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Fotos: banho no rio Três Barras e brincadeira na chuva – atividades de lazer da
1ª Oficina Bíblica de Férias: “Como estudo a Lição-Sermão”
Janeiro de 2011 - Garuva, SC, Brasil. _____________________________
Conteúdo desta postagem:
I. Comentários sobre relatos bíblicos:
- Nos Evangelhos não se aprende doutrina mas sim uma forma de
estar no mundo (Entrevista com José Antonio Pagola)
- Jesus sempre começa a curar libertando de um Deus opressor: Aquele que cura (José Antonio Pagola)
II. Para pensar: citação do livro Ciência e Saúde com a Chave das
Escrituras de Mary Baker Eddy. )
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I. Comentários sobre relatos bíblicos
Os estudos bíblicos se constituem numa vibrante área de pesquisa que publica de forma intensa. Isso deve-se ao facínio que os textos antigos exercem sobre os leitores contemporâneos, seja como texto de saber histórico, seja como texto que sempre se mostra aos leitores de forma renovada.
Por isso, a Bíblia é estudada numa riqueza de perspectivas, abordagens, métodos e hermenêuticas. Ao interesse pelo texto bíblico soma-se a busca por sua origem, da mesma forma que pelos textos que lhe são vizinhos: os apócrifos, pseudepígrafos, os Manuscritos do Mar Morto.(Gabrielle Boccaccini - leciona no Departamento de Estudos do Oriente Próximo da Universidade de Michigan, EUA.)
Nos Evangelhos não se aprende doutrina mas sim uma forma de estar no mundo
Parte final da entrevista com José Antonio Pagola, da reportagem de Cristina Turrau, publicada no sítio “Diario Vasco”, 26-01-2012, tradução de Moisés Sbardelotto:
Não são poucas pessoas que vivem o seu interior com imagens falsas de Deus que lhes faz viver sem dignidade e sem verdade. Sentem-No, não como uma presença amistosa que convida a viver de forma criativa, mas como uma sombra ameaçadora que controla a sua existência.
[...] A mensagem de Jesus é de plena atualidade, o senhor defende.
Eu me dou conta de que as pessoas, nesta sociedade que parece superficial, sentem a necessidade de viver de uma maneira diferente, sem saber exatamente como. Buscamos uma vida mais digna, saudável e feliz, algo que não é fácil. E o que eu tento demonstrar é que Jesus oferece um horizonte mais humano e uma esperança. Assim perceberam os primeiros cristãos.
Com seus livros, o senhor busca ser um mediador?
Trabalho com grupos distintos, falo com as pessoas e observo que não se busca mais técnica, nem mais ciência, nem mais doutrina religiosa. Buscamos algo, mas não sabemos como formular essas questões que levamos dentro.
Quais são as diferenças entre os quatro Evangelhos?
Os Evangelhos são quatro pequenos escritos. O primeiro é o de Marcos, que aparece em torno do ano 70, provavelmente depois da destruição de Jerusalém. Depois vêm os de Mateus e de Lucas, entre os anos 70 a 90. E, por último, já passado o ano 100, aparece o de João. Mas podemos dizer que os autores não são apóstolos. A elaboração dos textos é muito complexa. Eu analiso a vida de Jesus a partir de quatro relatos que nasceram da sua recordação. E cada um deles tem sua própria maneira de ressaltar, sublinhar e ordenar essas recordações.
Dê-nos uma pincelada de especialista:
Marcos.
É o Evangelho mais breve. Pode ser lido em uma hora. Ocupou um lugar muito discreto ao longo da história. E, no entanto, há um interesse crescente nele, porque nos oferece a figura de Jesus com mais frescor. Ele remonta a tradições antigas, e Mateus e Lucas o utilizaram para os seus evangelho.
Mateus.
É o evangelho mais longo e, em boa parte, segue Marcos, mas acima de tudo se caracteriza por seus grandes discursos. É o do Sermão da Montanha, das Bem-aventuranças ou das parábolas de Jesus, inesquecíveis. É o mais rabínico, provavelmente obra de um judeu que se tornou cristão.
Lucas.
Eu o recomendo para quem queira ler um evangelho inteiro e de uma vez só para ter uma ideia de como Jesus foi lembrado. Tem o evangelho da infância, muito poético. E é onde se destaca a bondade de Deus, sua compaixão e misericórdia, por exemplo, na parábola do filho pródigo.
Cristo na casa de seus parentes – Sir. John Everett Millais
João.
É um evangelho mais complexo, com uma cristologia muito elaborada. É mais teológico do que os demais.
Por que o lado humano de Jesus assusta?
Jesus atrai, mas é perigoso, porque é muito radical. Se você se aprofundar na ideia de que os últimos serão os primeiros, ou que você não pode servir a Deus e ao dinheiro, a vida muda. Jesus é muito sedutor, mas arriscado. Como disse algum agnóstico, é difícil dizer que ele não tem razão. [...]
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JESUS SEMPRE COMEÇA A CURAR LIBERTANDO DE UM DEUS OPRESSOR
Aquele que cura
José Antonio Pagola
por IHU - Instituto Humanitas Unisinos
Segundo Marcos, a primeira aparição pública de Jesus foi a cura de um homem possuído por um espírito maligno na sinagoga de Cafarnaum. É uma cena impressionante, narrada para que, desde o início, os leitores descubram a força de Jesus que cura e que liberta.
É sábado e o povo encontra-se reunido na sinagoga para escutar o comentário da Lei explicada pelos escribas. Pela primeira vez Jesus vai proclamar a Boa Nova de Deus precisamente no lugar onde se ensina oficialmente ao povo as tradições religiosas de Israel.
As pessoas ficam surpreendidas ao escutá-lo. Têm a impressão de que até agora estiveram a escutar notícias velhas, ditas sem autoridade. Jesus é diferente. Não repete o que ouviu a outros. Fala com autoridade. Anuncia com liberdade e sem medos de um Deus Bom.
De repente um homem «põe-se a gritar: Vieste acabar conosco?». Ao escutar a mensagem de Jesus, sentiu-se ameaçado. O seu mundo religioso derruba-se. Diz-nos que está possesso por um «espírito imundo», hostil a Deus. Que forças estranhas o impedem de continuar a escutar Jesus? Que experiências más e perversas lhe bloqueiam o caminho até o Deus Bom que lhe anunciam?
Jesus não se acovarda. Vê o pobre homem oprimido pelo mal, e grita: «Cala-te e sai dele». Ordena que se calem essas vozes malignas que não o deixam encontrar-se com Deus nem consigo mesmo. Que recupere o silêncio que cura o mais profundo do ser humano.
O narrador descreve a cura de forma dramática. Num último esforço para destruí-lo, o espírito «retorceu-o e, dando um grito muito forte, saiu». Jesus conseguiu libertar o homem da sua violência interior. Pôs fim às trevas e ao medo a Deus. Daí em diante poderá escutar a Boa Nova de Jesus.
Não são poucas pessoas que vivem o seu interior com imagens falsas de Deus que lhes faz viver sem dignidade e sem verdade. Sentem-No, não como uma presença amistosa que convida a viver de forma criativa, mas como uma sombra ameaçadora que controla a sua existência. Jesus sempre começa a curar libertando de um Deus opressor.
As Suas palavras despertam a confiança e fazem desaparecer os medos. As Suas parábolas atraem para o amor à Deus, e não para a sustentação cega da lei. A Sua presença faz crescer a liberdade, não os servilismos; suscita o amor à vida, não o ressentimento. Jesus cura, porque ensina a viver apenas da bondade, do perdão e do amor que não exclui ninguém. Cura porque liberta do poder das coisas, do autoengano e da egolatria.
José Antonio Pagola, teólogo e ex-vigário geral da diocese de San Sebastián, na Espanha, apresentou nesta quarta-feira, 25 de janeiro de 2012, em Donostia, seu livro El camino abierto por Jesús: Marcos (Ed. Desclée de Brouwer). Tornou-se um best-seller que está sendo publicado nestes dias em croata, francês e russo.
Nota: Os textos postados (Entrevista: Evangelhos não se aprende doutrina mas sim uma forma de estar no mundo; Jesus sempre começa a curar libertando de um Deus opressor - Aquele que cura de José Antonio Pagola) não representam necessariamente a opinião deste blog nem de nenhuma das igrejas do Movimento da Ciência Cristã. Foram publicados para refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica. Conforme recentes descobertas sobre fatos nela registrados e opinião de estudiosos do texto bíblico, como objetivo de alcançarmos o significado espiritual das Escrituras.
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II. Para pensar:
“Igreja, mais do que qualquer outra instituição, é, no momento, o cimento da sociedade, e deveria ser o baluarte da liberdade civil e religiosa”. (Miscellaneous Writings 1883-1896, pág.144 - Mary Baker Eddy)
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