segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO? (João 18:33-37)

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MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO?

João 18:33-37

 
Edmilson Schinelo e Ildo Bohn Gass

 

Para Jesus, a morte se mostrava iminente. Talvez lhe restasse apenas uma saída: fazer o jogo do poder, oferecido por Pilatos. Isso significaria abandonar o projeto que tinha assumido e proposto a seu grupo de seguidoras e seguidores. A conversa é tensa e Jesus pouco fala. O mundo de Pilatos não é o seu.

É assim que a comunidade joanina nos descreve o confronto entre dois projetos: o "mundo" e o "Reino". Ao ser indagado, Jesus assume a sua realeza. Mas esclarece: "Meu Reino não é como os reinos deste mundo" (João 18,36).

JEsus perante Pilatos

 

Na história da interpretação dos textos joaninos, com certeza essa é uma das frases que mais serviu para manipular a proposta de Jesus. Muitos a interpretaram como a afirmação de que a missão de Jesus foi "salvar almas para depois da morte" e não salvar vidas. Seu Reino foi jogado apenas para o céu (o pós-morte), como se Jesus não tivesse dito em sua oração: "venha o teu reino, seja realizada na terra a tua vontade, como é realizada nos céus" (Mateus 6,10).

 

Meu Reino não é como os reinos deste mundo

Nos escritos joaninos, o termo mundo significa tudo o que se opõe ao projeto de Deus. Uma tradução mais adequada da resposta de Jesus a Pilatos poderia ser: Meu reino não é como (de acordo com, conforme) este mundo. Ora, as comunidades joaninas sabiam muito bem como era o mundo de Pilatos, representante do Império Romano na Judeia. O mundo do Império impunha seu poder pela força das armas e pelas negociatas e artimanhas, entre relações desleais, corruptas e corruptoras. A proposta de Jesus é outra, seu Reino não compactua com este mundo.

O Reino de Jesus se apoia no poder serviço (João 13), que não busca prestígios, mas que doa sua vida até a morte na cruz para que a vida aconteça em plenitude (João 10,10). 

 

Jesus é rei, mas de outro projeto político

Muitas vezes, a frase em questão também é utilizada para justificar a postura de gente que afirma que "política e religião não se misturam". No intuito de justificar seu comportamento religioso teoricamente apolítico, pessoas e grupos também "espiritualizam" a leitura do movimento de Jesus: enquanto "rei espiritual" dos judeus, o Mestre almejava anunciar uma mensagem de paz totalmente espiritual e religiosa.

Infelizmente, não raras vezes, muitos dos que defendem essa postura, se líderes religiosos, vivem atrelamentos vergonhosos com políticos e empresários. E, se políticos ou empresários, quase sempre pedem as bênçãos de um líder religioso para suas ações e seus empreendimentos financeiros. Justificar o sistema com elementos e símbolos religiosos não seria, portanto, juntar religião e política. Questionar o sistema por meio da fé, isto seria.

A proposta de Jesus é uma proposta religiosa, de vivência de uma espiritualidade radical, que não se contenta com a superficialidade, mas vai até raízes mais profundas. Por essa razão, uma proposta altamente política. Ele mesmo, no capítulo 17, roga ao Pai pelos seus: "Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo. Mas não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno" (João 17,14b-15).

 

Quem é da verdade, escuta minha voz

A concepção hebraica de verdade difere da mentalidade greco-romana. Enquanto para Aristóteles "a verdade é a adequação do pensamento à realidade", para um hebreu autêntico, verdadeira é a pessoa fiel ao projeto de seu Deus e de sua comunidade. Verdade é sinônimo de fidelidade.

Em sua conversa com Pilatos, Jesus não tem receio de afirmar: "Vim ao mundo para dar testemunho da verdade" (João 18,37). Testemunhar a verdade é doar a vida até as últimas consequências. É fidelidade ao projeto amoroso do Pai.

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"E quem é da verdade, escuta a minha voz". Quem decide viver a verdade, o amor fiel, adere ao projeto de vida que vem do Pai, tal como a ovelha, ao ouvir a voz do seu pastor, segue-o pelo caminho (João 10).

Para a comunidade joanina, romper com os reinos deste mundo é assumir uma forma de espiritualidade que estimule relações alternativas, de justiça e de ternura, de partilha e de paz. A paz, fruto da justiça e não a paz imposta pelas armas dos impérios deste mundo (João 14,27).

 

Autores:  Ildo Bohn Gass e Edmilson Schinelo são Assessores do Centro de Estudos Bíblicos – www.cebi.org.br

 

Nota: O texto MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO? João 18:33-37 não representa a opinião deste blog, nem de nenhuma das igrejas, sociedade ou grupos de estudos   do Movimento da Ciência Cristã. Foi publicado para refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica. Conforme recentes descobertas sobre fatos nela registrados e opinião de estudiosos do texto bíblico, como  objetivo de alcançarmos o significado espiritual das Escrituras.

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Para refletir:

 

“Um só Deus infinito, o bem, unifica homens e nações; constitui a fraternidade dos homens; põe fim às guerras; cumpre o preceito das Escrituras: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”;  aniquila a idolatria pagã e cristã – tudo o que está errado nos códigos sociais, civis, criminais políticos e religiosos; estabelece a igualdade dos sexos;   anula a maldição sobre o homem, e não deixa nada que possa pecar, sofrer, ser punido ou destruído.”  CS 340:23

 

Venha o Teu reino,

O Teu reino já veio; Tu estás sempre presente.” O sentido espiritual da Oração do Senhor ,  livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras [CS] , de Mary Baker Eddy, pp. 16-17.

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