segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO? (João 18:33-37)

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MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO?

João 18:33-37

 
Edmilson Schinelo e Ildo Bohn Gass

 

Para Jesus, a morte se mostrava iminente. Talvez lhe restasse apenas uma saída: fazer o jogo do poder, oferecido por Pilatos. Isso significaria abandonar o projeto que tinha assumido e proposto a seu grupo de seguidoras e seguidores. A conversa é tensa e Jesus pouco fala. O mundo de Pilatos não é o seu.

É assim que a comunidade joanina nos descreve o confronto entre dois projetos: o "mundo" e o "Reino". Ao ser indagado, Jesus assume a sua realeza. Mas esclarece: "Meu Reino não é como os reinos deste mundo" (João 18,36).

JEsus perante Pilatos

 

Na história da interpretação dos textos joaninos, com certeza essa é uma das frases que mais serviu para manipular a proposta de Jesus. Muitos a interpretaram como a afirmação de que a missão de Jesus foi "salvar almas para depois da morte" e não salvar vidas. Seu Reino foi jogado apenas para o céu (o pós-morte), como se Jesus não tivesse dito em sua oração: "venha o teu reino, seja realizada na terra a tua vontade, como é realizada nos céus" (Mateus 6,10).

 

Meu Reino não é como os reinos deste mundo

Nos escritos joaninos, o termo mundo significa tudo o que se opõe ao projeto de Deus. Uma tradução mais adequada da resposta de Jesus a Pilatos poderia ser: Meu reino não é como (de acordo com, conforme) este mundo. Ora, as comunidades joaninas sabiam muito bem como era o mundo de Pilatos, representante do Império Romano na Judeia. O mundo do Império impunha seu poder pela força das armas e pelas negociatas e artimanhas, entre relações desleais, corruptas e corruptoras. A proposta de Jesus é outra, seu Reino não compactua com este mundo.

O Reino de Jesus se apoia no poder serviço (João 13), que não busca prestígios, mas que doa sua vida até a morte na cruz para que a vida aconteça em plenitude (João 10,10). 

 

Jesus é rei, mas de outro projeto político

Muitas vezes, a frase em questão também é utilizada para justificar a postura de gente que afirma que "política e religião não se misturam". No intuito de justificar seu comportamento religioso teoricamente apolítico, pessoas e grupos também "espiritualizam" a leitura do movimento de Jesus: enquanto "rei espiritual" dos judeus, o Mestre almejava anunciar uma mensagem de paz totalmente espiritual e religiosa.

Infelizmente, não raras vezes, muitos dos que defendem essa postura, se líderes religiosos, vivem atrelamentos vergonhosos com políticos e empresários. E, se políticos ou empresários, quase sempre pedem as bênçãos de um líder religioso para suas ações e seus empreendimentos financeiros. Justificar o sistema com elementos e símbolos religiosos não seria, portanto, juntar religião e política. Questionar o sistema por meio da fé, isto seria.

A proposta de Jesus é uma proposta religiosa, de vivência de uma espiritualidade radical, que não se contenta com a superficialidade, mas vai até raízes mais profundas. Por essa razão, uma proposta altamente política. Ele mesmo, no capítulo 17, roga ao Pai pelos seus: "Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo. Mas não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno" (João 17,14b-15).

 

Quem é da verdade, escuta minha voz

A concepção hebraica de verdade difere da mentalidade greco-romana. Enquanto para Aristóteles "a verdade é a adequação do pensamento à realidade", para um hebreu autêntico, verdadeira é a pessoa fiel ao projeto de seu Deus e de sua comunidade. Verdade é sinônimo de fidelidade.

Em sua conversa com Pilatos, Jesus não tem receio de afirmar: "Vim ao mundo para dar testemunho da verdade" (João 18,37). Testemunhar a verdade é doar a vida até as últimas consequências. É fidelidade ao projeto amoroso do Pai.

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"E quem é da verdade, escuta a minha voz". Quem decide viver a verdade, o amor fiel, adere ao projeto de vida que vem do Pai, tal como a ovelha, ao ouvir a voz do seu pastor, segue-o pelo caminho (João 10).

Para a comunidade joanina, romper com os reinos deste mundo é assumir uma forma de espiritualidade que estimule relações alternativas, de justiça e de ternura, de partilha e de paz. A paz, fruto da justiça e não a paz imposta pelas armas dos impérios deste mundo (João 14,27).

 

Autores:  Ildo Bohn Gass e Edmilson Schinelo são Assessores do Centro de Estudos Bíblicos – www.cebi.org.br

 

Nota: O texto MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO? João 18:33-37 não representa a opinião deste blog, nem de nenhuma das igrejas, sociedade ou grupos de estudos   do Movimento da Ciência Cristã. Foi publicado para refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica. Conforme recentes descobertas sobre fatos nela registrados e opinião de estudiosos do texto bíblico, como  objetivo de alcançarmos o significado espiritual das Escrituras.

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Para refletir:

 

“Um só Deus infinito, o bem, unifica homens e nações; constitui a fraternidade dos homens; põe fim às guerras; cumpre o preceito das Escrituras: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”;  aniquila a idolatria pagã e cristã – tudo o que está errado nos códigos sociais, civis, criminais políticos e religiosos; estabelece a igualdade dos sexos;   anula a maldição sobre o homem, e não deixa nada que possa pecar, sofrer, ser punido ou destruído.”  CS 340:23

 

Venha o Teu reino,

O Teu reino já veio; Tu estás sempre presente.” O sentido espiritual da Oração do Senhor ,  livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras [CS] , de Mary Baker Eddy, pp. 16-17.

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domingo, 20 de janeiro de 2013

AS DUAS VOZES MAIS ANTIGAS DA TRADIÇÃO DE JESUS

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As duas vozes mais antigas

da tradição de Jesus

 

John Dominic Crossan

DePaul University, Chicago, EUA.

 

Há duas duas vozes muito importantes e muito antigas ainda discerníveis [em meio aos textos do Novo Testamento]: a proclamação do Reino a partir de Jesus, que é  continuada na proclamação do Cristo sobre Jesus. Em ambas as vozes carregam em si nuvens de controvérsias, mas, nesta apresentação, meu propósito não será debater tais controvérsias,  e assim tomar uma posição em relação a cada uma delas de maneira a compreender como tais vozes divergentes se desenvolveram dentro da mesma matriz do movimento do Reino. 

 

Primeira seção:

I. A tradição dos ditos originais

 Os eruditos do século XIX que estudaram as conexões textuais evidentes entre os três primeiros Evangelhos – os assim chamados Evangelhos sinóticos de Mateus, Marcos e Lucas – concluíram muito consensualmente que Marcos foi a primeira fonte utilizada – e utilizada independentemente – por Mateus e Lucas. A minha própria pesquisa tem consistentemente confirmado essa conclusão.

 

A existência do EVANGELHO Q

Após a decisão geral sobre a prioridade marcana, os eruditos perceberam um corpo de material não marcano comum a Mateus e a Lucas com sequências, conteúdos e teologias comuns em número suficiente a ponto de indicar não unidades aleatórias da tradição, mas uma outra fonte escrita muito importante. Os especialistas alemães a denominaram Q, abreviação para die Quelle (alemão para “a  fonte”).

O Evangelho Q é um escrito em grego, mas não guardado em nenhum museu ou biblioteca. Trata-se de uma hipótese necessária – necessária para explicar os dados não marcanos em Mateus e em Lucas. Mais uma vez, minha pesquisa confirmou a validade da segunda conclusão dos eruditos alemães e ela é meu primeiro pressuposto para esta seção.

Prefiro, por falar nisso, chamá-la de Evangelho Q em vez  de fonte Q, com o objetivo de e  enfatizar a sua integridade e não apenas o seu uso. Esse Evangelho Q não tem referencia clara à destruição real de Jerusalém ou de seu templo – como acontece, por exemplo, em Mc 13 – por isso é normalmente datado dos anos 50 do século I.

Nesta apresentação, assim, aceito e assumo a validade da teoria das duas fontes, nomeadamente, que Mateus e Lucas usaram, independentemente, duas fontes independentes – o Evangelho de Marcos e o  Evangelho Q. Obviamente, a única forma de confirmar tais hipóteses é aceitá-las temporariamente e testá-las incansavelmente.

 

A independência do EVANGELHO DE TOMÉ

Há um outro texto importante a ser considerado além do Evangelho Q. Trata-se do Evangelho de Tomé, que não constitui uma hipótese alemã do fim do século XIX, mas um documento copta   de meados do século XX. Desde a sua descoberta em 1945, numa das margens do rio Nilo, a controvérsia Nag Hammadi tem-se  centrado em uma importante questão. Trata-se de uma coleção redigida dos ditos de Jesus extraídos dos três Evangelhos sinóticos – ou mesmo do  Evangelho Q – ou é um texto independente em relação aos outros dois documento?

Ficheiro:Eg-NagHamadi-map.png

O local da descoberta, Nag Hammadi no mapa do Egito

 

Desde o princípio, há eruditos eminentes que se posicionam de ambos os lados do debate. No entanto, a minha própria pesquisa me convenceu a posicionar-me  ao lado daqueles que defendem a questão da independência das fontes. O que me convence é,  primeiramente, o argumento da ordem e, apenas secundariamente, o argumento do conteúdo.

  O Evangelho de Tomé não possui uma narrativa ou uma estrutura temática. Simplesmente, é um apanhado de ditos de Jesus com palavras que unem alguns desses ditos aqui e ali. Se o autor fosse dependente de precedentes intracanônicos – seja copiando-os, seja recordando-os –, não haveria razão para separa tais derivações tão completamente e espalhá-las tão profundamente da maneira como aparecem na composição que chegou até nós.

Aqui está um exemplo do argumento da ordem e da sequência. Imagine alguém ler as séries de nove bem-aventuranças interligá-las em Mt 5,3-11  -  que têm por sequência os pobres, os famintos, os perseguidos –, ou ler as quatro bem-aventuranças em Lc 6,20b-23 – que também têm por sequência os pobres, os famintos, os perseguidos – e, então, em vez de aceitar a óbvia ordem das palavras de “bem-aventurados” e mantê-las juntas, este alguém resolver espalhá-las pelo seu documento da seguinte maneira:

Bem-aventurados os pobres

Evangelho de Tomé 54

Evangelho Q: Lc 6,20 = Mt 5,3

Bem-aventurados os famintos

Evangelho de Tomé 69,2

Evangelho Q: Lc 6,21a = Mt 5,6

Bem-aventurados os perseguidos

Evangelho de Tomé 68 = 69,1

Evangelho Q: Lc 6,22-23 = Mt 5,11-12

 Não teria a preferência do Evangelho de Tomé, pela ordem de palavras, servido para manter a tríade unida – com o grego “bem-aventurado” sendo utilizado como uma palavra emprestada no copta?

 

Os coptas ou coptos em copta, ou.Remenkīmi en.Ekhristianos [literalmente: "cristão egípcio"] são egípcios cujos ancestrais abraçaram o cristianismo no século I. Formam um dos principais grupos etno-religiosos do país.

A língua copta  que floresceu por volta do século III século no Egito Antigo, da família linguística camito-semítica ou afro-asiática.  O alfabeto copta é uma versão modificada do alfabeto grego,  com algumas letras demóticas  utilizadas para representar alguns sons não existentes no alfabeto grego. Como língua cotidiana teve seu apogeu entre o século III e o século VI.  Ainda hoje permanece como língua litúrgica da Igreja Ortodoxa Copta e da  Igreja Católica Copta. 

O copta é um estágio final da língua  egípcia clássica, e foi falado até o século XVII. Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Ficheiro:Coptic Bible.JPG

      Bíblia escrita em copta

 

Nesse sentido, em termos de conclusão, acredito que a tal falta de semelhança em termos de ordem entre a sequência do Evangelho de Tomé e aquela dos evangelhos intracanônicos ou, por assim dizer, do Evangelho Q reconstruído, me forneçe a hipótese de trabalho de que o Evangelho de Tomé é completamente independente em relação a eles.

A propósito, “independência” significa, apenas  e tão somente, o que foi agora proposto. Não se trata de um argumento velado para afirmar nada além deste caso. Enfatizo que a constatação da independência não quer dizer, por exemplo, que o Evangelho de Tomé contenha citaçõesnão redigidas de Jesus carentes de comentários ou contenha recordações sem nenhuma edição teológica posterior. A constatação da independência também não resolve o problema da data original  do texto.

Se o Evangelho de Tomé fosse dependente em relação a um ou mais de um dos Evangelhos sinóticos, ele seria, necessariamente, posterior a eles. No entanto, como se trata de um texto independente, pode ser mais antigo, contemporâneo ou posterior a eles.

Ficheiro:Antonius Kloster BW 7.jpg

Mosteiro copta de Santo Antão, Egito

 

 O desafio da TRADIÇÃO DOS DITOS COMUNS

Uma vez aceita a existência do Evangelho Q e a independência do Evangelho de Tomé, percebe-se que a aproximadamente um terço dos dois Evangelhos é composto das mesmas unidades:

  • 37 dentre as 132 unidades [28%] do Evangelho de Tomé têm paralelo no Evangelho Q.
  • 37 dentre as 101 [37%] do Evangelho Q tem paralelo no Evangelho de Tomé.

Denomino tais 37 unidades de tradição de ditos comuns e, já que não há evidencia de nenhuma sequência comum na distribuição delas por entre os dois Evangelhos, considero que a fonte seja oral e não escrita (ver o Anexo). [previsto para ser postado futuramente neste blog, juntamente com a segunda seção deste texo: A tradição Paulina  X  a tradição de ditos comuns]

Porém, para o meu objetivo presente, a questão mais importante diz respeito à teologia da tradição dos ditos comuns e, em função dos constrangimentos de tempo desta apresentação, respondo à pergunta enfocando estas quatro unidades comuns:

 A semente de mostarda

Evangelho de Tomé  20

Evangelho Q:  Lc 13,18-19 = Mt 13,31-32

Maior que João

Evangelho de Tomé  46

Evangelho Q: Lc 7,28  = Mt 11,11

Bem-aventurados  os pobres

Evangelho de Tomé  54

Evangelho Q: Lc 6,20 = Mt 5,3

 O fermento

Evangelho de Tomé  96,1-2

Evangelho Q:  Lc 13,20-2 Mt 13,33

 

O Reino

Embora o Reino seja especificado de forma divergente quadro ditos, todos eles concernem ao Reino divino e transcendental como um conceito escatológico e todos eles se referem à grande limpeza a ser feita por Deus no mundo – aqui embaixo, na terra (respectivamente):

Evangelho de Tomé

Lucas

Mateus

O Reino dos Céus

O Reino

O Reino dos Céus

O Reino do Pai

O Reino de Deus

O Reino de Deus

O Reino de Deus

O Reino de Deus

O Reino dos Céus

O Reino dos Céus

O Reino dos Céus

O Reino dos Céus

 Uma vez que há um consenso historiográfico de que a mensagem e a missão de Jesus diziam respeito ao Reino de Deus, isto coloca a tradição dos ditos comuns em continuação direta com o Jesus histórico.

 

Presença

Mas o Reino é já presente ou será num futuro iminente para a tradição de ditos comuns? Atentemos, por exemplo, ao segundo dito sobre João Batista:

Evangelho de Tomé 46

Lucas 7,28

Mateus 11,11

“Jesus disse: De Adão a João Batista, entre os nascidos de mulher, nenhum foi maior do que João Batista, de modo que seus olhos não serão destruídos. Eu, porém disse que, quem dentre vós se tornar uma criança, reconhecerá o Reino e será maior do que João”.

“Eu vos digo: entre todos os nascidos de mulher não há ninguém maior do que João. No entanto, o menor no Reino de Deus é maior do que ele.”

“Em verdade, eu vos digo, entre todos os nascidos de mulher não surgiu quem fosse maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele.”

 Apesar das diferentes rendições e diferentes redações, a tradição de ditos comuns deve ter contrastado o grande valor de João ao valor ainda maior de estar no Reino. Enquanto João proclamou o advento de Deus como algo num futuro iminente, ao menos temporariamente, a tradição dos ditos comuns permaneceu em continuidade com o Reino já presente de Jesus.

 

Pobreza

Isto também aparece no terceiro dito, onde o Reino já é presente para os pobres e oprimidos deste mundo:

Evangelho de Tomé 54

Lucas 6,20

Mateus 5,3

“Jesus disse: Benditos vós, os pobres, porque a vós pertence o Reino dos Céus.”

“Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus!”

“Felizes os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus.”

Eles não são bem-aventurados agora em razão de um advento futuro, mas podem perceber esse advento aqui e agora.

 

Parábolas

Tanto a primeira quanto a última unidade dos quatro ditos são parábolas e para sublinhar o eschaton presente como um evento participativo, interativo e colaborativo. Não se trata de Deus sem auxílio daqueles que acreditam e nem daqueles que acreditam sem auxílio de Deus.

Como um gênero de discurso, as parábolas atraem e desafiam o ouvinte ou o leitor a fazer uma interpretação. Por isso atraem e desafiam à participação no processo da presença do Reino. De que forma as metáforas como “mostarda” ou “fermento” proclamam o Reino? A parábola é mais precisamente o gênero linguístico apropriado para o eschalon participativo.

Em termos de conclusão, e aos menos a partir deste exame preliminar, a tradição dos ditos comuns se mostra em continuidade muito próxima, tanto em termos do conteúdo quanto da forma, com a proclamação, por parte de Jesus histórico, do desafio participativo de um eschaton movido pela colaboração entre Deus e aqueles que creem.

 

“A continuidade estava no mimetismo, não na mnemônica,

em imitar a vida, não em lembrar palavras.”

John Dominic Crossan, O nascimento do cristianismo, p.441.

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Este texto é parte da versão traduzida da segunda conferência ministrada por John Dominic Crossan em 18.10. 2007 no I Seminário Internacional do Jesus Histórico. Tradução de Monica Selvatici.

Artigo tem por base os seguintes livros: [1] O nascimento do cristianismo. O que aconteceu nos anos que se seguiram à execução de Jesus. São Paulo: Paulinas, 2004.    [2] Em busca de Paulo. Como o apóstolo de Jesus opôs o Reino de Deus ao império romano. São Paulo: Paulinas, 2007 (em co-autoria com Jonathan L. Reed).

Também se apoia na conferência proferida pelo autor neste simpósio, na qual proponha que Jesus proclamou não uma limpeza escatológica do mundo num futuro iminente somente por intervenção de Deus, mas uma limpeza escatológica do mundo já presente por meio da colaboração entre os seres humanos e Deus.

Fonte: A descoberta do Jesus histórico. André L. Chevitarese, Gabriele Cornelli, (organizadores), 1ª Edição, São Paulo: Paulinas, 2009. (Coleção quem dizem que sou?).

Amplie seus conhecimentos lendo “As três gerações do cristianismo primitivo” e “O Evangelho segundo Mateus” da postagem “Festejos de Reis” de 03 de janeiro de 2012.

 

Nota:As duas vozes mais antigas da tradição de Jesus”  foi publicado para refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia no contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica em que seus relatos foram escritos. Conforme recentes descobertas sobre fatos nela registrados e a opinião de estudiosos do texto bíblico, com o objetivo de alcançarmos o significado espiritual das Escrituras.

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 Para refletir:

 

Venha o Teu reino,

O Teu reino já veio; Tu estás sempre presente.

[O sentido espiritual da Oração do Senhor – do livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy, pp. 16-17.]

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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

QUEM É CEGO QUER VER, QUEM TEM OLHOS NÃO QUER ENXERGAR

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COMENTÁRIO SOBRE RELATO BÍBLICO:

 

 

QUEM É CEGO QUER VER

QUEM TEM OLHOS NÃO QUER ENXERGAR

Marcos 10: 35-45

 

        

ABRIR OS OLHOS PARA VER

O texto traz a discussão dos discípulos pelo primeiro lugar. Pelo jeito, os discípulos continuavam cegos! Enquanto Jesus insistia no serviço e na doação, eles teimavam em pedir os primeiros lugares no Reino, um à direita e outro à esquerda do trono.

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  O bom samaritano

 

Sinal da ideologia dominante da época tinha penetrado profundamente na mentalidade dos discípulos. Apesar da convivência de vários anos com Jesus, eles não tinham renovado sua maneira de ver as coisas. Eles olhavam para Jesus com o olhar antigo. Queriam uma retribuição pelo fato de seguir a Jesus. Vamos conversar mais sobre isto.

 

COMENTANDO

1.   Marcos 10,35-37: O pedido pelo primeiro lugar

Os discípulos não só não entendem, mas continuam com suas ambições pessoais. Tiago e João pedem um lugar na glória do Reino, um à direita e outro à esquerda de Jesus. Querem passar na frente de Pedro!

Não entenderam a proposta de Jesus. Estavam preocupados só com os próprios interesses. Isto reflete a briga e as tensões que existiam nas comunidades no tempo de Marcos, e que existem até hoje nas nossas comunidades.

 

2.   Marcos 10,38-40: A resposta de Jesus

Jesus reage com firmeza: "Vocês não sabem o que estão pedindo!" E pergunta se eles são capazes de beber o cálice que ele, Jesus vai beber e se estão dispostos a receber o batismo que ele vai receber. É o cálice do sofrimento, o batismo de sangue! Jesus quer saber se eles, em vez do lugar de honra, aceitam entregar a vida até a morte. Os dois respondem: "Podemos!" Parece uma resposta da boca para fora, pois, poucos dias depois, abandonaram Jesus e o deixaram sozinho na hora do sofrimento (Mc 14,50).

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Eles não têm muita consciência crítica, nem percebem sua realidade pessoal. Quanto ao lugar de honra no Reino ao lado de Jesus, quem o dá é o Pai. O que ele, Jesus, tem para oferecer é o cálice e o batismo, o sofrimento e a cruz.

 

3.   Marcos 10,41-44: Entre vocês não seja assim

Neste final da sua instrução sobre a cruz, Jesus fala, novamente, sobre o exercício do poder (cf. Mc 9,33-35). Naquele tempo, os que detinham o poder, não prestavam contas ao povo. Agiam conforme bem entendiam (cf. Mc 6,17-29).

O Império Romano controlava o mundo e o mantinha submisso pela força das armas, e, assim, através de tributos, taxas e impostos, conseguia concentrar a riqueza dos povos na mão de poucos lá em Roma. A sociedade era caracterizada pelo exercício repressivo e abusivo do poder.

Jesus tem outra proposta. Ele diz: "Entre vocês não deve ser assim! Quem quiser ser o maior, seja o servidor de todos!" Ele traz ensinamentos contra os privilégios e contra a rivalidade. Inverte o sistema e insiste no serviço como remédio contra a ambição pessoal.

 

4.   Marcos 10,45: O resumo da vida de Jesus

Jesus define a sua missão e a sua vida: "Não vim para ser servido, mas para servir!" Veio para dar sua vida em resgate para muitos. Ele é o Messias Servidor, anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12). Aprendeu da mãe que disse: "Eis aqui a serva do Senhor!" (Lc 1,38). Proposta totalmente nova para a sociedade daquele tempo.

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ALARGANDO

A fé é uma força que transforma as pessoas

A Boa Nova do Reino anunciada por Jesus era como um fertilizante. Fazia crescer a semente da vida que estava escondida no povo, escondida como fogo em brasa debaixo das cinzas das observâncias sem vida. Jesus soprou nas cinzas e o fogo acendeu, o Reino desabrochou e o povo se alegrou. A condição era sempre a mesma: crer em Jesus.

Mas quando o medo toma conta, a fé desaparece e a esperança se apaga. Na hora da tempestade, Jesus reclamou da falta de fé dos discípulos (Mc 4,40). Eles não acreditavam, pois tinham medo (Mc 4,41).

Por falta de fé dos moradores de Nazaré, Jesus não pôde fazer aí nenhum milagre (Mc 6,6). Aquele povo não quis acreditar, porque Jesus não era como eles queriam que ele fosse (Mc 6,2-3). Foi ainda a falta de fé que impediu os discípulos de expulsar "um espírito mudo" que maltratava um menino doente (Mc 9,17). Jesus os criticou: "Ó gente sem fé!" (Mc 9,19). E indicou o caminho para reanimar a fé: "Essa espécie de demônios não pode ser expulsa a não ser pela oração" (Mc 9,29).

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Jesus estimulava as pessoas a ter fé nele e, por conseguinte, a criar confiança em si mesmas (Mc 5,34.36; 7,25-29; 9,23-29; 10,52; 12,34.41-44). Ao longo das páginas do Evangelho de Marcos, a fé em Jesus e na sua palavra aparece como uma força que transforma as pessoas. Ela faz receber o perdão dos pecados (Mc 2,5), enfrenta e vence a tempestade (Mc 4,40), faz renascer as pessoas e aciona nelas o poder de se curar e de se purificar (Mc 5,34).

A fé consegue vencer a própria morte, pois a menina de 12 anos ressuscitou graças à fé de Jairo, seu pai, na palavra de Jesus (Mc 5,36). A fé faz o cego Bartimeu enxergar de novo: "Tua fé te salvou!" (Mc 10,52).

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Se você disser à montanha: "Atire-se ao mar!", ela vai cair no mar, contanto que você não duvide no coração (Mc 11,23-24). "Para quem tem fé tudo é possível!" (Mc 9,23). "Tende fé em Deus!" (Mc 11,22).

Pelas suas conversas e ações, Jesus despertava no povo uma força adormecida que o próprio povo não conhecia. Assim, Jairo (Mc 5,36), a mulher do fluxo de sangue (Mc 5,34), o pai do menino epilético (Mc 9,23-24), o cego Bartimeu (Mc 10,52) e tantas outras pessoas, pela fé em Jesus, fizeram nascer vida nova em si mesmas e nos outros.

 

Fonte: Texto extraído do livro ''CAMINHANDO COM JESUS'' - Círculos Bíblicos do Evangelho de Marcos - Coleção A Palavra na Vida 184/185. CEBI Publicações.

 

Nota: O  texto QUEM É CEGO QUER VER, QUEM TEM OLHOS NÃO QUER ENXERGAR  não representa necessariamente a opinião deste blog nem de nenhuma das igrejas do Movimento da Ciência Cristã. Foi publicado para  refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica. Conforme recentes  descobertas sobre fatos nela registrados e opinião de estudiosos do texto bíblico,  como objetivo de alcançarmos o significado espiritual das Escrituras.

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PARA REFLETIR:

“Apenas a fé cega no Mestre e todo o amor emotivo que lhe pudermos devotar, jamais nos farão imitadores dele. Temos de fazer o mesmo, do contrário não nos estaremos valendo das grandes bençãos que nosso Mestre, com tanto trabalho e sofrimento, nos outorgou.”  CS 25: 28   Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy

“Nosso Pai celestial, o Amor divino, exige que todos os homens sigam o exemplo de nosso Mestre e seus apóstolos, e não lhe adorem meramente a personalidade” CS 40: 25-28

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domingo, 6 de janeiro de 2013

GRATIDÃO E ESPÍRITO INVESTIGATIVO

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Memória:

 

Gratidão e espírito investigativo

Maranatha Ruggeri Milani

 

Arauto CS  I

 

ARAUTO CS

 

Fonte:  O Arauto da Ciência Cristã,  ano 58 – nº 01, Sociedade Publicadora da Ciência Cristã, todos os direitos reservados.  

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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O FUTURO DA HUMANIDADE

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Feliz Ano Novo! 

O futuro da humanidade

 FLORIANÓPOLIS_Lagoa da Conceição_SC_Brasil_Edésio Ferreira Filho

Lagoa da Conceição,  Florianópolis, SC – Brasil

 

A tragédia é que sofremos da ausência de instituições planetárias dotadas de poder de decisão. O fracasso da Rio+20  criou uma desilusão enorme. É por isso que não progredimos no desenvolvimento da noção de um destino comum para a comunidade terrestre.

 

Edgar Morin

 

[…] Um mundo em transformação requer um projeto de transformação e uma rede de sustentação social e política desse projeto. E nós sabemos que o novo não nasce do nada, nasce da mudanças qualitativas, de saltos às vezes imprevisíveis que apontam um sentido comum, mas que partem da realidade atual.

Isso também coloca a questão de um programa de transição. Mas, mais do que tudo, coloca a questão de quem serão esses novos atores que vão operar essas mudanças.

Em primeiro lugar, é preciso definir o que é probabilidade. Para um observador situado em um lugar e em um tempo dados, o conhecimento do processo histórico no qual se encontra é o que lhe permite projetar o futuro. Se hoje projetamos o futuro, o que vemos? Vemos a proliferação dos artefatos nucleares, a degradação da biosfera, uma economia cada vez mais em crise, o crescimento da desigualdade, toda uma série de desastres.

Há também alguns processos positivos, mas eles permanecem invisíveis ou não pontuais. O improvável já ocorreu na história da humanidade. O provável não é definido, permanece incerto. Nós podemos observá-lo em diferentes épocas da história.

Eu vi em 1941, quando havia uma grande probabilidade de dominação nazista por toda a Europa. Os Soviéticos, com a defesa de Moscou, e os japoneses, bombardeando Pearl Harbor, o que forçou a entrada dos Estados Unidos na guerra, fizeram as probabilidades mudar. Isso para dizer que, quanto as probabilidades negativas, eu não fico desesperado, eu me ponho em defesa de um programa.

Não acredito que se deva pensar em um projeto de sociedade; é necessário, sim indicar um caminho. É  essa a dificuldade. Quanto ao programa de transição, que conheci através de Trotsky, bem, não acredito em programas, mas em estratégias. É que um programa   já está determinado antes mesmo da caminhada, e o caminho é uma corrente que vai no sentido favorável. Vamos avaliar a situação: será que podemos mudar o caminho? Aparentemente não.

Alto Caparaó_MG_Brasil_Edésio Ferreira Filho

Alto Caparaó, Minas Gerais, Brasil

 

Vamos avaliar a situação: será que podemos mudar o caminho?

Ao longo da história podemos identificar que ocorreram mudanças de caminho a partir de acontecimentos isolados, menores, invisíveis, como as mensagens de Buda, de Jesus, de Maomé, ou mesmo do socialismo, que no século XIX tinha Marx, tinha Proudhon, que difundiam  ideias que dezenas de anos depois se transformaram em forças muito importantes, gerando tanto a social-democracia como o comunismo.

Portanto, sempre houve um inicio modesto das novas forças. Podemos recorrer à velha noção de história, que caminha também por canais subterrâneos, que sempre está em movimento, que o presente não está imóvel e que nele atuam forças de transformações invisíveis.

De resto, quando  você pensa na descoberta da energia atômica, percebe que foi uma descoberta totalmente invisível, uma descoberta especulativa, intelectual, do exercício de pesquisa de alguns físicos. E dez anos depois essa energia se transforma em bombas de destruição. Portanto, existem muitas coisas que estão invisíveis, o futuro não é previsível, é preciso resistir e construir o improvável.

[…] O que é preciso reformar? As estruturas sociais e econômicas? Ou as pessoas e a moral? Eu digo que esses processos têm de vir juntos. Porque, se você reforma somente as estruturas, você chega a situação da União Soviética. Mas, se você propõe caminhos individuais ou comunitários, eles fracassam depois de alguns anos. Operando nos dois planos, essa corrente flui para criar o novo.

O grande problema é a metamorfose – prefiro a palavra metamorfose à palavra revolução –, pois penso que em um momento dado, quando o sistema não é capaz de tratar suas questões vitais, ou ele se desintegra, ou regride e se torna ainda mais bárbaro, ou é capaz de criar um metassistema, que recicla seu projeto. A metamorfose existe não somente nos insetos, que se transformam em borboletas, mas também na história.

A Europa se metamorfoseou na Europa medieval, feudal, religiosa, para a Europa moderna, contemporânea. A metamorfose é possível e torna possível criarmos um novo modo de desenvolvimento e um novo tipo de sociedade que não podemos prever, mas que ultrapassa as expectativas dos indivíduos e da sociedade atual. Penso que é isso que podemos esperar, mesmo que hoje não sejamos capazes de descrever ou imaginar essa futura sociedade.

[…]  Penso que há duas ameaças que atemorizam o mundo: uma delas é o capitalismo financeiro, a dominação   financeira; a outra é o fanatismo étnico-religioso.   Eles se alimentam uns dos outros. A questão das transnacionais está colocada e isso só pode ser tratado na escala planetária.

A tragédia é que sofremos da ausência de instituições planetárias dotadas de poder de decisão. O fracasso da Rio+20 criou uma desilusão enorme. É por isso que não progredimos no desenvolvimento da noção de um destino comum para a comunidade terrestre.

Mesmo considerando a ideia de solidariedade internacional que existia, sendo ela socialista, comunista ou libertária, essas ideias não progrediram para enfrentar a situação atual. Agora, quais  as forças sociais que podem agir? Não podemos pensar que seja a classe operária, industrial. Em minha opinião, é a boa vontade dos homens , das mulheres, dos jovens e dos velhos, que vão confluir nessa tomada de consciência.

Estrela 04_Ricardo Weigand

Estrelas de Ricardo Weigand

 

E, bem entendido, esse é o destino dos povos que são dominados, oprimidos, e que querem conquistar sua emancipação. E que vão contribuir para o processo de emancipação.

[…] Minha recomendação é que, aí onde você está, lute pelas mutações, quer elas tenham dimensão global ou local. O desenvolvimento local favorece a melhoria global e a melhoria global favorece o desenvolvimento local. É esse o desafio atual: tomar consciência do que hoje são os problemas e se engajar para enfrentá-los. É isso que eu quero para a juventude. 

 

Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum, nasceu em Paris, em 8 de julho de 1921, fez seus estudos universitários em História, Sociologia, Economia e Filosofia. Licenciou-se em História, Geografia e Direito. É diretor de pesquisa emérito do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês). Em 1991, tornou-se codiretor do Centro de Estudos Transdisciplinares de Sociologia, Antropologia e História (Cetsah) – tutelado pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e pelo CNRS –, que em 2008 passou a se chamar Centro Edgar Morin. Doutor honoris causa por mais de trinta universidades e premiado internacionalmente.

 

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Estrelas de Ricardo Weigand

A metamorfose é possível e torna possível criarmos um novo modo de desenvolvimento e um novo tipo de sociedade que não podemos prever, mas que ultrapassa as expectativas dos indivíduos e da sociedade atual.” Edgar Morin

 

Fonte: respostas de Edgar Morin a  perguntas feitas por  Silvio Caccia Bava  diretor do “Le Monde Diplomatique Brasil”entrevista  publicada na edição nº 65/Ano 6.

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