terça-feira, 24 de julho de 2012

COMUNHÃO TOTAL

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Memorial Ucraniano_Parque Tingüi_Curitiba_PR_Brasil_Edésio Ferreira Filho

Parque Tingüi – Memorial Ucraniano: Curitiba, PR, Brasil.

 

 

COMUNHÃO TOTAL

 

                    Albert Nolan

 

No contexto atual, caracterizado pela busca do sagrado e pela sede de Deus, Nolan mostra que sem um enraizamento profundo na experiência de Deus, não teremos nada a dizer aos nossos contemporâneos e seremos impotentes diante dos desafios atuais.

 

Deus não só está mais perto de mim do que eu próprio, mas também é um comigo e com você. Há uma misteriosa comunhão total, ou ser um com, entre Deus e o nosso verdadeiro eu,  e a consciência dessa comunhão total ocupa o centro de qualquer experiência mística. É descrita de muitas maneiras diferentes: como Deus morando em mim, como eu estar cheio do Espírito de Deus, como união com Deus, como união de vontades, ou com qualquer coisa comparável à experiência de comunhão sexual, uma união de corpos.

Finalmente, porém, os místicos acham, sempre, todas essas descrições inadequadas. Daí que se encontrem descrições tais como a nossa deificação ou divinização, a nossa transformação em Deus*. Mestre Eckhart irá ainda mais longe ao dizer que a base de nosso ser é a mesma que a base do ser de Deus **. Lá bem no fundo somos um.

* A afirmação de Irineu sobre a deificação, “Deus tornou-se homem para que os homens possam tornar-se Deus”, tem sido citada por teólogos e autores espirituais ao longo dos séculos. Ver, ainda, 2Pd 1:4.

** Eckhart #13b, 117; e em muitos outros lugares.

Afirmações como essas deram origem a acusação de heresia. Estarão negando a diferença existente entre o Criador e a criatura, entre o Incriado e o criado, entre Deus e o mundo? O que importa, para a nossa prática espiritual de hoje, é que os místicos experimentaram uma comunhão, um ser um com Deus tão avassalador, que não há palavras, por muito exageradas que possam ser, capazes de descrever devidamente essa experiência.

De que serve a nós, então, a experiência de Jesus de ser um só com Deus? Aquilo que os discípulos e amigos de Jesus achavam tão extraordinário nele não era apenas o fato de ele tratar Deus como o seu abbá,  mas o fato de ele identificar-se com Deus.

Há uma forma possível de identificarmo-nos com Deus que é egocêntrica ao máximo. Mas isso se deve ao fato de ela ter por base uma imagem de Deus como ditador egocêntrico, que domina o mundo. Jesus identificou-se com um Deus humilde, compassivo, cheio de amor e de solicitude no serviço, e teve ousadia suficiente para falar e agir à semelhança desse tipo de divindade… isenta de qualificações.

Os discípulos e amigos de Jesus nunca tinham testemunhados nada de parecido. Durante anos, a partir de então, esforçaram-se para encontrar palavras que descrevessem a sua experiência de pessoa humana que parecia identificar-se plenamente com Deus. As gerações seguintes continuaram a esforçar-se ao longo de vários séculos de debate teológico. A nossa preocupação neste livro, porém, é conseguir encontrar uma forma de imitar Jesus, não de explicar quem ele é. Precisamos, para isso, desenvolver uma consciência mais profunda do nosso ser um com Deus.

Agua no deserto

 

 

Nós somos amados

A convicção básica de Jesus não era apenas de que Deus está próximo de nós, mas também de que Deus nos ama. Como já vimos, o amor incondicional de Deus constitui o fundamento da espiritualidade de Jesus. No entanto, se Deus é o mistério que engloba todo o resto, qual será o sentido desse amor para nós? Que quererá dizer que somos amados pelo mistério deslumbrante que está intimamente próximo de nós? Por ventura eu posso ser amado por um mistério, ou pelo mistério?

Posso começar por reconhecer que o mistério  em que vivo, me movo e existo não é, nem pode ser, hostil para mim. Eu faço parte do mistério. O mistério deu-me à luz. O mistério deve, portanto, estar mais preocupado comigo do que eu próprio e, se nós somos real e profundamente um, então eu não tenho nada a temer. Eu serei amado em cada momento e para sempre, em todas as circunstâncias. Nada poderá realmente fazer-me mal e, aconteça o que acontecer, será tudo para meu bem. Eu sou amado sem medida, porque sou um com o mistério total da vida.

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À medida que vou tomando consciência da proximidade  do mistério ao qual chamamos Deus, também me  torno consciente da impossibilidade de ser odiado e rejeitado. Se o mistério de tudo o que existe me odiasse e rejeitasse, estaria a odiar-se e a rejeitar-se a si próprio. Assim como eu sou desafiado a amar o meu próximo como a mim mesmo, também posso chegar a reconhecer que Deus me ama como o próprio eu de Deus. Nós somos, em certo sentido misterioso, um só. 

 

Albert Nolan nasceu em Cape Town (África do Sul) em 1934. Teólogo católico renomado desempenhou um papel significativo na luta contra o apartheid. Em 2003, foi agraciado com a Ordem de Luthuli, concedida pelo governo sul-africano por sua luta em prol de democracia e dos direitos humanos. O texto desta página faz parte do seu livro Jesus hoje: uma espiritualidade de liberdade radical – Edição Paulinas.

 

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Et tunc erit finis

(está tudo consumado)

 

O cristianismo somente tem sentido se mantiver viva a consciência de que é uma emergência a partir da presença do Filho do Pai em nosso meio, na força do Espírito e na permanente atuação do Pai. Ele ganha relevância na medida em que não deixa arrefazer o sonho de Jesus, guarda a memória de sua verba et facta, de sua gesta gloriosa e trágica, tenta concretizar o sonho em bens chamados do Reino, feito de amor, perdão, justiça, cuidado para com os pobres e total entrega ao Pai-Abba como quem se senta na palma da mão, mas principalmente se conseguir suscitar nas pessoas a consciência de que são, de fato e não metafóricamente, filhos e filhas no Filho do Pai e, por isso, irmãs e irmãs uns dos outros.

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Haverá dignidade maior que esta, a de sabermo-nos membros da família divina e de sermos também Deus, por participação?

 

Leonardo Boff foi professor de Teologia no Instituto Franciscano de Petrópolis, galardoado em 2001 com o Prêmio Nobel Alternativo da Paz, conferido pelo parlamento sueco. O texto selecionado para esta página é de seu livro Cristianismo: O mínimo do mínimo da Editora Vozes, 20011.

 

Nota: Os  textos COMUNHÃO TOTAL e ET TUNC ERIT FINIS  não representam necessariamente a opinião deste blog nem de nenhuma das igrejas do Movimento da Ciência Cristã. Foi publicado para  refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica. Conforme recentes  descobertas sobre fatos nela registrados e opinião de estudiosos do texto bíblico,  como objetivo de alcançarmos o significado espiritual das Escrituras.

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PARA REFLETIR:

 

Criador. O Espírito; a Mente; a inteligência; o divino Princípio vivificador de tudo o que é real e bom; a Vida, a Verdade e o Amor auto-existentes; aquilo que é perfeito e eterno; o oposto da matéria e do mal, que não tem Princípio; Deus, que fez tudo o que foi feito e que não poderia criar átomo ou um elemento que fosse o oposto dEle mesmo. CS 583:2127

Jesus. O mais alto conceito humano e corpóreo da ideia divina, que repreende e destrói o erro e traz à luz a imortalidade do homem. CS 589:16-18

Cristo. A divina manifestação de Deus, que vem à carne para destruir o erro encarnado. CS 583:12-13

Deus.  O grande EU SOU; Aquele que tudo sabe, que tudo vê, que é todo atuante, todo-sábio, a tudo ama, e que é eterno; Princípio; Mente; Alma; Espírito; Vida; Verdade; Amor; toda a substância; inteligência. CS 587:6-9

Filhos. Os pensamentos e representantes espirituais da Vida, da Verdade e do Amor.  CS 582:29-30

Filho. O Filho de Deus, o Messias ou Cristo. O filho do homem, o rebento da carne. “O filho de um ano”.CS 594:16-17

 

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