domingo, 31 de março de 2013

A PALESTINA: 2ª PARTE

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  Agenda para oração:
 
 
A Palestina
Desde meados do Século XIX
 
 
Começos do sionismo
O judaísmo conserva a esperança de que um dia todo o povo judaico disperso "regressará" ao que chama "a Terra/País de Israel", onde se reunirá e viverá como nação, observando rigorosa e integralmente a Lei divina.

A nação judaica será assim "inteiramente liberta da servidão" das outras nações. A "redenção de Israel" transbordará, estendendo-se a todos os seres humanos e ao mundo inteiro. Tudo isso será obra de Deus, não do povo. Com efeito, a tradição religiosa vê na dispersão (diáspora) ou no exílio (termo mais corrente, embora historicamente inadequado) o castigo divino pelos pecados do povo, ao qual por conseguinte só o próprio Deus pode pôr fim.

Durante muitos séculos a utopia da "redenção de Israel" não transbordou do âmbito religioso, que é a sua matriz. Deu origem a peregrinações e a imigrações individuais ou de pequenos grupos que não modificaram o estatuto político da Palestina nem a sua composição étnica, a qual, apesar das numerosas mudanças políticas e religioso-culturais, parece ter permanecido relativamente estável desde fins do II milênio a. C. até fins do II milênio da era cristã.

A situação começou a mudar no século XIX. No contexto do triunfo das ideologias nacionalistas e da idéia do estado nacional, surgiu entre os judeus laicos da Europa central e oriental um movimento nacionalista secular cujo objetivo era a criação de um estado dos judeus, sendo este considerado como o único meio de assegurar a identidade e a sobrevivência da nação judaica, assim como de lhe garantir um lugar ao sol entre as demais nações.

Para os seus partidários, o dito estado tomou de certo modo, sob uma forma secularizada, o lugar que a utopia da "redenção de Israel" ocupa na tradição religiosa. Contrariamente à reunião de "Israel" da utopia religiosa, o estado projetado pelos nacionalistas judeus não tinha necessariamente a Palestina por cenário.
 
Com efeito, o seu principal promotor,Teodoro Herzl (Benjamin Ze'ev, 1860-1904)3, encarou a possibilidade de o criar na Argentina. Falou-se também de Chipre, da África oriental e do Congo. Diga-se de passagem que a liberdade na escolha do futuro "território nacional" de que deram mostras os nacionalistas judaicos se explica pelo fato de se viver então na Europa no apogeu do sonho colonialista. Consideravam-se colonizáveis todos os territórios situados fora da Europa. Colonizá-los era tido por uma obra benemérita, pois era "civilizá-los".
                                             Teodoro Herzl
 
Os nacionalistas judaicos não tardaram a optar pela Palestina. Essa escolha, embora não fosse necessária, era natural e particularmente mobilizadora, por causa da ligação do judaísmo à Palestina e da atração que ela exerce mesmo sobre muitos judeus que não são religiosos ou originários desse país.

O nacionalismo judaico tomou assim o nome de sionismo, palavra que deriva de Sião, um dos nomes de Jerusalém na Bíblia. Repare-se também que a escolha da Palestina se enquadrava nos projetos coloniais das potências europeias, sobretudo da Grã-Bretanha e da França, que preparavam a partilha dos despojos do império otomano decadente. Foi sem dúvida por isso que o projeto sionista vingou.

Durante décadas o sionismo foi um movimento de intelectuais askenazes4 laicos, sem base popular. Houve componentes do judaísmo, nomeadamente as grandes comunidades sefarditas5  da África do norte, que estiveram praticamente à margem desse movimento até à década de 1930 ou ainda mais tarde.

No entanto, o sionismo acabou por provocar profundas divisões nas diferentes componentes do judaísmo, religioso e secular, askenaze, sefardita e pertencente a outros grupos. Embora se tenham atenuado ou transformado, essas divisões subsistem ainda hoje.

Para a maioria esmagadora dos rabinos da Europa central e oriental que se encontraram confrontados com ele, o projeto dos sionistas de criar o estado dos judeus, apoiando-se para isso nos seus próprios meios políticos, diplomáticos e econômicos, era a negação da esperança na "redenção de Israel" por iniciativa e obra exclusivas de Deus.

Por isso, condenaram o sionismo como uma manifestação de orgulho, o pecado por excelência. O partido Agudat Israel (União/Associação de Israel) fundado em Kattowitz (Silésia, Polônia) em 1912, encarnou essa posição. O dito partido propunha-se reunir todos os judeus fiéis à Lei para se oporem ao nacionalismo sionista considerado como uma ameaça mortal para o "autêntico judaísmo".

No entanto, na década de 1930, o Agudat Israel mitigou, por pragmatismo, a sua oposição ao sionismo, aceitando que a Palestina se tornasse o refúgio para os judeus europeus perseguidos. Em 1948 reconheceu de fato as instituições do Estado de Israel. Participou em todas as eleições legislativas israelitas 6 e em vários governos. Algumas facções minoritárias não aceitaram a mudança de orientação. Além de persistirem na negação da legitimidade religiosa do Estado de Israel e na recusa de qualquer colaboração com ele, tornaram-se críticos acérrimos da sua política. Entre os pequenos grupos representantes dessa tendência, o dos Neturei Karta (Guardiães da Cidade) é atualmente o mais conhecido.

Uma minoria entre os judeus religiosos da Europa central e oriental aceitou bastante cedo colaborar com os sionistas. Um dos primeiros expoentes desta posição foi o rabino Isaac Jacob Reines (1839-1915), nascido em Karolin, na Bielorússia.

Na origem, essa posição tinha sobretudo por objetivo não deixar aos seculares o monopólio do socorro prestado aos judeus pobres e perseguidos. Encarnou-a o Mizrahi (Centro Espiritual) fundado em Vilnius (Lituânia) em 1902. Segundo essa corrente do judaísmo religioso, nada impede a colaboração com o sionismo, pois este não é incompatível com a tradição. A razão que ela dá funda-se, paradoxalmente, no caráter inteiramente materialista e político do sionismo.

Dado o seu teor, o sionismo não pode fazer concorrência à esperança messiânica, que se situa num plano completamente diferente. A idéia da coexistência pacífica do judaísmo religioso e do sionismo depressa cedeu o lugar a uma integração da ideologia sionista dentro do sistema religioso tradicional. O autor dessa integração foi o rabino Abraão Isaac Hacohen Kook (1865-1935) nascido em Griva na Letônia, primeiro Rabino-Mor askenaze da Palestina (1921-1935).

Contrariamente aos seus homólogos do Agudat Israel, o rabino Kook vê no sionismo um instrumento de que Deus se serve para dar início à "redenção de Israel", e no Estado dos judeus a aurora da redenção ou do reino de Deus. Os principais herdeiros atuais desta concepção do sionismo são o Partido Nacional Religioso e o Guch Emunim (Bloco da Fé), que reúne os opositores mais irredutíveis à devolução de qualquer parcela da Cisjordânia e da Faixa de Gaza conquistadas por Israel em 1967, assim como os colonizadores mais zelosos desses territórios.

O sionismo provocou também clivagens entre os judeus secularizados. Uns abraçaram-no com mais ou menos entusiasmo e agiram ou não em conformidade, outros serviram-se dele para diferentes fins, outros olharam-no com indiferença e outros ainda rejeitaram-no terminantemente, por razões políticas, morais, culturais ou sociais. Além dos anti-sionistas religiosos, os autênticos adversários do sionismo são ainda hoje judeus seculares, o que é natural, na medida em que a questão diz diretamente respeito a uns e a outros.

O sionismo tornou-se popular entre os judeus, sobretudo entre os judeus seculares, da Europa oriental e central a partir de 1881 por causa dos numerosos ataques e pilhagens (pogroms, em russo) de que aí foram vítimas entre esse ano e 1921.

De fato, foi a Europa oriental que forneceu os contingentes de emigrantes judeus que então foram instalar-se na Palestina. As duas primeiras vagas da emigração coincidiram aliás com as duas primeiras vagas de pogroms, que tiveram lugar respectivamente em 1881-1884 e em 1903-1906.
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A esmagadora maioria dos emigrantes era gente pobre e perseguida. Dirigiam-na intelectuais das classes médias. Estes fizeram financiar a operação por membros da burguesia judaica ocidental, européia e norte-americana, ansiosa por desviar da sua porta uma imigração popular judaica que iria contrariar os seus desígnios de "assimilação" nos países respectivos.
 
 "O que está acontecendo na Palestina, não é justificável por nenhuma moralidade ou código de ética. Certamente, seria um crime contra a humanidade reduzir o orgulho árabe para que a Palestina fosse entregue aos judeus parcialmente ou totalmente como o lar nacional judaico." Gandhi

3 Nasceu em Budapeste, mas passou a maior parte da vida em Viena.
4 Askenaze qualificou primeiro o judaísmo da Alemanha com as suas tradições próprias, estendendo-se depois ao judaísmo de toda a Europa central e oriental. O termo designa de maneira genérica os judeus da Europa central e oriental ou de lá originários.
5 Sefardita no sentido próprio qualifica os judeus da península ibérica e os seus descendentes. Depois da sua expulsão, os judeus ibéricos dispersaram-se sobretudo nos países mediterrâneos, mas também nos Países Baixos, na Grã-Bretanha e, finalmente, nas Américas. Na linguagem corrente, a palavra sefardita aplica-se frequentemente, de maneira inadequada, a todos os judeus não askenazes. Como a sua grande maioria vivia nos países mediterrâneos e nos países árabe-muçulmanos do Próximo e Médio Oriente (Iraque, Iêmen, Irã, etc.) os judeus não-askenazes também são muitas vezes chamados "judeus orientais".
6 Distinguindo entre o antigo Reino de Israel e o Estado de Israel, pretende-se dois nomes de nacionalidade diferentes, respectivamente israelita e israelense, como forma de se justificar a proposta da ONU de 29 de novembro de 1947; mas, por considerarmos essa maneira um exagerado sofisma, preferimos — nesta versão em português do Brasil — somente o nome israelita.
Fonte: Comissão de Justiça e Paz, CNIR/FNIRF, Portugal, 2002.
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Acesse neste blog: A Palestina: 1ª Parte, A Palestina:3ª Parte e  A Palestina: 4ª Parte  da Comissão de Justiça e Paz, CNIR/FNIRF. 
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domingo, 24 de março de 2013

A PALESTINA: 1ª parte

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Agenda para oração:

 
A Palestina

 
Introdução
Palestina é o nome do território situado entre o Mediterrâneo a oeste, o rio Jordão e o Mar Morto a este, a chamada Escada de Tiro a norte (Ras en-Naqura/Roch ha-Niqra, fronteira com o Líbano) e o Wadi el-Ariche a sul (fronteira com o Sinai, tradicionalmente egípcio).

Com 27.000 Km2, a Palestina é formada, de um modo geral, por uma planície costeira, uma faixa de colinas e uma cadeia de baixas montanhas cuja vertente oriental é mais ou menos desértica.

Mapa dos Territórios Palestinos e da porção central de Israel (situação de 2007)
 
A Palestina foi habitada desde os tempos pré-históricos mais remotos. A sua história esteve geralmente ligada à história da Fenícia, da Síria e da Transjordânia, limítrofes. Talvez por causa da sua situação geográfica – faz parte do corredor entre a África e a Ásia e ao mesmo tempo fica às portas da Europa – a Palestina nunca foi sede de um poder que se estendesse para além das suas fronteiras. Pelo contrário, esteve quase sempre submetida a poderes estrangeiros, sediados na África, na Ásia ou na Europa. Em regra geral, foi só sob as potências estrangeiras que ela teve alguma unidade política.
 
 
De fins do II milênio a.C. a meados do Século XIX
Para melhor compreender a situação atual da Palestina, convém fazer um esboço da sua história a partir do II milênio a. C..

A Palestina esteve organizada em cidades-estado sob a hegemonia egípcia durante uma boa parte do II milênio a. C.. A situação mudou nos últimos séculos desse milênio. Chegaram então à Palestina sucessivas vagas de imigrantes ou invasores vindos do norte e do noroeste, das ilhas ou do outro lado do Mediterrâneo.

Os historiadores costumam designá-los com a expressão "Povos do Mar". Esses povos parecem ter-se fixado sobretudo ao longo da costa. Os mais conhecidos entre eles são os Filisteus que se fixaram sobretudo no sudoeste (costa oeste do Neguev e Chefela). Aí fundaram vários pequenos reinos (Gaza, Asdod, Ascalão, Gat e Ekron).

Paralelamente aos reinos filisteus, constituíram-se primeiro o reino de Israel no norte da Palestina e depois o reino de Judá, mais pequeno, na zona de baixas montanhas do sul. Durante a maior parte da sua existência, Israel teve como capital Samaria. Hebron foi a primeira capital de Judá, mas depressa cedeu o lugar a Jerusalém.
MUSEU DE ISRAEL  JERUSALÉM O rei Saul e seus guerreiros, Davi e Golias.
 
Entre os antigos povos da Palestina, os Filisteus foram talvez os que maior influência exerceram até aos últimos séculos da era pré-cristã. Com efeito, não deve ter sido por acaso que o seu nome foi dado a toda a região, a Palestina, isto é, o país dos Philisteus. Com o sentido que se tornou habitual, o nome já está documentado nas Histórias de Heródoto em meados do séc. V a. C. Apesar da sua importância na antiguidade, conhecem-se muito pouco os Filisteus e a história dos seus reinos.

A razão óbvia dessa ignorância é a inexistência de uma biblioteca ou de bibliotecas filistéias comparáveis ao Antigo Testamento. Praticamente tudo o que se sabe ou se pensa saber sobre os Filisteus se baseia nos escritos bíblicos.

Por conseguinte, a posteridade só conhece os Filisteus na medida em que eles estão em relação com Israel, com Judá, ou com os judeus. Além disso, são vistos através dos olhos daqueles que foram os seus concorrentes e, não raro, seus inimigos declarados.

De fato, a posteridade, de maneira geral, não se interessa pelos Filisteus nem os estuda por si mesmos, mas só por causa da sua relação com a história bíblica. Tudo isso deformou a visão que se tem deles, do lugar que ocuparam e do papel que desempenharam, aparecendo os Filisteus como um elemento marginal na história da Palestina antiga. Esse erro de perspectiva influencia, sem dúvida alguma, a visão corrente que se tem da atual Palestina, da sua composição étnica e da sua situação política.

Os vários reinos palestinenses1, filisteus e hebraicos, coexistiram durante séculos. Ora guerrearam entre si, ora se aliaram para sacudir o jugo de alguma grande potência do momento. A primeira vítima desse jogo foi Israel, conquistado e anexado pela Assíria em 722 a. C. Desde então até 1948 não houve nenhuma entidade política chamada Israel.
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Os reinos filisteus e o reino de Judá continuaram a existir sob a dependência da Assíria, a grande potência regional entre o séc. IX e fins do séc. VII a. C., cujo território nacional se situava no norte da Mesopotâmia, no atual Iraque.

No fim do séc. VII a. C., o Egito e a Babilônia, a outra grande potência mesopotâmica, com a sede no sul do Iraque atual, disputaram os despojos do Império Assírio. Tendo a Babilônia levado a melhor, a Palestina ficou-lhe submetida durante cerca de oito décadas.

De um modo geral, as histórias, focadas como estão em Judá, falam só da conquista desse reino por Nabucodonosor, da deportação para a Babilônia de parte da sua população, da destruição de várias das suas cidades, nomeadamente de Jerusalém com o templo de Iavé (597 e 587 a. C.).

Deve-se no entanto reparar que os reinos filisteus de Ascalão e de Ekron, conquistados por Nabucodonosor respectivamente em 804 e em 803, tiveram um destino semelhante.
Em 539 a. C. a Palestina passou com o resto do império babilônico para as mãos dos Persas Aquemênidas. Sabe-se que estes entregaram a administração do território de Judá, pelo menos de parte dele, a membros da comunidade judaica da Babilônia. Em 331 a Palestina foi conquistada pelo macedônio Alexandre Magno.

Após a morte deste, ficou primeiro sob o domínio dos Lágidas ou Ptolomeus que tinham a capital em Alexandria, no Egito (320-220 a. C.). Depois passou para a posse dos Selêucidas sediados em Antioquia, na Síria (220-142 a. C.).

Entre 142 e 63 a. C, os Asmoneus, uma dinastia judaica, com Jerusalém como capital, conseguiu não só libertar-se do poder selêucida, mas até impor o seu domínio praticamente em toda a Palestina, e também nos territórios filisteus. Nessa altura a grande maioria dos judeus já vivia fora da Palestina, encontrando-se dispersos em todo o Próximo Oriente.

A dispersão deveu-se sobretudo à emigração e, numa medida muito menor, às deportações de 597 a 587. Os principais centros judaicos fora da Palestina eram então Alexandria e Babilônia. Profundamente helenizados, os judeus de Alexandria liam as suas Escrituras em grego, e a eles deve-se a coletânea de escritos que se tornará o Antigo Testamento cristão.

Em 63 a. C., a Palestina passou a fazer parte do Império Romano dentro do qual não teve sempre o mesmo estatuto. Por voltas de meados do séc. I da era cristã, os judeus da Palestina tentaram libertar-se do domínio romano. Houve primeiro várias sublevações locais.

Em 66 a revolta generalizou-se. Em 70 os Romanos conquistaram Jerusalém e destruíram o templo judaico. Os judeus da Palestina voltaram a revoltar-se em 131. Após ter esmagado a revolta, em 135, o imperador Adriano fez de Jerusalém uma colônia romana, Colonia Aelia Capitolina, da qual os judeus estiveram excluídos durante algum tempo.

Com a ruína do templo e o fim da autonomia judaica na Palestina desapareceu a maioria dos grupos político-religiosos nos quais o judaísmo, sobretudo o judaísmo palestinense, estava então dividido. Praticamente só ficaram em campo dois grupos: o farisaísmo e o cristianismo, recém-formado.
Os dois grupos acabaram por separar-se e evoluíram de maneira independente, em concorrência e, não raro, em conflito. O farisaísmo deu origem ao judaísmo rabínico, isto é, o judaísmo atual.

Graças à cristianização do império romano, a Palestina, palco dos acontecimentos fundadores do cristianismo, adquiriu uma grande importância para o mundo cristão, sobretudo para os cristãos que se encontravam dentro do império romano. Por isso durante o período bizantino (324-638) a Palestina conheceu uma prosperidade e um crescimento demográfico notáveis.

Durante esse período a esmagadora maioria da sua população tornou-se cristã. Em 614 os Persas Sassânidas invadiram a Palestina, onde causaram grandes estragos. Ocuparam-na até 628, ano em que os Bizantinos a reconquistaram, mas por pouco tempo.

Com efeito, dez anos mais tarde, em 638 toda a Palestina passou para o domínio arábico-muçulmano. Este exerceu-se através de uma sucessão de dinastias, de origens, de etnias e com capitais diferentes.
A primeira dessas dinastias, a dos Omíadas (660-750), com a capital em Damasco, foi uma das que mais marcou a Palestina, nomeadamente com a construção do Haram ech-Cherife (o Nobre Santuário/Esplanada das Mesquitas) no lugar que ocupara outrora o templo judaico, tornando Jerusalém na terceira cidade santa do islamismo.

Seguiram-se os Abássidas (750-974) e os Fatimidas (975-1071), com as capitais respectivamente em Bagdá e no Cairo. Entre 1072 e 1092 a Palestina esteve sob os Turcos Seldjúcidas, que então tinham a sede em Bagdá.

Embora não tenha dado origem a uma imigração popular e, por conseguinte, não tenha mudado a composição étnica e a demografia de maneira apreciável, o regime árabo-muçulmano teve como conseqüência a arabização e a islamização da Palestina.

A arabização2, nomeadamente da população cristã de língua aramaica, língua aparentada com o árabe, deu-se muito depressa. Não se pode dizer o mesmo da islamização. Apesar de o islamismo se apresentar como o acabamento da tradição bíblica, partilhada pelo cristianismo, pelo judaísmo e pelo samaritanismo, o processo de islamização da população palestinense (cristã, judaica e samaritana) parece ter sido muito lento.

Em 985, após três séculos e meio de regime islâmico, o geógrafo árabe-muçulmano de Jerusalém, conhecido pelo nome de el-Maqdisi ("o jerosolimitano") lamenta-se de que os cristãos e os judeus são maioria na sua cidade natal. O que el-Maqdisi escreve a respeito da Jerusalém de fins do séc. X valia para o conjunto da Palestina e continuou provavelmente a valer durante cerca de mais dois séculos e meio.

Organizada com o intuito declarado de arrancar o túmulo de Cristo das mãos dos "infiéis", a primeira cruzada terminou, em 1099, com a conquista de Jerusalém e, no ano seguinte, a criação do Reino Latino de Jerusalém. Este manteve-se até 1187, tendo sido então conquistado pelo curdo Saladino, o fundador da dinastia ayúbida. Aos Ayúbidas seguiram-se os Mamelucos, primeiro turcos (1250-1382) e depois circassianos (1382-1516).

Os Ayúbidas e os Mamelucos tiveram a capital no Cairo. Segundo a maioria dos especialistas da questão, foi durante o período mameluco que teve lugar a grande vaga da islamização popular da Palestina. Desde então até à segunda metade do séc. XX, os muçulmanos constituíram a esmagadora maioria da população.
Do ponto de vista numérico, o segundo grupo era constituído pelos cristãos, seguidos, de muito longe, pelos grupos dos judeus e dos samaritanos. Em 1517 a Palestina passou para o poder dos Turcos Otomanos, cuja capital era Istambul.

 "O que está acontecendo na Palestina, não é justificável por nenhuma moralidade ou código de ética. Certamente, seria um crime contra a humanidade reduzir o orgulho árabe para que a Palestina fosse entregue aos judeus parcialmente ou totalmente como o lar nacional judaico." Gandhi
Foto: “A eloquência do sangue”, de Rogério Ferrari, apresenta a realidade da Palestina sob ocupação.
 
 
1 Usamos palestinense em relação com a Palestina antiga, palestino em relação com a Palestina moderna.
2 Adoção da língua árabe, da forma árabe dos nomes pessoais e da era da Hélgira

Texto: Comissão de Justiça e Paz, CNIR/FNIRF, Portugal, 2002.
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Acesse neste blog:   A Palestina: 2ª Parte ,  A Palestina: 3ª Parte  e  A Palestina: 4ª Parte  da Comissão de Justiça e Paz, CNIR/FNIRF,   “Moisés, Maomé, Jesus: Leituras do sagrado e fundamentalismos de Luiz Dietrich e   Sura Al-Fatiha: oração diária dos mulçumanos.
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domingo, 17 de março de 2013

O ENCONTRO DE JESUS COM A MULHER QUE IA SER APEDREJADA (Jo 8:1-11)

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O encontro de Jesus com a mulher que ia ser apedrejada
(Jo 8: 1-11)
 

 

Normalmente, quando se pergunta a uma pessoa quem foi Maria Madalena, ela responde quase sem pensar: “uma pecadora arrependida”. No entanto, nenhum texto do evangelho diz que Maria Madalena foi pecadora pública.

Que dizem os evangelhos sobre ela?

Nos evangelhos, Maria Madalena é a mulher mais citada pelo nome. Além disso, ela aparece sempre realizando funções muito importantes para as origens do Cristianismo. Sobre a Maria Madalena acesse  “Maria vai com as outras”, postado em 25 de abril de 2012. Nesta postagem falamos de outra Maria.

 

OLHAR NO ESPELHO DA VIDA

O texto que vamos refletir descreve o encontro de Jesus com a mulher que ia ser apedrejada. Durante a leitura, somos convidados a prestar atenção nas atitudes dos fariseus, da mulher e de Jesus.

 

SITUANDO

O Evangelho de João não foi escrito de uma só vez, mas cresceu lentamente. Ao longo dos anos, os cristãos iam lembrando e acrescentando outros episódios da vida de Jesus. Um destes acréscimos é o episódio da mulher que ia ser apedrejada (Jo 8,1-11). Pouco antes, Jesus tinha declarado: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba!" (Jo 7,37). Esta declaração provocou muita discussão (Jo 7,40-53).

Pulando para nosso texto de hoje (Jo 8,1-11), encontramos uma nova declaração de Jesus:  "Eu sou a luz do mundo!" (Jo 8,12), que provoca nova discussão com os judeus. Entre estas duas declarações com suas discussões, foi inserido o episódio da mulher para esclarecer como Jesus é a luz do mundo, como ele ilumina a vida das pessoas.

 

COMENTANDO

1. João 8,1-2: Jesus e o povo

Depois da discussão, descrita no fim do capítulo 7 (Jo 7,37-52), cada um voltou para casa (Jo 7,53). Jesus não tinha casa em Jerusalém. Por isso, foi para o Monte das Oliveiras. Lá havia um horto, onde ele costumava passar a noite em oração (Jo 18,1). No dia seguinte, antes do nascer do sol, Jesus já estava novamente no templo.

O povo também veio bem cedo para poder escutá-lo. Eles sentavam no chão ao redor de Jesus e ele os ensinava. O que será que Jesus ensinava? Deve ter sido bonito, pois vinha antes do nascer do sol para poder escutá-lo!

 

2. João 8,3-6a: Os escribas armam a cilada

De repente, chegam os escribas e os fariseus, trazendo consigo uma mulher pega em flagrante de adultério. Eles a colocam no meio da roda entre Jesus e o povo. Conforme a lei, esta mulher deveria ser apedrejada (Lv 20,10; Dt 22,22.24). Eles perguntam: "E qual é a sua opinião?"

Era uma cilada. Se Jesus dissesse: "Apliquem a lei", eles diriam: "Ele não é tão bom como parece, porque mandou matar a pobre da mulher". Se dissesse: "Não matem", diriam: "Ele não é tão bom quanto parece, porque nem sequer observa a lei!" Sob a aparência de fidelidade a Deus, manipulam a lei e usam a pessoa da mulher para poder acusar Jesus.

 

3. João 8,6b-8: Reação de Jesus: escreve no chão

Parecia um beco sem saída. Mas Jesus não se apavora nem fica nervoso. Pelo contrário. Calmamente, como quem é dono da situação, ele se inclina e começa a escrever no chão com o dedo. Quem fica nervoso são os adversários. Eles insistem para que Jesus dê a sua opinião. Então, Jesus se levanta e diz: "Quem for sem pecado seja o primeiro a jogar a pedra!" E, inclinando-se, tornou a escrever no chão.

Jesus e a mulher adúltera

 

Jesus não discute a lei. Apenas muda o alvo do julgamento. Em vez de permitir que eles coloquem a luz da lei em cima da mulher para poder condená-la, pede que eles se examinem a si mesmos à luz do que a lei exige deles.

 

4. João 8,9-11: Jesus e a mulher

A resposta de Jesus derruba os adversários. Os fariseus e os escribas se retiram envergonhados, um depois do outro, a começar pelos mais velhos. Aconteceu o contrário do que eles queriam. A pessoa condenada pela lei não era a mulher, mas eles mesmos, que pensavam ser fiéis à lei. No fim, Jesus fica sozinho com a mulher no meio da roda. Ele se levanta e olha para ela: "Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou!" Ela responde: "Ninguém, Senhor!" E Jesus: "Nem eu te condeno! Vai, e de agora em diante não peques mais!" Jesus não permite que alguém use a lei de Deus para condenar o irmão ou a irmã, quando ele mesmo ou ela mesma é pecador ou pecadora.

Cristo e a mulher surpreendida em adultério de Max Beckmann

 

Este episódio, melhor do que qualquer outro ensinamento, revela que Jesus é a luz que faz aparecer a verdade. Ele faz aparecer o que existe escondido dentro das pessoas, no mais íntimo delas. À luz da sua palavra, os que pareciam os defensores da lei se revelam cheios de pecado e eles mesmos o reconhecem, pois vão embora, a começar pelos mais velhos. E a mulher, considerada culpada e merecedora da pena de morte, está de pé diante de Jesus, absolvida, redimida e dignificada (cf. Jo 3,19-21).

 

ALARGANDO

As Leis a respeito da mulher no Antigo Testamento e a reação do povo

Desde Esdras e Neemias, a tendência oficial era de excluir a mulher de toda a atividade pública e de considerá-la inapta para qualquer função na sociedade, a não ser para a função de esposa e mãe. O que mais contribuiu para a sua marginalização foi a lei da pureza. A mulher era declara impura por ser mãe, por ser esposa, por ser filha, por ser mulher. Por ser mãe: dando à luz, ela se torna impura.

Por ser filha: o filho que nasce traz 40 dias de impureza; mas a filha, 80 dias! (Levítico 12) Por ser esposa: a relação sexual a torna impura durante um dia (Levítico 15,18). Quando menstruava, ficava impura sete dias. E quem a tocasse também se tornava impuro por contágio (Levítico 18,19-23). E não havia meio para uma mulher manter sua impureza em segredo, pois a lei obrigava as outras pessoas a denunciá-la.

Esta legislação tornava insuportável a convivência diária em casa. Durante sete dias em cada mês, a mãe de família não podia deitar na cama, nem sentar-se numa cadeira, nem tocar nos filhos ou no marido, se não quisesse contaminá-los!

Esta legislação é fruto de uma mentalidade segundo a qual a mulher era inferior ao homem. Alguns provérbios revelam essa discriminação da mulher. A marginalização chegou ao ponto de se considerar a mulher como a origem do pecado e da morte e a causa de todos os males (Eclesiástico 25,24).

Desta maneira se justificavam e se mantinham o privilégio e a dominação do homem sobre a mulher. Por exemplo, se um homem depois de algum tempo de casado, não gostasse mais da sua mulher, podia livrar-se dela dizendo que ela já não era virgem quando se casaram. Se os pais da mulher não conseguissem provar o contrário, ela seria apedrejada (Deuteronômio 22,13ss).

A lei em relação ao divórcio é outro exemplo do privilégio do homem, pois somente ele tinha o direito de pedir o divórcio, mandando a mulher embora se já não a quisesse (Deuteronômio 24,1-4). A lei previa a morte do casal adúltero, mas na prática somente a mulher era julgada e condenada por adultério.

Dentro do contexto da época, a situação da mulher do povo da Bíblia não era pior nem melhor do que nos outros povos. Era a cultura geral. Até hoje, em muitos povos continua essa mesma mentalidade. Mas como hoje, assim também antigamente, desde o começo da história do povo da Bíblia sempre houve reações contrárias à exclusão da mulher, sobretudo depois do exílio, quando a lei marginalizava a mulher como impura e expulsava a estrangeira como perigosa.

A resistência da mulher cresceu no mesmo período em que a sua marginalização era mais pesada. Vários livros sapienciais registram essa voz da oposição: Cântico dos Cânticos, Rute, Judite, Ester. Nestes livros, a mulher aparece não como mãe nem como esposa, mas como mulher que sabe usar sua beleza e feminilidade para lutar pelos direitos dos pobres e assim defender a Aliança do povo. E ela luta não a favor do templo nem a favor de leis abstratas, mas sim a favor da vida do povo.

 

Fonte: O texto foi extraído do livro RAIO-X DA VIDA - Círculos Bíblicos do Evangelho de João. Coleção A Palavra na Vida 147/148. Autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino. CEBI Publicações.

 

Nota:  “O encontro de Jesus com a mulher que ia ser apedrejada (Jo 8: 1-11)” não representa necessariamente a opinião deste blog, nem de nenhuma das igrejas, sociedade ou grupos de estudos do Movimento da Ciência Cristã. Foi publicado para refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica. Conforme recentes descobertas sobre fatos nela registrados e opinião de estudiosos do texto bíblico, como objetivo de alcançarmos o significado espiritual das Escrituras.

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segunda-feira, 4 de março de 2013

SUGESTÃO PARA ESTUDAR AS LIÇÕES BÍBLICAS DA CIÊNCIA CRISTÃ

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Sugestão para  estudar

as Lições Bíblicas

da Ciência Cristã

 

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  Texto editado anteriormente,  no domingo, 03 de abril de 2012.

 

Se você é novato no estudo da Lição Bíblica da Ciência Cristã, aqui estão algumas dicas simples:

- Comece com uma boa compreensão do “TextoÁureo”. Ele é a porta de entrada para a mensagem da Lição Bíblica.

- Prossiga com a “Leitura Alternada”, estudando-a como desdobramento do Texto de Áureo.

- Ao usar uma edição impressa da Lição Bíblica, marque as passagens interessantes, com um marcador de texto, quando estiver lendo-a pela primeira vez. Da próxima vez, use um pouco mais de tempo para entendê-las melhor. Estas citações podem sair do seu foco de estudo, por alguma razão, da próxima vez que for ler o texto! 

- É muito importante compreender como as passagens de Ciência e Saúde se relacionam com as citações da Bíblia. Aproveite a oportunidade para desfrutar das relações existentes.

FOTO_Edésio Ferreira Filho

 

- Toda vez que você ler a Lição Bíblica certifique-se de examinar cuidadosamente a primeira e última citação de Ciência e Saúde. Às vezes, a primeira passagem de Ciência e Saúde da primeira seção da lição é correlativa ao texto áureo. Compare os duas citações, veja se existe alguma relação entre elas. Além disso, a última citação de Ciência e Saúde pode aparecer como resumo de toda a Lição Bíblica.

- A Bíblia, documento escrito há séculos, foi traduzida, ao longo do tempo, em diferentes línguas antes de alcançar o idioma que você lê. Por isso, uma passagem bíblica pode soar vaga ou confusa. Para apoiar seu estudo, procure ajuda de um bom dicionário bíblico   e  se puder diferentes traduções da Bíblia.

- Frases e palavras em Ciência e Saúde, muitas vezes necessitam, para serem entendidas, de bom nível de compreensão da língua em que estão traduzidas. Um bom dicionário deve ser usado, se for necessário. Não se acanhe!

Com_CS

 

Por último, o mais importante é se esforçar para demonstrar ou provar, a cada dia, as verdades encontradas na Lição Bíblica. Não espere muito para fazer isso. Use a inspiração para vencer e destruir o medo, o pecado e a doença, o resultado é conforto e amor!

 

Fonte: texto de Jim Fisher, CS (Praticista da Ciência Cristã), de Chagrin Falls, OH, EUA. Tradução e adaptação livre, Copyright © 2009 James D. Fisher,  All rights reserved.  http://jimfishercs.com/

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PARA PENSAR:

“O que é que pode sondar o infinito! Como deveremos anunciá-lo, até que, na linguagem do apóstolo, "todos chegaremos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo"?…” Ciência e Saúde Com Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy  (519:18-22).

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