domingo, 8 de dezembro de 2013

COM OS OLHOS ABERTOS


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  Celebrando a vida:



                                        
“O que conta na vida não é o simples fato de  termos vivido. É o de termos feito diferença para a vida dos outros o  que  irá determinar o significado da vida que levamos”. Nelson Mandela 

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Com os olhos abertos

José Pagola

Instituto Humanitas Unisinos (IHU)


As primeiras comunidades cristãs viveram anos muito difíceis. Perdidos no vasto Império de Roma, no meio de conflitos e perseguições, aqueles cristãos procuravam força e alento esperando a pronta vinda de Jesus e recordando as suas palavras: Vigiai. Vivei despertos. Tende os olhos abertos. Estai alerta.

Significam, no entanto, algo para nós as chamadas de Jesus a viver despertos? Que é hoje para os cristãos colocar a nossa esperança em Deus vivendo com os olhos abertos? Deixaremos que se esgote definitivamente no nosso mundo secular a esperança numa última justiça de Deus para essa imensa maioria de vítimas inocentes que sofrem sem culpa alguma?
Precisamente, a forma mais fácil de falsear a esperança cristã é esperar de Deus a nossa salvação eterna, enquanto viramos as costas ao sofrimento que há agora mesmo no mundo. Um dia teremos que reconhecer a nossa cegueira ante Cristo Juiz: Quando te vimos faminto ou sedento, estrangeiro ou nu, doente ou na prisão, e não te assistimos? Este será o nosso diálogo final com Ele se vivemos com os olhos fechados.
Temos de despertar e abrir bem os olhos. Viver vigilantes para ver para lá dos nossos pequenos interesses e preocupações. A esperança do cristão não é uma atitude cega, pois não esquece nunca os que sofrem. A espiritualidade cristã não consiste só num olhar para o interior, pois o Seu coração está atento a quem vive abandonado à sua sorte.
Nas comunidades cristãs temos de cuidar cada vez mais que o nosso modo de viver a esperança não nos leve à indiferença ou ao esquecimento dos pobres. Não podemos isolar-nos na religião para não ouvir o clamor dos que morrem diariamente de fome. Não nos está permitido alimentar a nossa ilusão de inocência para defender a nossa tranquilidade.
Uma esperança em Deus, que se esquece dos que vivem nesta terra sem poder esperar nada, não pode ser considerada como uma versão religiosa de certo otimismo a todo custo, vivido sem lucidez nem responsabilidade? Uma busca da própria salvação eterna de costas aos que sofrem, não pode ser acusada de ser um sutil "egoísmo profundo estendido para o além"?
Provavelmente, a pouca sensibilidade ao sofrimento imenso que há no mundo é um dos sintomas mais graves do envelhecimento do cristianismo atual. Quando o Papa Francisco reclama "uma Igreja mais pobre e dos pobres", está a gritar a sua mensagem mais importante aos cristãos dos países do bem-estar.

Nota: O texto Com os olhos abertos não representa necessariamente a opinião das igrejas do Movimento da Ciência Cristã. Foi publicado para  refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica. Conforme recentes  descobertas sobre fatos nela registrados e opinião de estudiosos do texto bíblico.  Com o objetivo de alcançarmos o significado espiritual das escrituras, capaz de gerar idéias e ações  que possam  melhorar o mundo.


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