pelos pobres, se inculturado e atuado de forma ecumênica, muito nos
inspiram. Paulo e Pedro entraram para a História como dois grandes pilares do
cristianismo.
Nota: O
comentário bíblico Paulo e
Pedro: dois pilares do cristianismo não representa necessariamente a
opinião deste blog nem das igrejas do Movimento da Ciência Cristã.
Foi publicado para refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em
seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica.
Conforme recentes descobertas sobre fatos nela registrados e opinião de
estudiosos do texto bíblico, como objetivo de alcançarmos o significado espiritual das escrituras.
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PARA REFLETIR:
Espírito. A substância divina; Mente; o Princípio divino;
tudo o que é bom; Deus; só aquilo que é perfeito, sempiterno, onipresente,
onipotente, infinito. Glossário de Ciência e Saúde
com a Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy [p.594, linha 19 a 21].
Profeta. Um
vidente espiritual; desaparecimento do sentido material ante a consciência dos
fatos da Verdade espiritual. Glossário de Ciência e
Saúde com a Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy [p.593, linha 4 a 6].
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Recomendação de leitura: A CURA CRISTÃ E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO.
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