domingo, 8 de julho de 2012

A REVOLTA DE CORÉ

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Conteúdo desta página

Comentário sobre relato bíblico:

   A REVOLTA DE CORÉ, DATÃ E ABIRAM: Números 16 e 17

Geografia bíblica: 

    RIO GIOM

Para refletir:

   - Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy

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Comentário sobre relato bíblico:

 

A REVOLTA DE CORÉ,

DATÃ e ABIRAM:   

Números 16 e 17

 

                                    Vicente Artuso

 

Números 16 e 17 -  trata-se de uma narrativa de conflito das lideranças(Nm 16) e do povo contra Moisés e Aarão (Nm 17), a qual termina com castigo dos revoltosos e a confirmação de Aarão como líder do povo. Essa narrativa deixa claro que sua intenção era atemorizar aqueles que ousassem ficar contra a autoridade de Aarão, o qual, nessa história, representa o sumo sacerdote pós-exílio. 

O enredo foi escrito do ponto de vista daqueles que estão no poder. E, ao contrário do que aconteceu em Ex 3:7-8, Deus aparece aqui do lado das autoridades e não escuta o clamor do povo. Enfim, as relações entre povo e lideranças mostram-se muitas vezes conflitantes, e nem sempre as soluções são justas e democráticas.

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Referência ao grupo que participou da revolta  de Coré

em Números 26: 33 e 27:1-7 

 

33.  …Zelofeade, filho de Hélfer, não tinha filhos, senão filhas.

1. Então vieram as filhas de Zelofeade,

2.  Apresentaram-se diante de Moisés, e diante de Eleazar, o sacerdote, e diante dos príncipes, e diante de todo o povo, à porta da tenda da congregação, dizendo:

3. Nosso pai morreu no deserto e não estava entre os que se ajuntaram contra o Senhor no grupo de Coré; mas morreu no seu próprio pecado e não teve filhos.

4. Por que se tiraria o nome de nosso pai do meio da sua família, portanto não teve filhos? Dá-nos possessão entre os  irmãos de nosso pai.

5. Moisés  levou a causa delas perante o Senhor.

6. Disse o Senhor a Moisés:

7. As filhas de Zelofeade falam o que é justo; certamente, lhes darás possessão de herança entre os irmãos de seu pai e farás passar a elas a herança de seu pai.

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Revelação de crise nas relações

entre povo e liderança

 

A  história da revolta de Coré, Datã e Abiram revelou fortes conflitos contra a autoridade e formas dramáticas de repressão a ponto de extinguir qualquer possibilidade de reação dos filhos de Israel que restaram do castigo.

A comunidade é organizada com líderes na base popular. Mas, como são classificados dentro de uma hierarquia, devem submeter-se a um poder centralizado que encontra sustentação no princípio de que o líder é o eleito que encontra sustentação no princípio de que o líder é o eleito de Deus.

A ideologia da santidade é interpretada como separação entre leigos, levitas e sacerdotes. Cada um desses grupos não pode violar seus espaço que delimita o campo de sua atuação. O sumo sacerdote é separado dentre os demais para aproximar-se de Deus sumamente santo e atuar no ministério da tenda do encontro como mediador entre Deus e a congregação.

santuario-tenda

 

Nesse sistema, o culto se tornou instrumento para legitimar a posição e a função privilegiada do sumo sacerdote, o qual é colocado próximo de Deus e não deve ser ameaçado por murmurações e revoltas. Qualquer irregularidade fora dos espaços de atuação de cada ministério atrai a ira divina.

Essa era a ideologia dos membros da hierocracia[teocracia] pós-exílica para assegurar o governo sobre o povo. Somente a vara de Aarão, que representa o sumo sacerdote, é colocada na tenda do testemunho  (cf. Nm 17:25). Diante dele todos estão  prestes a perecer para sempre (cf. Nm 17:26-28). O final dessa história encontra uma semelhança significativa com o final do apólogo de Jotão, na voz do espinheiro que ameaça as árvores. Elas devem abrigar-se sob sua sombra, do contrário pode vir o fogo do céu e devorar até os cedros do Líbano(cf. Jz 9: 14-15).

Ninguém, por mais forte que seja, entre o povo (o cedro era a árvore mais forte) poderá enfrentar o poder do rei (espinheiro),  que invoca o fogo do céu para  queimar os insubmissos. Em nosso texto, a situação vivida pelos filhos de Israel no final da história também é  de submissão absoluta (cf. Nm 17: 26-28). A ênfase dada à debilidade dos filhos de Israel, sem força de reação, mostra como  o sumo sacerdote, simbolizado na vara de Aarão, tinha plenos poderes sobre a comunidade.

sacerdote

 

O poder parece consolidado sem perspectiva de mudança. Vence o grupo da instituição sacerdotal, na aposta sobre quem seria o escolhido.Tanto no relato do castigo de revoltosos, em 16:16-35, como em 17:9-15, Moisés e Aarão permaneceram sempre vivos na entrada da tenda do encontro e somente pessoas do povo pereceram como culpados. Portanto, na “queda-de-braço”, o poder dos grupos populares perdeu o confronto. Não se notam perspectivas de mudanças em favor de um diálogo com grupos de oposição ao poder. Os lideres de oposição foram aniquilados, permanecendo os filhos de Israel que sobraram muito enfraquecidos e vencidos pelo medo.

Do ponto de vista literário, Nm 16 e 17, inserido na parada do povo em Cades, forma um paralelo com Nm 12, que também apresenta a temática do conflito contra autoridade. Nm 16 e 17  e Nm 12 são textos que formam a moldura de Nm 13 e 14 que trata da revolta e conspiração do povo e morte daquela geração do êxodo. Esses blocos literários no centro da marcha do povo do Sinai, passando por Cades até Moab (cf. Nm 10; 21), relatam que a crise do projeto de uma sociedade mais igualitária do êxodo é essencialmente uma crise de autoridade.

Houve rebelião do povo em relação aos líderes Moisés e Aarão, como também Moisés e Aarão colocaram o projeto em crise, porque eles próprios se colocaram sobre a assembleia de YHWH (cf. Nm 16:3). Moisés é acusado de se transformar em príncipe totalitário sobre todos outros líderes (cf. Nm 16:13-14). Esse sistema revela características da dominação do Faraó, porque produz a morte no interior da comunidade. A situação é expressa na queixa irônica de Datã e Abiram contra Moisés: ”Nos fizeste subir de uma terra que mana leite e mel, para fazer-nos morrer no deserto?” (Nm 16:13).

O movimento da marcha do êxodo parou na crise de Cades, quando o povo não mais acreditava na autoridade de Moisés e também porque sua liderança se tornava um peso para alguns membros do povo.

Assim, o movimento que deveria avançar rumo à libertação acabou seguindo a direção contrária, retornando à situação de escravidão como no Egito. Moisés é acusado de se tornar príncipe sobre o povo  (cf. Nm 16:13). Aqui não foi o povo que pediu um líder para ser como as outras nações (cf. 1Sm 8:5). Na verdade foi o líder que adotou práticas autoritárias (cf. Nm 16:13b) à semelhança das nações que dominam.

Essa organização da comunidade é imposta por um grupo sacerdotal que se considera herdeiro  da promessa. Essa situação é vivida pela comunidade pós-exílica. Diante das revoltas do povo, o castigo é justificado por ideologias que culpam aqueles que se revoltam como os únicos responsávies pela crise, enquanto “o eleito” e seu grupo são imunes, pois estão mais próximos de Deus. É de Deus que o rei recebe o poder, e não do povo.

Por isso, qualquer revolta contra o rei é considerada uma revolta contra Deus, que o estabeleceu no poder, sem nenhum outro concorrente. Essa corrente teológica acaba por legitimar todos os atos do soberano sem o confronto com a comunidade, reproduzindo um sistema totalitário em nome de Deus. Isso contradiz o projeto do êxodo, pois acaba gerando escravidão, medo e morte.

No contexto mais amplo da marcha rumo à terra prometida, Nm 16 e 17 pode ser interpretado também como uma história de conflito de autoridade que nega a validade de forma autoritária de dirigir a comunidade por meio da repressão violenta contra os revoltosos. 

Com efeito, Nm 16 e 17 termina com a derrota absoluta dos opositores e a total submissão dos poucos que sobraram. E não consta nos relatos que houve paz no meio do povo, como se poderia esperar de um enredo de conflito-solução; o que houve foi pacificação com meios repressivos.  Esse detalhe desautoriza a prática autoritária para reprimir as revoltas. Com  efeito, os meios adotados para extinguir as revoltas contra autoridade foram apenas parcialmente eficazes. 

moises arao

 

Em Nm 20:2-3, o povo novamente voltou a revoltar-se contra Moisés e Aarão. A forma de repressão das revoltas ajudou a frear a marcha rumo à libertação e acentuou as crises. Nesse quadro sombrio da história, o povo não é livre, mas caminha sobre o regime do medo; os líderes maiores se colocam acima da assembleia; YHWH se revela ao lado dos líderes e contra aqueles que protestam. 

Trata-se de uma situação que destoa do projeto de uma sociedade mais igualitária conforme a proposta libertadora do êxodo. Nessa revolta quem venceu foi o mais forte; o mais fraco foi aniquilado, e aqueles que restaram se renderam enfraquecidos.

O leitor que se identifica com o grupo da resistência irá concluir que o medo venceu a esperança. Mas as medidas repressivas do castigo não devem ter aniquilados a força que ainda resta no meio do povo. A indignação ética mesmo oculta, em meio a grupos de menor expressão, poderá reiniciar nova luta, com a solidariedade dos dispersos que sobraram.

Se os fortes somam forças, os fracos criam outras forças e podem reagir a qualquer momento. Assim, uma leitura da história, na ótica dos grupos que se revoltaram contra Moisés e Aarão, revela a indignação ética dos oprimidos. Eles fazem valer seus direitos do povo liberto de se manifestar e de se levantar contra a postura autoritária dos líderes cuja prática era contraditória com os princípios de uma organização mais democrática. 

 

Vicente Artuso (1952), padre capuchinho, é  mestre em Ciências Bíblicas e doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica  do Rio (PUC-Rio, 2007),  autor de “A revolta de Coré, Datã e Abiram (Nm 16 e 17)”: Revelação de crise nas relações entre povo e liderança – Editora Paulinas, 2008.

 

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Geografia bíblica: 

 

Rio Giom

 De acordo com a Bíblia, o rio Giom  (na tradução de Almeida) rodeava a terra de Cush. Ele é o segundo dos quatro rios resultantes da divisão do rio que passava pelo Jardim do Éden, sendo os demais Pisom, Tigre e Eufrates.

Flávio Josefo identifica o rio Giom com o rio Nilo, e Pisom com o rio Ganges.

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Atualmente, não é possível identificar este rio com certeza. Não parece provável, pelo menos dum ponto de vista geográfico, que "a terra de Cuxe" mencionada aqui represente a Etiópia, conforme ocorre frequentemente em relatos posteriores.

Alguns lexicógrafos associam "a terra de Cus" de Gênesis 2:13 com os cassitas (em acadiano: kassu), um povo do planalto da Ásia central, mencionado em antigas inscrições cuneiformes, mas cuja história continua bastante obscura.

 

Bibliografia: Bíblia; Apostila de Geografia bíblica - ITB - Instituto Teológico Betel do ABCD; Estudo Perspicaz das Escrituras, volume 2, página 223.


Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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PARA REFLETIR:

 

GIOM(rio). Reconhecimento moral, civil e social dos direitos da mulher. CS 587:4

Um só Deus infinito, o bem, unifica homens e nações; constitui a fraternidade dos homens; põe fim às guerras; cumpre o preceito das Escrituras: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”; aniquila a idolatria pagã e a cristã – tudo o que está errado nos códigos sociais, civis, criminais, políticos e religiosos; estabelece a igualdade dos sexos; anula a maldição sobre o homem, e não deixa nada que possa pecar, sofrer, ser punido ou destruído. CS 340: 23

CS = Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras – Mary Baker Eddy

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